Os Grifos
 
Samuel Infante

O grifo pertence ao género dos abutres e é uma das maiores aves que existem em Portugal. Muitos leitores ficarão surpreendidos com este facto, pois talvez não imaginassem que houvesse abutres entre nós.

 
No entanto, ainda existem algumas centenas de exemplares. Mercê da sua grande dimensão, o grifo pode ser detectado a grande distância, sendo por isso relativamente fácil de observar.
Contrariamente ao que muitas pessoas julgam, os abutres não são nocivos nem perigosos para o homem. Alimentam-se exclusivamente da carne de animais mortos ou moribundos, desempenhando por isso um papel sanitário importante no meio ambiente. Outrora, os grifos distribuíam-se por uma grande parte do país, alimentando-se de gado morto e também de cadáveres de mamíferos selvagens. Nas últimas décadas, devido ao progresso, ao desenvolvimento da agricultura e da pecuária e ao avanço da medicina veterinária, a presença de animais mortos nos nossos campos deixou de ser frequente, o que veio trazer aos grifos algumas dificuldades para encontrar alimento. Deste modo, os abutres foram, progressivamente, desaparecendo de uma boa parte do território.

A área de distribuição do grifo encontra-se hoje reduzida a uma estreita faixa do interior, junto à fronteira espanhola, especialmente no Alto Douro, Beira Baixa e Alentejo. No entanto, nestas áreas ainda é razoavelmente comum, podendo por vezes observar-se bandos de 30 ou mais aves desta espécie. A observação de um bando de grifos em voo é, ainda hoje, um espectáculo majestoso, pois a sua grande envergadura dá-lhes um aspecto imponente.

Se quisermos observar estas aves magníficas, será necessário deslocarmo-nos a estas zonas do país, de preferência aos grandes vales desabitados do Tejo e Douro superiores, junto à fronteira, ou à margem esquerda do Guadiana. Curiosamente, é observado com frequência a sobrevoar algumas localidades destas regiões, particularmente Miranda do Douro, Mogadouro e Barrancos. Nalgumas zonas, a sua população sobrevive graças à existência de alimentadouros, onde é feita regularmente uma distribuição de carne de animais abatidos - é o caso da Herdade da Contenda, perto de Barrancos. Por vezes, também ocorre em lixeiras, procurando alimento no meio dos desperdícios, tendo já sido observado por exemplo na lixeira de Alcaria Ruiva, no concelho de Mértola.

As condições meteorológicas são um aspecto importante a ter em conta para se poder observar esta espécie. Devido às suas grandes dimensões, os grifos necessitam de correntes térmicas ascendentes, a fim de conseguirem voar sem despender muita energia. Por isso, só levantam normalmente voo em dias sem chuva e com pouco vento, e mesmo assim deixam passar algumas horas sobre o nascer do sol, até perto do meio-dia, hora a que as correntes térmicas já lhes permitem um voo tranquilo. Podem então ser observados a voar em grandes círculos, enquanto vão ganhando altura. Ao fim de um quarto de hora, os bandos planam já a algumas centenas de metros, partindo depois em busca de alimento.
 
Por Gonçalo Lobo Elias
 
FICHA

Nome científico: Gyps fulvus
Dimensões: 100 cm (pousado); 250 cm (envergadura)
Estatuto migratório: Sedentário e dispersivo.
Distribuição: Ocorre quase exclusivamente em zonas com baixa densidade populacional, junto à fronteira. Nidifica no Douro internacional e no Tejo internacional. No Baixo Alentejo não deverá nidificar, mas há movimentos de aves através da fronteira espanhola. No outono, realiza alguns movimentos dispersivos e pode aparecer fora da sua área normal de distribuição, particularmente na Estremadura e no Algarve.
Abundância: Pouco comum. A população nacional é de cerca de cem casais nidificantes, a maior parte dos quais vivem no Douro internacional.

Melhores locais de observação:
- Trás-os-Montes, sobretudo no Vale de Douro (concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e Freixo de Espada à Cinta). Por vezes pode ser visto a sobrevoar estas povoações.
- Beira Baixa (concelho de Idanha-a-Nova, sobretudo junto aos rios Tejo e Erges)
- Baixo Alentejo (concelho de Barrancos e, por vezes, na zona de Mértola)