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  .O esquema de falsificação de passaportes passa por Portugal
 

Portugal é o «epicentro»
Duarte Ladeiras

A comissão de deputados brasileiros que está a investigar o tráfico de passaportes falsos no mundo do futebol é peremptória quanto à origem deste negócio ilícito, pelo menos no relatório preliminar enviado à FIFA: “Conclusivamente, pode-se afirmar que o epicentro da emissão desses documentos é Portugal, mas, das investigações policiais e judiciais, tanto de Portugal quanto da Itália, pode-se inferir que esta é uma praga que se alastra por toda Europa. É uma extensa rede que envolve empresários, clubes e jogadores”.

Em grande parte, as conclusões dos parlamentares baseiam-se em depoimentos também recolhidos em Portugal e Itália — dois deputados, Pedro Celso e Jurandil Juarez, este o relator do documento (ver entrevista na página seguinte), deslocaram-se à Europa para esse efeito —, dos quais se destacam os de Juan Figer Svirski e de Afonso Martins Costa Filho, mais conhecido como Jimmy Martins.

Juan Figer é agente da FIFA e empresário de Warley e Edu, dois brasileiros acusados pelas autoridades europeias de uso de documentação falsificada. No caso particular de Edu, ex-jogador do Arsenal, cujo avô é de origem portuguesa, Juan Figer aceitou uma recomendação de dois sócios de um empreendimento desportivo em Marbella (Espanha), que lhe sugeriram um método mais rápido do que o oficial para obter um passaporte luso.

Apesar de diversas contradições, os depoimentos dos dois sócios — Hermínio Menendez e Miroslav Nestorovic — e do advogado do empresário, António Almeida Castro, são unânimes no que respeita ao responsável pela obtenção do passaporte em apenas duas semanas: “Um português de nome Caldeira”. Joaquim Silva e Domingos Djalo foram indicados como sócios de Caldeira, que terá sido já identificado como um ex-despachante de apelido Mota Caldeira.

O mesmo cidadão português é referido por Jimmy Martins, que o acusa de fazer parte de uma rede de “adulteração da documentação pessoal de atletas para facilitar a falsificação de passaportes”. “Eu tratava com os despachantes que eu vou passar para vocês [Domingos Djalo e Caldeira], que vinham ao nosso encontro, meu e de outros vários empresários de futebol, no Hotel Altis, de Lisboa”, afirmou aos deputados, entregando de seguida anexos que, alegadamente, comprovam o envolvimento da polícia portuguesa neste caso. “Pelo que se sabe hoje, os passaportes não eram falsos. Eram feitos por gente interna da polícia de Portugal”.

Empresários na berlinda

Mesmo impedida de fornecer muitos detalhes sobre o caso dos passaportes falsos — a Interpol e a Polícia Judiciária alegaram segredo de justiça —, a comissão parlamentar de inquérito nomeada pelo Senado brasileiro enviou este relatório preliminar à FIFA, de modo a que este organismo possa desde já tomar medidas. Os deputados brasileiros pedem a “instituição obrigatória de um cadastro de jogadores extracomunitários” e a “comunicação obrigatória, pelos clubes, aos órgãos nacionais de controlo de migração, da contratação de jogadores estrangeiros”.

E as autoridades sul-americanas vão mais longe, sugerindo mesmo a “divulgação periódica e actualizada da lista dos agentes da FIFA” e a cassação da credencial destes quando envolvidos em casos de falsificação de passaportes ou de outros documentos. Por último, é pedida uma “uniformização dos procedimentos quanto às cotas estabelecidas para os clubes na contratação de jogadores extracomunitários”.

 

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