Escolher, Sim; Censurar, Não...
Por JOAQUIM FIDALGO
Domingo, 30 de Janeiro de
2000 De um leitor: "Seguramente, já enviei cerca de uma dezena de
textos (ou mais) dirigidos à secção 'Cartas ao Director' e nunca vi esses mesmos textos
publicados. É verdade. (...) Por isso é que desisti de enviar cartas para o PÚBLICO.
Mas não desisti de o ler todas as manhãs".
De outro: "Compreendo perfeitamente que a maioria das cartas não podem ser
publicadas, por serem muito extensas e por falta de espaço. (...) O meu reparo é só
este: no ano de 1977 foram publicadas 11 cartas [minhas]; em 1998, 15 cartas; e em 1999,
apenas seis".
E de outro: "Aproveito para informar, não para me queixar, de que há, talvez
oculto, um 'index'. E o meu nome está lá. Porquê? Por algumas cartas que escrevi (...).
Dir-me-á: não há lista negra nenhuma. Pois bem: ultimamente, se quero ver publicada uma
carta minha, só pedindo a pessoas de família que a assinem por mim".
E de mais outro: "É evidente que é possível surgirem cartas que, pela sua forma
ou pelo seu conteúdo, não devam ser publicadas. Mas é também evidente que há leitores
no 'index' do Director e que eu sou um deles. (...) E é claro que quando entrei a
comentar, sempre educadamente, o recente e virulento neo-liberalismo do Director, me
tornei 'persona non grata'".
Como se vê, continuam a afluir ao provedor reclamações de leitores que não vêem as
suas cartas (todas ou algumas) publicadas. E, embora em menor escala, também surgem
lamentos pelo rigor da selecção ou pela escassez do espaço destinado a artigos de
opinião que não sejam os dos colunistas habituais do PÚBLICO.
Como algumas das citações bem demonstram, esta não é uma questão fácil de gerir.
Trata-se, as mais das vezes, de tentar "meter o Rossio na Betesga", publicando,
de todo o correio que chega, uma amostragem significativa, mas ao mesmo tempo susceptível
de cativar o maior número possível de leitores (seja pelo interesse dos escritos, seja
pela actualidade das temáticas, seja pela sua diversidade, seja até pela abrangência em
termos geográficos, de modo a dar ecos de todo o país).
Felizmente para o PÚBLICO - porque sinal de vitalidade e de vontade de participação
dos seus leitores -, há, na maior parte dos dias, muita gente a escrever. E é sabido que
a secção "Cartas ao Director" (agora também com um prolongamento regular no
Local Porto e no Local Lisboa, para contributos de âmbito local ou regional) continua a
ser, desde o início, uma das mais lidas do jornal. Deveria, por isso, aumentar-se-lhe o
espaço? Não necessariamente: uma das razões do seu dinamismo e da sua capacidade de
atracção estará, porventura, exactamente no facto de ser uma secção pequena e
variada, tanto nos temas como nas abordagens. Por regra, todos nós preferimos ler,
naquela secção, três ou quatro cartas curtas, assinadas por leitores de várias
proveniências, e se possível tocando matérias diferentes. Ou não?...
Como já aqui se explicou, há critérios mais objectivos (tamanho, espaço
disponível, actualidade) e outros mais subjectivos (qualidade do escrito, interesse para
os leitores) que a Direcção invoca para seleccionar os escritos dos leitores. Mas não
consta que, entre esses, se inclua o da censura de opiniões alegadamente incómodas - e,
muito menos, que se ponham nomes numa qualquer "lista negra". Peremptório,
garante o director, José Manuel Fernandes: "Não há nenhum 'index' nas cartas, como
é evidente". E comenta: "Quem quer que siga o que é publicado nessa secção,
sabe bem que são muitos os textos que contestam as minhas opiniões e que eu nem sequer
tenho por hábito responder-lhes".
Não tem o provedor (leitor fidelíssimo da secção de cartas...) motivos para
presumir coisa diferente. E sabe, dos hábitos que conhece à casa, que a Direcção do
PÚBLICO tende até a considerar mais estimulantes os contributos dos leitores que
discordam de opiniões já publicadas, pois assim se torna mais interessante a leitura,
mais vivo o debate, mais alargado o naipe de opções.
Quer isto dizer que são incontestáveis as escolhas dos responsáveis do PÚBLICO
quanto ao que publicam e ao que deixam de fora? Decerto que não. Para além das
dificuldades comezinhas do dia-a-dia (ora há cartas de mais, e muitas são excluídas,
ora há cartas de menos, e o crivo alarga-se...), a avaliação do seu interesse é sempre
um risco. Tendo muito por onde escolher, duas pessoas nunca fazem a mesma selecção. Mas
o importante é que, seja quem for, a faça de boa fé, não censurando ninguém pelas
suas opiniões e crendo estar, de facto, a servir o interesse do maior número de
leitores. E repete-se o que já antes se avançou: quem escreva cartas curtas, claras e
concisas tem quase todo o caminho andado para as ver nas páginas do jornal. Desde que
não escreva dia-sim-dia-não, para não vermos sempre os mesmos nomes...
A propósito, fica no ar a sugestão recente de um leitor: por que não encarar a
hipótese de publicar mais cartas no PÚBLICO Online? Dado que a edição electrónica
não tem os constrangimentos de espaço da edição em papel, talvez fosse um caminho -
mesmo mantendo alguns cuidados de selecção quanto a qualidade, interesse e tamanho -
para difundir mais textos de mais leitores.
O presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária D. Maria II (Braga),
Gonçalo Vilarinho, não gostou muito da reportagem publicada na edição de 16/1/00, sob
o título "Uma maratona de críticas". Quando viu na sua escola uma jornalista
do PÚBLICO - acompanhando uma etapa do périplo que Miguel Mendes, presidente da
Federação Nacional das Associações de Estudantes do Ensino Secundário e Básico
(FNAES), fez pelo país -, ficou à espera que se falasse, no jornal, um pouco mais do
estabelecimento bracarense. Ou, pelo menos, que o texto não focalizasse exclusivamente
"a postura da FNAES", em detrimento das associações concretas. Até porque,
diz, tinha havido, na E.S. D. Maria II, uma "interessante discussão" durante a
visita de Mendes.
Não é essa a opinião da jornalista Sandra Costa, que lembra que "a visita foi
extremamente curta" e, até por isso, a tal "discussão" se resumiu às
explicações dadas por Miguel Mendes a propósito das visitas que a FNAES vinha fazendo
pelas escolas. Admitindo que o leitor possa não se rever no texto, Sandra Costa esclarece
que o motivo da reportagem era, precisamente, a iniciativa do presidente da Federação, e
por isso fez incidir nesse aspecto o seu trabalho.
Seria interessante dedicar algum espaço a mostrar, mais em pormenor, a realidade
concreta das escolas visitadas pelo dirigente federativo? Sem dúvida. Mas isso talvez
tivesse que ser objecto de outro trabalho jornalístico, com outro tempo e outra
preparação - algo impossível de fazer com uma brevíssima estadia de minutos, e
destinada sobretudo a acompanhar a visita de alguém de fora.
Contactos do provedor do leitor:
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