Muitos são os obstáculos a superar por Corto Maltese, mas por trás desta viagem labiríntica há uma demanda que é tanto do herói como do seu criador. Depois de acabar a aventura helvética de Corto Maltese, Hugo Pratt hesitou na escolha do tema da aventura seguinte. Uma das possibilidades era levar o marinheiro até à Indonésia naquela que poderia ser a continuação de “A Juventude de Corto”. Outra era a Guatemala, palco da pesquisa de uma cidade antiga. No entanto, o artista italiano acabaria por se decidir por uma história sobre o continente Mû. Publicada pela primeira vez na revista italiana “Corto Maltese” entre Dezembro de 1988 e Junho de 1989 (primeira parte), e de Janeiro a Setembro de 1991 (segunda parte), esta BD conhece agora a sua estreia em Portugal. O segundo volume é distribuído hoje com o PÚBLICO.
Corto Maltese encontra-se rodeado por alguns dos seus amigos de outras aventuras com o objectivo de trazer à luz do dia os segredos do continente perdido da Atlântida – é o caso de Tristan Bantam, do professor Jeremiah Steiner, de Boca Dourada, de Soledad, de Levi Columbia e de Rasputine. Mas está escrito algures que o caminho a percorrer é sempre uma experiência rigorosamente individual. Por isso, não surpreende que o herói perca de vista os demais personagens e se veja rapidamente confinado aos estranhos caminhos do seu labirinto exterior e interior. Há nesta parte da aventura diversos obstáculos a superar – areias movediças, um caimão gigantesco, guerreiros índios e homens-escorpiões.
Mas por trás desta viagem há uma demanda que é tanto do herói como do seu criador: “Procuro a verdade, mas sei que nunca a atingirei completamente. Se algum dia pensar que a atingi, terei de dizer a mim mesmo que tal não é possível, que alguma coisa me escapou e que devo continuar a procurá-la. Quem acredita deter a verdade é potencialmente perigoso – e é a principal razão pela qual desconfio sempre de todos os que professam uma religião. A verdade é inatingível e só podemos esperar aproximar-nos dela. Esse é o meu dogma.”
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