O PÚBLICO e o
"Publico.pt"
Por JOAQUIM FIDALGO
Domingo, 9 de Setembro de
2001 Já por diversas vezes se me dirigiram leitores, estranhando deparar
com versões não coincidentes da mesma notícia no PÚBLICO/ edição impressa e no
PÚBLICO/ edição electrónica.
Dois exemplos: há meses, o leitor Carlos Coimbra, residente no Canadá, enviou-me cópia
de um pequeno texto que lera no PÚBLICO, via computador, e onde espantava tão grande
quantidade de erros em tão escassas linhas. Como teria aquele escrito escapado às
rotinas de revisão que, mesmo com falhas, vão funcionando no jornal? Consultada a
versão em papel do mesmo texto, verifiquei, porém, que todas as asneiras estavam
devidamente corrigidas.
Agora, o leitor Manuel Ivo Cruz manifestou-me a sua perplexidade por ver que um artigo
sobre a sua actividade artística, publicado no suplemento "Mil Folhas", vinha
inteiro na versão electrónica do PÚBLICO mas amputado de um trecho no jornal impresso.
"Quero anotar esta novidade do nosso jornalismo que inaugura o conceito, cheio de
potencialidades e subtileza, da publicação simultânea de diferentes versões dos
[mesmos] artigos", comenta, para acrescentar: "Parece-me prática perfeitamente
legítima, decorrente da diversa natureza dos 'media', mas devemos então ficar a saber
que o PÚBLICO on-line não corresponde estritamente ao PÚBLICO impresso?"
Curiosamente, o leitor dava à mensagem que me dirigiu o título: "O PÚBLICO virtual
e o concreto". A questão, como adiante se verá, é que ambos os
"PÚBLICOS" (o "real" e o "virtual") são concretos, embora
diversos nas formas que usam - e no próprio conteúdo informativo.
Misturam-se aqui duas questões diferentes, e parece útil explicá-las aos leitores. Por
um lado, temos percalços técnicos que fazem com que, involuntariamente, surjam on-line
textos do PÚBLICO não revistos; por outro lado, temos decisões, agora voluntárias, de
aproveitar o suporte electrónico para alargar a informação que, na versão impressa,
sofre limitações de espaço.
No princípio do on-line, em 1995, havia só um PÚBLICO, com a novidade de poder ser lido
por duas vias: papel (mediante a compra de um exemplar) ou computador (mediante acesso à
Internet). Electronicamente era distribuída apenas a versão única do jornal, e tudo
estava integrado na mesma empresa, sendo feito pelas mesmas pessoas.
A pouco e pouco, o PÚBLICO on-line foi-se desenvolvendo e autonomizando, criando, no
sítio "publico.pt", um conjunto de novos serviços informativos - o Última
Hora, por exemplo, com actualizações ao longo do dia - que iam para além do jornal
impresso. Este modelo aprofundou-se até ao momento em que o "público.pt" se
destacou totalmente do PÚBLICO: hoje trata-se de uma empresa autónoma, com uma
Redacção própria, com uma Direcção independente, e que disponibiliza aos utentes, via
Internet, um vasto conjunto de serviços. A versão diária do jornal PÚBLICO é apenas
um de entre esses muitos serviços que o "publico.pt" oferece, com base num
esquema de colaboração contratualizado entre ambas as empresas. Há ligações entre as
duas equipas, mas há também lógicas independentes.
Daí o dizer-se que temos, hoje, dois "PÚBLICOS".
Este esclarecimento não responde, todavia, às dúvidas acima apontadas. Se o
"publico.pt" disponibiliza, entre múltiplos serviços, a versão diária do
jornal PÚBLICO (aliás, fornecida por ele próprio ao "publico.pt"), seria
expectável que fosse coincidente com a de papel. E então?...
Nuns casos, temos os tais percalços técnicos. Eles ocorrem por causa da tramitação dos
textos no interior da Redacção. Em regra, um texto, depois de escrito pelo jornalista,
visto pelo editor da secção e revisto pelo serviço de "copy desks", é
enviado para a paginação (em papel) e, simultaneamente, para o suporte on-line. Ora, com
alguma frequência, é necessário proceder a alterações (nos títulos, no tamanho dos
textos, neste ou naquele pormenor) já em plena fase de paginação. Essas alterações
acabam por ser fixadas na edição em papel, mas podem não o ser na edição on-line,
para onde o texto foi enviado antes das ditas mudanças finais. E é este
"esquecimento" de revisão do texto enviado para o suporte on-line que faz com
que um escrito saia corrigido no papel mas gralhado na versão electrónica.
O ideal seria que só seguissem para o suporte on-line os textos depois de
"fechados" na sala de paginação mas, como explica o director-adjunto do
PÚBLICO, Nuno Pacheco, o sistema informático "não está configurado para isso, e
é pena". A coincidência das duas versões fica dependente de uma atenção
suplementar das pessoas: correcções de última hora introduzidas na versão papel teriam
que ser repetidas também no texto anteriormente enviado para o "publico.pt". E
isso nem sempre sucede.
Temos, entretanto, a outra situação que já não é acidental, mas deliberada. Volta
Nuno Pacheco: "Muitas vezes há textos que têm de ser cortados na paginação [por
razões de espaço] e, nesse caso, opta-se por manter na Internet a versão integral. Se
não houvesse on-line, os leitores jamais saberiam que parte da notícia (ou entrevista,
ou reportagem) tinha sido suprimida por exigências de espaço, o que é normal na
edição jornalística. Mas como há a possibilidade de manter versões integrais dos
textos noutro suporte (a net), achamos que isso pode ser benéfico para os leitores e não
o contrário".
Esta particularidade não é, aliás, exclusiva do PÚBLICO. Outros jornais, mesmo sem
edições electrónicas autónomas, decidem por vezes disponibilizar no seu ciberespaço,
por exemplo, o conteúdo integral de longas entrevistas que a edição em papel só
parcialmente dá. E o leitor é informado: se quiser ler trechos da entrevista que (por
razões de espaço e de lógica editorial) foram suprimidos, consulte a versão
electrónica do jornal. O mesmo se diga de documentos que são apresentados no jornal em
síntese jornalísticamente elaborada, e a cujo conteúdo integral se pode dar acesso via
computador. Trata-se, afinal, de aproveitar as especificidades de cada um dos suportes por
que é veiculada a informação, sendo que os constrangimentos e as virtualidades de um
não são os do outro.
Em resumo: o "publico.pt" é, hoje, uma entidade autónoma do PÚBLICO, sendo
que, entre outros serviços, disponibiliza também a versão diária do jornal. Aqui,
aceita-se que possa dar mais informação (a que não cabe no jornal-papel) mas convém
que os leitores disso sejam avisados. O que parece menos aceitável é que a versão
diária do jornal PÚBLICO oferecida (e apresentada como tal) através da Internet
contenha erros ou lapsos que foram, entretanto, corrigidos no papel. A tramitação dos
textos e o tal sistema informático que, segundo Nuno Pacheco, está na origem destes
acidentes técnicos, merecem uma revisão.
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