Sejamos Claros!
Por JOAQUIM FIDALGO
Domingo, 27 de Maio de
2001 Quando alguém fala com um jornalista, deve necessariamente partir do
pressuposto de que tudo o que lhe diga vai ser (ou pode vir a ser) utilizado em público?
Ou seja: tem de falar "como se" as suas palavras fossem sair no jornal?
Sabemos que, pelo menos em alguns casos bem tipificados, isso não é assim. No "off
the record", por exemplo, é consensual que um jornalista, assumindo o compromisso de
não utilizar algo que lhe seja contado em confidência, se manterá fiel à palavra dada.
No lado oposto, parece também evidente que, quando alguém é solicitado a dar uma
entrevista ou a prestar declarações formais, fica preparado para ler no jornal, no(s)
dia(s) seguinte(s), o todo ou parte do que disse. Mas estes são os casos simples. Mais
complexos são aqueles em que, não havendo qualquer compromisso explícito entre as
partes sobre os termos de uma conversa, se criam expectativas diferentes. E tanto pode a
pessoa contactada pelo jornalista ficar desiludida ao ver que ele não usou publicamente
nem um nadinha dos seus dizeres, como, pelo contrário, pode ficar surpreendida por ver
reproduzidas, em discurso directo, informações que fornecera a título informal.
Terá sido isto que sucedeu recentemente a Diana Andringa, não na qualidade de
prestigiada jornalista que lhe reconhecemos, mas na qualidade de "fonte de
informação" a propósito de uma questão envolvendo a empresa onde trabalha (a RTP)
e umas críticas feitas pelo ministro António Costa.
Solicitada por uma jornalista do PÚBLICO a prestar, telefonicamente, esclarecimentos que
lhe permitissem "perceber melhor algumas coisas" sobre o caso (recorde-se que as
críticas do ministro da Justiça motivaram uma "carta aberta" subscrita por
muitos profissionais da RTP), Diana Andringa lá foi respondendo às perguntas de modo
natural, espontâneo, com frases "de pura oralidade". Embora não tenha pedido
nenhum "off the record" e embora não renegue "nada do que disse",
ficou convencida que não estava a dar qualquer entrevista, mas tão só a colaborar com
uma jornalista que desejava "informar-se melhor para interpretar [os factos]" e
escrever o texto. No dia seguinte, porém, ficou "espantada" quando se viu
várias vezes citada, e "entre aspas", na notícia.
A autora do texto, Elizabete Vilar, é a primeira a admitir que pode ter havido lapso da
sua parte ao não ter deixado claro, na conversa com Diana Andringa, se as declarações
recolhidas se destinavam ou não a publicação. E, concordando com a regra atrás
exposta, lamenta ter suscitado, involuntariamente, este pequeno incidente. Aliás, ela
própria recordou ao provedor como, noutras situações, as pessoas até ficam desiludidas
por passarem tempo a falar com um jornalista e, depois, não verem no jornal nem o seu
nome nem ponta das suas declarações.
Não foi o caso de Diana Andringa, porventura também porque, sendo jornalista, ela sabe
bem como é frequente (e importante, quando se faz informação aprofundada, contextada,
do tipo da que o PÚBLICO cultiva) falar com muita gente só para perceber melhor as
coisas, para apreender os diversos cambiantes dos factos, para dominar os assuntos.
Recolher informação de "background", como se diz na gíria profissional (será
que o novíssimo dicionário da Academia das Ciências dá guarida a este tão arreigado
anglicismo?...).
O episódio em si não é grave, tanto mais que a "queixosa" não duvida da
seriedade de propósitos da jornalista do PÚBLICO (bem como da fidelidade com que ela
transcreveu o seu pensamento) e esta, por sua vez, reconhece a importância de deixar
claros os termos da conversa com qualquer fonte de informação. Trazemo-lo aqui apenas
para recordar o princípio profissional bem sintetizado nas palavras da própria Diana
Andringa: "É normal que cada pessoa que é contactada por um jornalista seja avisada
de qual a utilização que vai ser feita daquilo que diz".
Ainda não há muito tempo, um leitor queixava-se por ter visto citadas, pelo PÚBLICO,
partes de um seu depoimento alegadamente prestado ao jornal. Mas dizia não se recordar de
ter proferido quaisquer declarações. Na explicação que acompanhava a carta, veio a
perceber-se que tal depoimento estava integrado numa conversa (ou entrevista) feita já
há cerca de um ano e, ao que parece, num contexto diverso. Daí o facto de o referido
leitor já nem sequer se lembrar...
No fundo, está em causa o mesmo princípio: é bom que as fontes contactadas pelo
jornalista saibam sempre a que se destina esse contacto e que as palavras recolhidas não
sejam usadas para fim diverso do combinado nem em situação diferente da que lhe deu
origem.
É ainda de respeito pelo leitor que se fala, agora, a propósito de um assunto não
editorial mas que envolve também o PÚBLICO enquanto serviço (e a imagem de um jornal,
como há dias bem recordava a provedora do leitor do "Diário de Notícias",
Estrela Serrano, "está muito ligada a aspectos que não se prendem apenas com o seu
conteúdo jornalístico").
Chegaram ao provedor variadas queixas pelo facto de alguns CD-ROM's distribuídos pelo
PUBLICO como complemento promocional ao suplemento "Fugas" só serem
compatíveis com o sistema Windows e não com Macintosh. Pior, a informação constante
dos referidos produtos não era clara a esse respeito. E houve utilizadores de
computadores Apple que compraram os CD's para... nada!
Solicitado pela Direcção Editorial (que diz também só "a posteriori" ter
tido conhecimento do problema) a explicar-se, o departamento de "marketing" do
PÚBLICO lamenta o sucedido e promete "o maior cuidado" para que isto "não
se repita". Segundo se percebe, terá havido falhas de comunicação com o fornecedor
externo dos CD's e, quando se constatou que eles não eram compatíveis com computadores
Apple Macintosh, já as capas dos primeiros números estavam prontas. "A única
solução quanto aos exemplares já impressos era aceitar a devolução dos mesmos por
parte dos leitores, o que foi comunicado aos pontos de venda". garante o responsável
do "marketing", Nuno Franco, acrescentando que, quanto aos títulos ainda não
produzidos, já teria sido incluída a menção: "Não compatível com
Macintosh".
Mas a informação clara e inequívoca aos leitores sobre o produto que se está a vender
é só uma parte da questão; a outra (que, convenhamos, nos ultrapassa...) é saber da
justeza ou não de lançar um produto promocional que, independentemente das quotas de
mercado respectivas, exclui quem tem "Mac's" e não "PC's". Mesmo que
aqueles sejam minoritários, registe-se a ironia: o PÚBLICO é, precisamente, um jornal
que utiliza computadores Macintosh na sua redacção...
EM SÍNTESE
Fontes - Quem faz declarações a um jornalista deve saber claramente a que se destinam
Computadores - Quem compra um CD-ROM deve saber claramente onde pode utilizá-lo
Contactos do provedor do leitor:
Cartas: Rua João de Barros, 265 - 4150-414 PORTO
Telefones: 22-6151000; 21-7501075
Fax: 22-6151099; 21-7587138
E-mail: provedor@publico.pt
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