A grande aventura de "King Kong",
Por RUI PEDRO VIEIRA
Quarta-feira, 21 de Outubro de 2004

Neste clássico assombroso, que deu a conhecer ao mundo um gorila gigante, a rodagem de um filme exótico transforma-se numa perseguiçao até ao topo do Empire State Building

O nome escolhido pelo realizador Merian C. Cooper foi o de "Kong", que quer dizer gorila em malaio. Contudo, os produtores consideravam o termo demasiado oriental e redutor perante a grandiosi-dade de um protagonista peludo e assustador. Para popularizar a lendária perso-nagem, acrescentou-se o adjectivo de "King" e o resultado foi o maior exito cinematográfico até a data da sua estreia, em 1933.

"King Kong" foi um investimento luxuoso para uma época de contençao e acabou por salvar o estúdio RKO Pictures da bancarrota. A fórmula deste sucesso, demasiado arrojado para a linha tradicional dos filmes de Hollywood, deveu-se a combinaçao de géneros narrativos (onde há espaço para a acçao, o terror, a fantasia e o romance) e aos efeitos visuais únicos, capazes de dar movimento a criaturas pré-históricas.

A história da "oitava maravilha do mundo", como também ficou conhecido King Kong, inicia-se com o projecto de rodagem de um filme de aventuras dentro do próprio filme. Robert Armstrong dá vida ao ambicioso realizador Carl Denham, que planeia uma expediçao até Skull Island, a misteriosa ilha que nao vem nos mapas, mas que parece esconder surpresas exóticas. Para tal, contrata a desconhecida actriz Ann Darrow (num desempenho memorável de Fay Wray, a "scream queen" dos anos 30) e promete-lhe "dinheiro, aventura e fama".

O que a equipa de filmagens nao contava era com a presença do mais imponente e assustador gorila de todos os tempos, que revela uma estranha fixaçao por Darrow. O habitante sobrenatural nao é espécie única, porque no bosque de Skull Island a evoluçao das espécies parece seguir uma linha antagónica a do mundo real. Denham, apesar de descartar a rodagem do filme que havia planeado, decide levar King Kong para Nova Iorque, conduzindo a acçao para o final mais célebre do cinema clássico - o momento em que o gorila trepa até ao topo do Empire State Building.

Nesta aventura genuína, sobressaem os efeitos especiais de Willis O'Brien (baseados na técnica de movimento "stop motion") por permitirem combinar bonecos de pequenas dimensoes com personagens de carne e osso. O sucesso serviu de inspiraçao para outras obras do mesmo estilo, criando mais espaço para os filmes de aventura e terror.

Em 2005, o realizador da trilogia de "O Senhor dos Anéis", Peter Jackson, promete um "remake" colossal desta história, com Naomi Watts a reviver o papel mais marcante da carreira de Fay Wray. Para Jackson, que viu o filme "King Kong" quando tinha apenas nove anos, a emoçaso que sentiu no primeiro visionamento convenceu-o de que o seu futuro estava na 7a arte. E sabe que será muito difícil repor o fascínio da obra original, realizada pela dupla Merian C. Cooper e Ernest B. Shoedsack.

 
"O Mundo a Seus Pés"
DE ORSON WELLES

"Um clássico que revolucionou a indústria artística, nos seus reflexos de testemunho e de onirismo. A partir dele, nada se adiantou - sobre os desígnios do poder, a influencia dos meios de comunicaçao, a vagabundagem visionária, os mistérios e os fantasmas da infância..."
"As Duas Feras"
DE HOWARD HAWKS

"O exemplo perfeito das 'screwball comedies', num requinte de ambiguidades morais e sexuais. Um prodígio quanto a narrativa e ao diálogo, ao tempo de acçao, aos efeitos de surpresa, ao absurdo dos artifícios, ao carisma extravagante dos intérpretes."
"Os Dominadores"
DE JOHN FORD

"Uma vibrante celebraçao da saga 'western', tendo John Wayne num dos seus mais formidáveis desempenhos, com a fenomenal reavaliaçao de Ford, em que ao envolvimento de massas se recorta, afinal, o vulto solitário dos protagonistas."
"King Kong"
DE MERIAN C. COOPER E
ERNEST B. SCHOEDSACK


"Épico do terror-fantástico, e um dos clássicos primordiais de culto, mantém um sortilégio essencial: em magia, exotismo, aventura, 'suspense', pulsao erótica em que se transcende o mito entre a bela e o monstro. Eis o espectáculo virtual por excelencia."