"Casablanca" de Michael Curtiz, 1942
Por RUI PEDRO VIEIRA
Quarta-feira, 24 de Novembro de 2004
Humphrey Bogart e Ingrid Bergman vivem a história de amor mais famosa do cinema
Um elenco perfeito, com Humphrey Bogart pela primeira vez na pele de um herói romântico de coraçao despedaçado por Ingrid Bergman, e uma paisagem exótica do Norte de África a contrastar com um clima de guerra. "Casablanca" (1942) tornouse na mais lendária das histórias de amor, um poema em forma de filme que se revelou numa fonte de referencias dramáticas.
A indústria de Hollywood ficou surpreendida ao perceber que até um projecto de custos reduzidos e alvo de uma produçao atribulada, com as filmagens a começarem quando o argumento ainda nao estava completo, se podia tornar no mais amado dos melodramas, em que cada cena, cada diálogo e até uma simples melodia ("As time goes by") figuram no álbum das grandes recordaçoes do cinema clássico. O realizador Michael Curtiz criou uma obra nebulosa, densamente marcada pela nostalgia e pelo desejo de concretizar algo impossível: a paixao entre Rick (Bogart) e Ilsa (Bergman), que nunca esqueceram os dias que passaram em Paris. O romance foi intenso, mas conheceu um desfecho abrupto e é na mais carismática cidade de Marrocos que esse passado arrebatador, mal resolvido, volta para ensombrar os protagonistas.
O tempo é agitado: a Europa está sob ameaça do regime nazi e só a América, a "terra prometida", pode restituir o conforto de quem pretende viver em liberdade Casablanca torna-se neste período "armadilhado", num local de fuga para os resistentes e contestatários do fascismo.
Rick é dono de um "nightclub" e é neste espaço de vícios, quando todos os movimentos pareciam ser controlados por alguém, que vai reencontrar Ilsa, agoraa uma mulher amargurada. Para quem já nao estava a espera de uma recepçao calorosa e apaixonada, Rick confirma que as circunstâncias mudaram. Está nass uas maos ajudar a amada e o seu marido (Paul Henreid), um membro da resistencia, a conseguirem contornar a repressao e a entrarem num aviao para Lisboa de onde, mais tarde, partirao para os Estados Unidos. Mas nao vai ser fácil concretizar a missao, porque Rick e Ilsa nao esqueceram o que se passou em Paris. "Sei que nunca mais vou ter força para te deixar outra vez", confessa a protagonista naquele que é um dos diálogos mais famosos de todos os tempos.
"Casablanca" foi distinguido com tres Óscares (incluindo o de Melhor Filme e de Melhor Realizador) e nunca mais abandonou os lugares de topo dos mais importantes filmes que Hollywood alguma vez criou - mesmo que, durante as filmagens, Bogart nao simpatizasse com Bergman e estivesse constantemente a receber telefonemas da mulher, Mayo, com ciúmes dos olhares apaixonados que os dois actores trocavam quando as câmaras estavam ligadas. Este contraste entre a ficçao exemplar e a realidade desajustada relembra, mais uma vez, o poder da magia do cinema.