Dicionário das Eleições Americanas

Um guia para saber mais sobre o longo percurso dos candidatos até às eleições. Por Rita Siza

  • A

    Anúncios

    A campanha televisiva do Iowa custou cerca de 12 milhões de dólares às campanhas oficiais e aos comités políticos e grupos de interesse que apoiam cada candidato. A maior parte destes anúncios televisivos são negativos: destinam-se a criticar, por vezes em tom violento, as ideias ou o carácter dos opositores, e costumam ir subindo de tom à medida que a campanha se torna competitiva. As campanhas mais "hostis" no Iowa foram as de Rick Perry e de Newt Gingrich, que primeiro se digladiaram mutuamente antes de montar uma ofensiva de última hora contra Rick Santorum.

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  • B

    Bachmann

    A congressista do Minnesota Michele Bachmann, nascida no Iowa, chegou a liderar as intenções de voto naquele estado, mas na véspera do caucus a sua campanha estava praticamente reduzida à família, sem dinheiro, sem staff (o principal conselheiro trocou a campanha pela de Ron Paul, a uma semana da votação), sem apoios (os líderes evangélicos transferiram-se para a candidatura de Rick Santorum) e sem perspectivas.

    Bachmann é um fenómeno de popularidade junto dos simpatizantes do Tea Party, mas essa predilecção não se traduz necessariamente em votos: a retórica incendiária e as "gaffes" – as declarações são frequentemente apontadas pelos "fact-checkers" como incorrectas – comprometem seriamente a elegibilidade.

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  • C

    Caucus

    Este sistema de voto, que na democracia portuguesa não encontra nenhuma correspondência, está consagrado na Constituição do Iowa como "democracia em acção", e é entendido por vários especialistas como o "grau zero" democrático. Os eleitores, reunidos em assembleia (num edifício público ou uma residência privada que mantenha as portas abertas), ouvem as propostas de um e outro candidato, e depois agrupam-se em função da preferência, por grupos de apoiantes. Normalmente, decorrem várias rondas de discussão: formados os primeiros grupos, pode haver quem ainda permaneça indeciso sobre o seu apoio, e então voltam a esgrimir-se argumentos de forma a cativar os eleitores para uma ou outra campanha. O caucus – uma palavra originária da língua nativa norte-americana dos Algonquin que significa conferência de chefes tribais – só termina quando os participantes estão integrados num grupo e já não pretendem mudar de ideias. Os votos são então contados e somados, definindo o número de delegados que cada candidato levará à convenção do partido. sos.iowa.gov

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  • D

    Desistências

    Como normalmente acontece, a lista de candidatos à nomeação republicana encolheu antes do início da votação. O governador do Minnesota, Tim Pawlenty, e o ex-governador do Novo México, Gary Johnson, terminaram oficialmente as suas campanhas. Envolvido em escândalos de assédio sexual de funcionárias insubordinadas e de infidelidade, o empresário do sector da restauração, Herman Cain, que chegou a liderar as sondagens, suspendeu a campanha.

    Antes deles, houve vários putativos candidatos que antes de o ser já não o eram – os casos mais notórios os da ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, e do magnata do imobiliário Donald Trump. E depois do Iowa, a lista voltará a encurtar, de forma mais ou menos dramática, dependendo da capacidade financeira das campanhas: a imprensa americana aposta no abandono da congressista Michele Bachmann logo após o caucus.

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  • E

    Evangélicos

    Nos últimos cinco dias antes do caucus, o ex-senador da Pensilvânia Rick Santorum conheceu um forte impulso nas sondagens, que a maior parte dos analistas explicou como um efeito da concentração de voto do movimento evangélico – que representa 60% do eleitorado republicano do Iowa e da Carolina do Sul, dois estados fundamentais nas primárias republicanas. Mas a força e influência dos evangélicos é nacional: trata-se de um poderoso bloco eleitoral, responsável por exemplo pela confortável reeleição de George W. Bush em 2004. São eleitores profundamente pragmáticos, mas a sua motivação são as chamadas "questões sociais" – uma feroz a oposição ao aborto, à eutanásia, ao casamento gay.

