Eleições presidenciais 2011

Análise

Será Fernando Nobre a galinha das sondagens?

20.01.2011 - 21:38 Por Miguel Gaspar

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Num país que enfrenta a crise mais profunda dos últimos 30 anos, a campanha presidencial dificilmente deixaria de ser uma nota de rodapé dos cortes salariais, dos juros galopantes da dívida, do fantasma do FMI. Foi o que aconteceu. Nenhum dos candidatos na corrida tinha uma ideia que valesse ser ouvida pelos cidadãos. Nenhum tinha nada a acrescentar ao que já dissera ou deixara por dizer nos meses da pré-campanha.
Hugo Correia/Reuters

O único tema da campanha acabou por ser a relação de Cavaco com o SLN, por via das acções que comprou e vendeu e agora da casa de férias em Albufeira. O candidato-Presidente pagou um preço alto por estas alegações que eventualmente irá sentir mais depois das eleições. Mas o BPN foi a prova de que campanha não passou de uma nota de rodapé da crise. O país esteve ausente da campanha e os candidatos não tiveram força para contrariar a indiferença. Cavaco já não entusiasma a direita tal como Alegre deixou indiferente boa parte da esquerda que queria federar. Votará quem se contentar com o mal menor. A campanha eleitoral nunca existiu.

As últimas sondagens e barómetros relativos às eleições presidenciais apontam para a reeleição de Cavaco Silva à primeira volta. Tem sido essa a tendência ao longo dos últimos meses. O veredicto que é possível extrair do barómetro da TSF, divulgado quarta-feira, e da sondagem da TVI/Intercampus, conhecido na noite de quinta-feira, é que apenas um conjunto de circunstâncias excepcionais tornará possível uma segunda volta. É o cenário em que temos vivido desde o período da pré-campanha. Portanto, em princípio nada de novo na frente das sondagens. Mas vale a pena ampliar as oscilações para tentar compreender como estão os eleitores a reagir à campanha. Isto, claro, tendo presente que ninguém está a prestar muita atenção ao impacto que a abstenção poderá ter nos resultados finais.

A nota dominante que se retira da evolução da sondagem da Intercampus é uma quebra de seis pontos das intenções de voto em Cavaco Silva (de 60 para 54 por cento) e de três das intenções de voto em Manuel Alegre (de 25 para 22). Ao mesmo tempo, verifica-se uma recuperação de Fernando Nobre para os valores perto dos dez por cento, em que esteve no início do ano passado, antes de baixar para a casa dos quatro a cinco por cento. A subida de Nobre é também atestada no barómetro da TSF, que dava a Alegre um valor muito abaixo do da Intercampus (15 por cento).

Haverá uma ligação entre a descida de Cavaco e Alegre e a subida de Nobre? Parece plausível. Se assim for, a culpa será do BPN – prejudicando Cavaco mas fazendo um efeito boomerang em Alegre – ou da austeridade e dos cortes salariais?

Um gráfico onde tem conjugado os resultados das várias sondagens que o investigador Pedro Magalhães tem publicado no seu site Margens de Erro mostra que existe um declínio progressivo das intenções de voto em Alegre e Cavaco desde o Outono. Esta evolução significaria o momento em que a onda da crise começou a atingir os dois candidatos. Mas a recuperação de Nobre começa depois, já quando o BPN se tinha tornado o leitmotiv da campanha.

A conclusão mais curiosa é a de que o BPN não está só a atingir Cavaco. E que no meio do ruído a que está reduzida a campanha, alguma coisa sobrou para Nobre. Pode ser que esteja a fazer o papel da galinha com um pedaço de pão na boca que era perseguida por um rapaz num campo de refugiados de que o candidato-médico falou num debate televisivo. E talvez Cavaco e Alegre precisem como pão para a boca que Nobre tenha um bom ou mau resultado, respectivamente.

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