RESPOSTA A NATÉRCIA
Deixa-te disso, amiga,
não me pregues.
Amor é para mim um quimera;
em meu EM peito deserto não prospera
mais que a lei da razão, que tu não segues.
Bem percebo essas máximas
sublimes
que ostenta a gente fraca e que despreza
quem tem força, quem doma a natureza
e quem não quer passar de erros a crimes.
Faz embora elogios à
inconstância,
ama vinte, se queres, não me importa;
eu para criticar estou já morta...
Não conheces a minha tolerância?
Sou de composição
muito esquisita:
não creio nos amores desta terra
e declaro aos amantes maior guerra,
quando de amor minha alma necessita.
Quem vês tu que
mereça ser amado?
Qual do culto de amor digno hierofante
não terá, co'as fraquezas de inconstante,
os augustos mistérios profanado?
Amor em mim não
é qual o tu sentes,
um clamor, um tumulto dos sentidos;
eu tenho esses escravos submetidos
a leis mais elevadas, mais decentes.
Sinto amor como a terra
toda sente,
as forças que as mantêm, forças diversas;
amor me faz fugir de almas perversas,
por amor busco em vão uma inocente.
De opiniões cobardes
governados,
os homens hão-de rir destas doutrinas,
hão-de rir os peraltas e as meninas:
queres que adore um destes malcriados?...
MARQUESA DE ALORNA
in "Poemas do
Século XVIII"
Selecção,
prefácio e notas de Rodrigues Lapa, 1941
83 páginas
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