    Santorum, que estabeleceu toda a organização no Iowa e se mudou para o estado com a família, é um dos candidatos mais conservadores da lista republicana, mas curiosamente não é evangélico, é católico. As posições que defende não são muito diferentes das de Newt Gingrich, Michele Bachmann ou Rick Perry, mas a personalidade suscita bem menos reacção negativa.

    Santorum não tem a mínima hipótese de ganhar o caucus (há quatro anos, a vitória pertenceu ao antigo governador do Arkansas, Mike Huckabee, o único candidato representativo do movimento evangélico) mas se terminar em terceiro lugar, poderá tornar-se uma alternativa viável para os evangélicos que ainda tentam acertar com um candidato que possa desafiar o favoritismo de Romney.

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  • F

    Financiamento

    Será uma das questões mais interessantes da campanha eleitoral que agora se inicia, por causa de uma decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos que, em Janeiro de 2010, considerou inconstitucionais as leis que limitam os montantes das contribuições financeiras para as campanhas eleitorais. A deliberação, baseada na defesa da liberdade de expressão, abre a porta a investimentos milionários por parte de corporações e sindicatos que, por essa via, podem, teoricamente, influenciar os resultados (por seu lado, os contribuintes individuais continuam sujeitos a um limite máximo de 2200 dólares de donativos).

    Também os controversos Comités de Acção Política (os super-PAC, na designação em inglês), gozam este ano de regras novas que lhes permitem manter sigilo sobre os financiadores. Estes são grupos de interesse – o mais famoso de todos foi o Swift Boat Veterans for the Truth, que descredibilizou a campanha do democrata John Kerry em 2008 – ao serviço dos candidatos, e o dinheiro que recolhem é normalmente utilizado em anúncios televisivos de carácter negativo. Este ano, apesar de ainda não haver números definitivos, a Comissão Federal Eleitoral já contabilizou mais de 8,5 milhões de dólares de despesas reportadas por comités de acção política.

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  • G

    Gingrich

    Newt Gingrich, o antigo congressista do Partido Republicano e speaker da Câmara de Representantes durante a presidência de Bill Clinton está na vida política americana há mais de 30 anos, e goza de vasto reconhecimento entre o eleitorado conservador. A carreira está recheada de importantes vitórias – foi o arquitecto da "revolução conservadora" que devolveu o poder no Congresso aos republicanos na década de 1990 – mas também de estrondosas derrotas, e a sua figura continua a alimentar controvérsias (uma das mais recentes foi quando afirmou que "os palestinianos são um povo inventado"). Gingrich é um dos candidatos mais temidos nos debates, mas o seu brilhantismo oratório falha em convencer muitos conservadores por causa da sua tempestuosa vida pessoal, marcada por uma sucessão de casamentos e infidelidades.

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  • H

    Huntsman

    Jon Huntsman, o ex-governador do Utah e antigo embaixador norte-americano na China (a convite do Presidente Barack Obama), é porventura o candidato mais estimado pela imprensa americana, mas essa "preferência" não se traduz em adesão à sua campanha. Como em muitos outros anos, Huntsman cumpre o papel do "adulto" que vem credibilizar o partido, e a sua participação nestas primárias pode ser apenas uma rampa de lançamento para ambições políticas futuras a nível nacional.

    Huntsman destaca-se como um pensador político, consistentemente conservador nas questões fiscais, mas ao mesmo tempo convictamente moderado na política externa e liberal ou libertário em assuntos sociais – reconhece as uniões de facto entre homossexuais e acredita que o aquecimento global não é um mito científico. A sua campanha deliberadamente evitou o Iowa, apostando todas as fichas no New Hampshire.

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  • I

    Iowa

    O eleitorado do Iowa, o pequeno estado predominantemente rural, com três milhões de habitantes (mais de 90% dos quais brancos), não é de maneira nenhuma representativo da diversidade demográfica da América. Mas o Iowa é, por tradição iniciada em 1972, o primeiro a pronunciar-se sobre os candidatos à presidência e os resultados dessa votação marcam indelevelmente o processo de nomeação de candidatos (o estado do New Hampshire, que vota logo depois do Iowa, também tem direito a reclamar o estatuto de "First in the Nation", porque é ali a primeira eleição directa com boletim em urna).

    Mas a influência do Iowa na política norte-americana mede-se muito antes da contagem dos votos. É naquele estado que se avalia a capacidade de organização e mobilização das campanhas, que os candidatos revelam as suas fraquezas e virtudes – ali, a campanha faz-se em salas com dez pessoas, frente a frente.

