"Os Dominadores", de John Ford
por RUI PEDRO VIEIRA

John Wayne é um capitão a beira da reforma neste clássico onde ainda reina a lei da bala

Apesar da paisagem imensa e pacífica, em que os vales com pouca florestação contrastam com um céu limpo e luminoso, o clima é instável. A Sétima Cavalaria sofre um novo desaire na batalha de Little Big Horn, com mais de duas centenas de vítimas. Na introduçao de "Os Dominadores/She Wore a Yellow Ribbon", o terceiro DVD da colecçao Clássicos Público, lê-se que os índios "Sioux e Cheyenne estão em pé de guerra". Cabe agora ao capitão Nathan Brittles (John Wayne) inverter o cenário pouco amistoso, mesmo que se encontre apenas a seis dias da reforma.

"Ainda não sei o que vou fazer, mas não me imagino numa cadeira de baloiço", confessa o protagonista. De lenço ao pescoço e uniforme azul escuro, Brittles reflecte sobre o seu derradeiro desafio, enquanto fuma um cachimbo. Acaba por liderar um regimento e conduzi-lo para norte, mas a ordem de escoltar também a mulher e a filha de um influente militar, o major Allshard (George O'Brien), pode fragilizar ainda mais o sucesso da jornada.

O título original de "Os Dominadores" (1949) alude à fita amarela que as namoradas dos soldados usavam, enquanto estes estavam em serviço. O pormenor vai ganhando importância, porque esta é uma história em que duas mulheres entram e participam num "território de homens" - a jovem Olivia (Joanne Dru) é a responsável por um triângulo amoroso entre dois influentes oficiais que pode dividir a patrulha. E só a personagem interpretada com o talento irrepreensível de John Wayne tem autoridade para lutar pela coesão do grupo.

Neste espaço onde os instintos não toleram a falha, os dilemas de consciência podem ser tão perigosos quanto a ameaça índia. Nathan Brittles está preso a solidão - assustado com a reforma, depois de uma vida passada no campo de batalha - e, do mesmo modo que usa uma espingarda sem pensar duas vezes, nao dispensa o hábito de confessar-se junto a sepultura da mulher.

"Os Dominadores" (1949) é o único filme a cores da trilogia dedicada a Cavalaria norte-americana, que John Ford imortalizou com mestria (os outros dois capítulos sao "Forte Apache" e "Rio Grande"). A fotografia de Winton C. Hoch acabou mesmo por receber um Óscar.

No "western", género que tem vindo a perder peso nas últimas décadas, Ford criou poderosas metáforas em que o confronto físico serve de reflexao para o papel do homem na História. John Wayne é o responsável pela personificação deste desejo e, graças a imagem do herói duro de bom coração, tornou-se num mito. Como Nathan Brittles, ficou célebre uma expressão repetida várias vezes, símbolo do seu carácter irredutível: "Não peças desculpa. Isso é um sinal de fraqueza."

 
"O Mundo a Seus Pés"
DE ORSON WELLES

"Um clássico que revolucionou a indústria artística, nos seus reflexos de testemunho e de onirismo. A partir dele, nada se adiantou - sobre os desígnios do poder, a influencia dos meios de comunicaçao, a vagabundagem visionária, os mistérios e os fantasmas da infância..."
"As Duas Feras"
DE HOWARD HAWKS

"O exemplo perfeito das 'screwball comedies', num requinte de ambiguidades morais e sexuais. Um prodígio quanto a narrativa e ao diálogo, ao tempo de acçao, aos efeitos de surpresa, ao absurdo dos artifícios, ao carisma extravagante dos intérpretes."
"Os Dominadores"
DE JOHN FORD

"Uma vibrante celebraçao da saga 'western', tendo John Wayne num dos seus mais formidáveis desempenhos, com a fenomenal reavaliaçao de Ford, em que ao envolvimento de massas se recorta, afinal, o vulto solitário dos protagonistas."
"King Kong"
DE MERIAN C. COOPER E
ERNEST B. SCHOEDSACK


"Épico do terror-fantástico, e um dos clássicos primordiais de culto, mantém um sortilégio essencial: em magia, exotismo, aventura, 'suspense', pulsao erótica em que se transcende o mito entre a bela e o monstro. Eis o espectáculo virtual por excelencia."