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esquina-de-cima.gif (265 bytes)
logo-poema-texto-vertical.gif (1150 bytes) template SAUDADE E AMOR PERFEITO

Ainda agora penso em ti.
Faço-me um novo Encoberto
Sob a árvore em flor do luar.
E o meu pensamento, inquieto,
guiado pelo radar
receberás aí, em Haiti,
Como rosa que cai do ar.

Como fui te amar a ti,
ó agreste portuguesinha,
qual se ama uma andorinha?
Lembro-me bem da nossa teima
por causa da flor saudade
que cultivaste no peito
dizendo que sem saudade
não havia amor perfeito.

Expliquei-te que saudade,
como nas histórias de fada,
é uma flor que não existe.
Não se sabe como nasce.
E, quando nasce, consiste
num pequeno lusco-fusco
num sorriso luso-fusco,
num sorriso fogo-fátuo,
num prazer de ficar triste...

Ah, a saudade é um lusco-fusco?

E te foste para Haiti,
naquela manhã tão grave
(coisa que jamais previ)
e eu fiquei aqui, na Gávea;
nas hoje sinto a saudade
como não sentir quem há de.

Afinal, o que é saudade?
Seja aqui, seja em Haiti,
não é flor que nasce em vão
Nem é flor que cresça ao chão
como cresce o bogari.
Mas em sua flormorfose,
é também a mais antiga
forma de televisão.

Viajei pelo mundo todo,
pela China, pelo Indostão,
na cl'ave de sol da cantiga.
Porém, esta flor do peito
que dói mais quando vem tarde
(hoje te dou razão a ti)
me provou que sem saudade,
não há mesmo amor perfeito.

Seja aqui, seja em Haiti.

CASSIANO RICARDO
in "A Difícil Manhã"
Livros de Portugal
Rio de Janeiro, 1960
163 páginas

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