    É também no Iowa que as campanhas e os media começam a jogar o chamado "jogo das expectativas". Este assenta na surpresa: a capacidade de um candidato gorar ou confirmar a narrativa que se foi construindo sobre ele – por exemplo alcançando uma votação maior ou menor do que antecipado ou proferindo um discurso histórico, como foi o caso de Barack Obama em 2008.

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  • J

    Jornais

    A imprensa norte-americana segue a tradição de declarar editorialmente o seu apoio por um determinado candidato, explicando aos seus leitores as razões da sua preferência. O ex-governador Mitt Romney recebeu o apoio do Des Moines Register, o maior e mais influente diário do Iowa. No estado do New Hampshire, a imprensa dividiu-se. John Huntsman foi a escolha dos jornais "The Valley News" e "The Keene Sentinel"; Romney recebeu o apoio do "The Portsmouth Herald", enquanto o conservador "Manchester Union Leader", único jornal que circula por todo o estado, ficou do lado de Newt Gingrich.

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  • L

    Libertário

    Ron Paul, o candidato libertário com assento na bancada republicana da Câmara de Representantes há mais de 30 anos, corre pela segunda vez à nomeação do seu partido. Aos 76 anos, o médico ginecologista, que já fez mais de 4000 partos, é uma das mais excêntricas personalidades políticas dos Estados Unidos: defensor da liberdade individual e da Constituição acima das organizações do Estado, as suas propostas incluem a eliminação da Reserva Federal bem como de uma série de departamentos do governo federal. Quando o seu nome passou a figurar no topo das preferências dos eleitores do Iowa, os media apertaram o escrutínio sobre a sua campanha, desenterrando uma polémica antiga sobre a sua ligação a um grupo de extrema-direita, com opiniões racistas, há mais de duas décadas.

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  • M

    Mórmon

    Desta feita, mais do que já tinha acontecido em 2008, o mormonismo de Mitt Romney representa um dos maiores problemas para a campanha do ex-governador do Massachusetts. Para muitos analistas, é precisamente a escolha religiosa do candidato que explica a desconfiança e relutância de grande parte do eleitorado conservador. A grande maioria dos americanos que se identificam como cristãos não reconhecem a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias como uma religião legítima – para eles trata-se de um culto. O ex-governador do Utah, Jon Huntsman, também é mórmon.

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  • N

    Nomeação

    O Partido Republicano aclamará o seu candidato numa Convenção Nacional que este ano decorrerá em Tampa Bay, na Florida, de 27 a 30 de Agosto. Mas a nomeação acontece antes disso: assim que um candidato consegue reunir o apoio de 50% mais um do total de 2286 delegados que representam os respectivos estados, fica automaticamente indicado. Historicamente, os republicanos aplicam o método do "Winner takes all", que prevê que o candidato vencedor da votação de um determinado estado pode reclamar a totalidade dos delegados que representam esse estado. Mas este ano, os conservadores introduziram uma inovação, e nos vários estados que votam até 1 de Abril, vão passar a seguir o princípio dos seus adversários democratas, que distribuem os delegados proporcionalmente aos votos recebidos por cada candidato (prolongando assim a época das primárias e tornando as eleições mais competitivas). E como também fazem os democratas, os republicanos também vão ter um grupo reduzido de "super-delegados" na sua convenção: estes são representantes do partido que não são eleitos, e que não têm que respeitar a disciplina de voto do respectivo estado na escolha do seu candidato.

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  • O

    Obama

    O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, formalizou a sua recandidatura a um segundo mandato na Casa Branca em Abril, através de um vídeo. Como também aconteceu em 2008, o democrata goza de enorme vantagem em termos de organização e de financiamento, e a sua campanha continua a confiar nas redes sociais para comunicar directamente com os apoiantes. Como sempre acontece com recandidaturas presidenciais, a liderança de Obama não é contestada no Partido Democrático, pelo que este ano não há primárias entre os liberais. A Convenção Nacional Democrata acontecerá em Charlotte, na Carolina do Norte, entre 3 e 6 de Setembro.

