Ainda Angola
Por JOAQUIM FIDALGO
Domingo, 2 de Janeiro de
2000 O acompanhamento da situação angolana por parte do PÚBLICO tem
estado em foco nos últimos tempos. Divide opiniões, provoca protestos desta banda e
daquela, motiva cartas inflamadas (quando não insultuosas), suscita ameaças, enfim,
causa polémica. Umas vezes mais de um lado, quando esse lado se sente atingido, outras
vezes mais do outro, quando é o outro que se diz injustiçado.
Não é surpresa. Ainda está para chegar o jornal que, reportando situações de
guerra e procurando manter a necessária equidistância face às partes em conflito, seja
"bem- amado" por alguma delas. Normalmente é "mal-amado" por ambas.
Tomando partido, recolheria os favores de uma (e dos respectivos simpatizantes), sendo
ferozmente hostilizado pela outra; não tomando, "apanha" dos dois lados,
conforme os dias. O que, do ponto de vista de uma informação que se procura isenta e
equilibrada, é bom sinal.
São óbvias as dificuldades do trabalho jornalístico em conflitos como este. No
entender do director do PÚBLICO, José Manuel Fernandes, "a maior dificuldade no
tratamento da questão angolana está em discernir o que são informações fiáveis e o
que é propaganda", tanto mais que "não há fontes independentes no
terreno". Situações de guerra são propícias a manobras de contra-informação,
até porque se sabe da dificuldade de confirmar os dados junto de observadores isentos.
Nas mais das vezes, o recurso possível está em dar as duas versões, por contraditórias
que sejam, até para se entender como a realidade é distorcida em função dos interesses
dos beligerantes.
Da mesma maneira, no que toca à opinião (seja através de artigos, seja pelas
"Cartas ao Director"), o caminho recomendável é o da abertura às expressões
mais diversas, desde que subordinadas aos limites básicos da compostura e do bom senso.
José Manuel Fernandes entende que, no caso dos artigos de opinião, devem ser
privilegiadas as vozes de "intervenientes não ligados à UNITA ou ao MPLA", uma
vez que tanto uns como outros tendem a escrever "textos propagandísticos, com pouca
informação e pouco interessantes". Já quanto às "Cartas", o crivo é
naturalmente mais aberto - e é bom que seja.
Uma última nota: à Embaixada de Angola, enquanto "leitora" do PÚBLICO,
assiste, naturalmente, todo o direito de recorrer ao provedor. Saúda-se que tenha
usufruído deste mecanismo instituído pelo jornal para, precisamente, abrir ainda mais as
possibilidades de livre expressão de opinião e crítica, característica tão preciosa
de um regime democrático. Num tempo em que, como se viu por notícias recentes, subsistem
sérias dúvidas sobre uma efectiva liberdade de imprensa naquele país africano (um país
que recusou há meses o visto de entrada a um jornalista do PÚBLICO), pode ser que a
convivência com os mecanismos propiciadores do pluralismo e da livre circulação de
ideias ajude a descobrir-lhe as virtualidades. E ajude a criá-los ou a desenvolvê-los
onde façam falta.
Joaquim Fidalgo
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