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SONETOS

Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a boca a bocejar, sombrios:
Deslizam vagarosos, como os Rios,
Sucedem-se uns aos outros, igualmente.

Nunca desperto de manhã, contente.
Pálido sempre com os lábios frios,
Oro, desfiando os meus rosários pios,
Fora melhor dormir, eternamente.

Mas não ter eu aspirações vivazes,
E não ter, como têm os mais rapazes,
Olhos boiando em sol, lábio vermelho!

Quero viver, eu sinto-o, mas não posso:
E não sei, sendo assim enquanto moço,
O que serei, então, depois de velho.

Não repararam nunca? Pela aldeia
Nos fios telegráficos da estrada,
Cantam as aves desde que o sol nada,
E à noite, se faz sol a Lua Cheia.

No entanto, pelo arame que as tenteia,
Quanta tortura vai, numa ânsia alada!
O Ministro que joga uma cartada
Alma que, às vezes, de Além-Mar anseia:

Revolução! Inútil. Cem feridos,
Setenta mortos. Beijo-te! Perdidos!
Enfim, feliz!!? Desesperado. Vem.

E as boas aves, bem se importam elas!
Continuam cantando, tagarelas:
Assim, António! deves ser também.

Falhei na vida. Zut! Ideais caídos!
Torres por terra! As árvores sem ramos!
Ó meus amigos! Todos nós falhamos...
Nada nos resta. Somos uns perdidos.

Choremos, abracemo-nos, unidos!
Que fazer? Porque não nos suicidamos?
Jesus! Jesus! Resignação... Formamos
No Mundo, o Claustro pleno dos Vencidos.

Troquemos o burel por esta capa!
Ao longe, os sinos místicos da Trapa
Clamam por nós, convidam-nos a entrar:

Vamos semear o pão, podar as uvas,
Pegai na enxada, descalçai as luvas,
Tendes bom corpo, Irmãos! Vamos cavar!


ANTÓNIO NOBRE
in "Só"

7ª ed., 1944
100 páginas
Fora do mercado

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