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  • P

    Perry

    O governador do Texas, Rick Perry, entrou com estrondo na corrida republicana, mas o brilho da sua estrela rapidamente esmoreceu com uma sucessão de "gaffes" e em acções de campanha e debates televisivos. A máquina política de Perry, imbatível no Texas (nunca perdeu uma eleição e é o governador com mais anos de mandato da história daquele estado), revelou a sua competência em termos de recolha de fundos, mas falhou estrategicamente na construção de uma mensagem capaz de repercutir a nível nacional. A sua mensagem contém muitos elementos que agradam aos conservadores, mas o seu registo como governador tem aspectos problemáticos, nomeadamente as suas decisões de financiar estudos a filhos de imigrantes ilegais ou de suportar os custos da vacinação de adolescentes contra o HPV.

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  • R

    Romney

    Aos 61 anos, o milionário Mitt Romney lança-se pela segunda vez consecutiva na corrida pela nomeação republicana e desta vez é o favorito à vitória. Filho de George Romney, famoso governador do Michigan, Mitt estabeleceu as suas credenciais políticas no estado liberal do Massachusetts, que governou entre 2003 e 2007. O seu maior feito é, ironicamente, a sua principal fraqueza: o estabelecimento de um sistema de saúde de cobertura universal, que garante o acesso de toda a população do estado a cuidados médicos, e que inspirou a reforma consumada pelo Presidente Barack Obama. Apesar de se classificar como um "outsider" da política, Mitt Romney é já um veterano em termos de campanhas eleitorais: concorreu em 1994 contra o histórico Ted Kennedy por um lugar no Senado, e em 2008 deu luta a John McCain na corrida pela nomeação republicana.

    O ex-governador é apontado pelas sondagens como o opositor com mais hipóteses de derrotar Obama em Novembro, por causa da sua moderação e das suas reconhecidas capacidades de gestão da economia – nas primárias republicanas, porém, esses são "atributos" vistos com cepticismo. Romney também tem colado a si o rótulo de flip-flopper, isto é, um candidato que frequentemente muda de posição em função das conveniências.

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  • S

    Sondagens

    A América é a terra das sondagens, e em períodos eleitorais, não há praticamente nada que escape à medição científica da opinião pública. Várias empresas monitorizam há vários anos a taxa de aprovação do Presidente e do Congresso, e agora seguem os candidatos. Mas por estes dias, além da adesão às campanhas, também é possível saber, por exemplo, as opiniões do eleitorado "latino".

    Aqui ficam alguns links úteis para quem estiver interessado em conhecer os números por detrás da eleição:

    Os sites Real Clear Politics e Pollster são agregadores de sondagens, e também coligem análises e comentários publicados na imprensa norte-americana.

    Empresas como a Gallup, a PPP e a Rasmussen disponibilizam as suas sondagens.

    Outras instituições independentes e reputadas incluem o Pew Research Center.

    O blogue 538, alojado no site do New York Times, foi considerado como aquele com a melhor metodologia e modelo de simulação de probabilidades nas últimas eleições presidenciais americanas (o autor Nate Silver calculou com sucesso o vencedor em 49 dos 50 estados americanos e em todos os concursos para o Senado).

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  • T

    Tea Party

    O movimento conservador anti-Governo que irrompeu com estrondo na cena política americana durante o debate em torno da reforma do funcionamento do sistema de saúde, em 2009, e se transformou na coqueluche dos políticos republicanos durante as eleições intercalares do ano seguinte, continua a exercer enorme pressão sobre os candidatos.

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  • V

    Voto

    Ao preencher o registo de eleitor, os norte-americanos indicam a sua filiação partidária – republicano, democrata ou independente. Esse registo é fundamental para a participação nas primárias, uma vez que só podem votar os cidadãos afiliados com o respectivo partido. No entanto, nada impede os eleitores de alterar o seu registo – no Iowa, aliás, é possível fazê-lo à entrada dos locais onde decorrem os caucus, ou seja, os eleitores antes identificados como democratas ou independentes poderão participar na votação se mudarem a sua declaração de eleitor para republicanos.

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  • W

    Wall Street

    O movimento Occupy Wall Street, que nos media americanos se afirmou como a alternativa de esquerda ao Tea Party, também está a marcar a campanha das primárias, tendo já encetado várias acções de "ocupação" de sedes de candidatos nos estados do Iowa e do New Hampshire.

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