O 11 de Setembro revisitado

Bárbara Reis

Na contagem decrescente para o aniversário dos 10 anos do 11 de Setembro não faltaram análises a tentar demonstrar que nos últimos anos houve acontecimentos mais importante do que, precisamente, o 11 de Setembro.

Das guerras do Afeganistão e do Iraque, resultado directo do ataque terrorista contra os Estados Unidos, à falência do banco Lehman Brothers, os últimos dez anos foram marcados por crises e revoluções que mudaram o mapa geopolítico e as mentalidades como o 11 de Setembro não fez. Apenas duas, as mais óbvias: a emergência da China e da Índia, que recentrou o mundo na Ásia, e o nascimento das redes sociais, que mudou para sempre a forma como comunicamos. São transformações globais, que tiveram e estão a ter impactos estruturais na vida política, económica e cultural de todo o planeta. Em dimensão semelhante, talvez, a um outro acontecimento anterior a tudo isto – a queda do Muro de Berlim, em 1989, que da noite para o dia transformou a vida de milhões de pessoas. E talvez, ainda não sabemos, em dimensão semelhante à Primavera Árabe.

Agora, claro, é fácil dizer isto. Há 10 anos, quando as Torres Gémeas caíram perante os nossos olhos e o nosso horror, começámos por não ter palavras e num ápice passámos a sentir que o fim do mundo vinha aí. Provavelmente, não poderia ter sido de outra forma. Nos primeiros dias, nos primeiros anos, o 11 de Setembro definiu as nossas vidas. Nesse dia, como em todas as redacções do mundo, ninguém do PÚBLICO dormiu. No site acompanhámos os desenvolvimentos ao longo da noite e na manhã seguinte publicámos uma edição especial de 32 páginas, que escrevemos durante a madrugada. No ano seguinte, fizemos uma nova edição especial de 64 páginas exclusivamente dedicadas ao tema. “Um ano depois o que mudou na América e no mundo? Quase tudo ou quase nada?”.

Hoje, dez anos depois, sentimos que vale a pena olhar para trás e procurar pistas e respostas. Esta selecção de mais de 1100 páginas da edição impressa do PÚBLICO (em formato PDF) narra ao pormenor a marcha da história. Inclui todas as edições de 11 Setembro que fizemos nos últimos dez anos, mas também o especial de 32 páginas do dia 12 de Setembro de 2001. São reportagens de Nova Iorque a Islamabad, análise, opinião, entrevistas e comentários de historiadores, escritores, políticos, filósofos e artistas. Falam Timothy Garton Ash, José Saramago, Robert Frank, Kofi Annan, Jorge Sampaio, Henry Kissinger, entre muitos outros. Escolhemos também trabalhos sobre os momentos que anteciparam as guerras do Afeganistão e do Iraque.

O 11 de Setembro não mudou o mundo, mas marcou para sempre as nossas vidas. Todos sabemos onde estávamos no momento em que as Torres Gémeas caíram e todos sabemos as horas que precisamos para entrar num avião. Esperamos por isso que esta leitura global permita pensar no 11 de Setembro com um outro olhar.

Directora