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OS ANIMAIS DO PRESÉPIO

Salve, reino animal:
todo o peso celeste
suportas no teu ermo.

Toda a carga terrestre
carregas como se
fosse feita de vento.

Teus cascos lacerados
na lixa do caminho
e tua cauda zonza.
teu pêlo matizado.

tua escama furtiva
as cores com que iludes
teu negrume geral,
ter voo limitado
teu rasto melancólico,
tua pobre verónica
em mim que nem pastor
soube ser ou serei
se incorporam num sopro.

Para tocar o extremo
de minha natureza,
limito-me: sou burro.

Para trazer ao feno
o senso da escultura,
concentro-me: sou boi.

A vária condição
por onde se atropela
essa ânsia de explicar-me

agora se apascenta
à sombra do galpão
neste sinal: sou anjo.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
in "Antologia Poética", 11ª ed.
1962.

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