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A MINHA ROSA

Quem, se uma vez pôs os olhos
Naquela face tão bela,
Não viu nela — a sua estrela,
Rainha dos seus amores?
Em seus lábios um sorriso
É a luz do paraíso;
E o corar da face linda
É desabrochar de rosa
Que a manhã, com a sua vinda
Debruçou n´hástea mimosa
Para inveja das mais flores.
—Assim fora ela — singela
A minha rosa tão bela,
Nem mudasse assim amores
Como as outras folhas e cores!

PERFUME DA ROSA

Quem bebe, rosa, o perfume
Que do teu seio respira?
Um anjo, um silfo? Ou que nume
Com esse aroma delira?

Qual é o deus que, namorado,
De seu trono se ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?

— Ninguém? — Mentiste: essa frente
Em languidez inclinada,
Quem ta pôs assim pendente?
Dize, rosa namorada.

E a cor da púrpura viva
Como assim te desmaiou?
E essa palidez lasciva
Nas folhas quem tas pintou?

Os espinhos que tão duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
Tos desarmaram, ó rosa?

E porquê, na hástea sentida
Tremes tanto ao pôr do sol?
Porque escutas tão rendida
o canto do rouxinol?

Que eu não ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas águas desse retiro
Não espreitei a tua imagem?

Não a vi aflita, ansiada...
— Era de prazer ou dor? —
Mentiste, rosa, és amada,
E também tu amas, flor.

Mas ai! se não for um nume
O que em teu seio delira,
Há-de matá-lo o perfume
Que nesse aroma respira?

ROSA SEM ESPINHOS

Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa és tu sem espinhos?
Ai, que não te entendo, flor!

Se a borboleta vaidosa
A desdém te vem beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e é corar.

E, quando a sonsa da abelha,
Tão modesta em seu zumbir
Te diz: — "Ó rosa vermelha
"Bem me podes acudir:

"Deixa do cálix divino
"Uma gota só libar...
"Deixa, é néctar peregrino,
"Mel que eu não sei fabricar..."

Tu de lástima rendida,
De maldita compaixão,
Tu à súplica atrevida
Sabes tu dizer que não?

Tanta lástima e carinhos,
Tanto dó, nenum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai! que não t’entendo flor.


ALMEIDA GARRETT
Flores sem Fruto + Folhas Caídas
in "Folhas Caídas de Almeida Garrett"
Ed. SearaNova/Comunicação, 1979
132 páginas (esgotado)

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