HugoCastanho/Publico.pt
  Portugal é designada como o "epicentro" da rede de contrafacção dos documentos falsos.
 
 

 

 

  O ESQUEMA DE PASSAPORTES FALSOS COM PORTUGAL - LISBOA

Do encontro com o Embaixador Synésio Sampaio Goes

Das conversas com jornalistas portugueses

Dos fatos relatados pelo Cônsul-Geral do Brasil em Lisboa

Do encontro com autoridades policiais portugueses

Do encontro com o Deputado Octávio Teixeira

Do encontro com pessoas envolvidas no processo de aquisição de passaportes

DAS INVESTIGAÇÕES REALIZADAS
EM VICENZA, NA ITÁLIA

Dos contatos com jornalistas
em Vicenza

Dos relatos feitos
pelo Dr. Stefano Sartori

Das conversas mantidas
com autoridades policiais

Das informações prestadas
pelo jogador Jedaias Capucho Neves

DAS INVESTIGAÇÕES
FEITAS EM MILÃO, NA ITÁLIA

Das informações prestadas
pelo Secretário-Geral da Liga Calcio

Do contato feito com
o Delegado de Milão

DAS INVESTIGAÇÔES
REALIZADAS NO BRASIL

Depoimento do Sr. Luiz Landir Amim Castro - Presidente
do Moto Clube. Do Maranhão

Depoimento do Sr. Antônio Cassas de Lima

Depoimentos dos Srs. Antônio de Oliveira, Edmar Bernardes, André Augusto Leone, Eliseu Oliveira e José Mário Pavan

DO DEPOIMENTO
DO SR. GEORLAN GOMES BASTOS

DO DEPOIMENTO DO SR. CLÓVIS DIAS
- Dirigente do Americano em Bacabal

DO DEPOIMENTO
DO SR. ALEX DIAS DE ALMEIDA
- Jogador de Futebol do Saint- Etienne

DO DEPOIMENTO
DO SR. JUAN FIGER SVIRSKI
- Empresário e agente FIFA

DO DEPOIMENTO
DO SR. AFONSO MARTINS COSTA FILHO (Jimmy Martins)

DO DEPOIMENTO
DO SR. ALOIZIO JOSÉ DA SILVA

CONCLUSÃO
DAS INVESTIGAÇÕES PRELIMINARES

Deputado JURANDIL JUAREZ,
Sub-Relator da CPI da NIKE,
para assuntos de passaportes falsos

Relatório entregue
pelos deputados brasileiros à FIFA

O PÚBLICO.PT publica na íntegra o relatório elaborado pela Comissão Parlamentar de Inquérito de deputados brasileiros e que vai ser entregue à FIFA com conclusões sobre o tráfico de passaportes falsos na Europa. Portugal é designado como o "epicentro" da rede de contrafacção dos documentos falsos.

COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO, COM A FINALIDADE DE APURAR A REGULARIDADE DO CONTRATO CELEBRADO ENTRE A CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL E A NIKE

SUB-RELATORIA SOBRE PASSAPORTES

RELATÓRIO PRELIMINAR


INTRODUÇÃO

Tendo em vista artigos publicados nos jornais "Folha de São Paulo" e "O Estado de São Paulo" sobre violação dos princípios que regem o desporto nacional - Lei nº 9.615/98 -, perpetrada em cláusulas do contrato de patrocínio o firmado entre a Confederação Brasileira de Futebol e a NIKE, foi criado esta Comissão Parlamentar de Inquérito, por Ato da Presidência da Câmara dos Deputados, a requerimento do Sr. Deputado ALDO REBELO e outros.

Em virtude das graves denúncias divulgadas pela imprensa acerca de irregularidades no futebol brasileiro, envolvendo, inclusive, a utilização de documentos falsos de jogadores, como passaportes de outras nacionalidades, diminuição da idade, uso de documentos de terceiros, com o fim de transferir jogadores brasileiros para outros países, foi criado, no âmbito da Comissão, uma Sub-Relatoria para investigação de passaportes falsos.

Assim a realização de algumas investigações e da oitiva de testemunhas, tornou-se possível entender o desenvolvimento desse esquema de falsificação de documentos, com o objetivo de transacionar jogadores com times estrangeiros.

Neste relatório preliminar, procedemos a um relato dos principais fatos aqui denunciados e investigados.


O ESQUEMA DE PASSAPORTES FALSOS COM PORTUGAL - LISBOA

Do encontro com o Embaixador Synésio Sampaio Goes

Em reunião protocolar, foi relatado ao Embaixador Synésio Sampaio Goes o objeto da diligência a ser efetuada em Portugal, tendo sido designado um funcionário daquela representação brasileira para acompanhar os trabalhos a serem desenvolvidos em território português.

Das conversas com jornalistas portugueses

O jornalista João Esteves e o Diretor Victor Serpa do Jornal "A Bola" relataram ser a questão da emissão de passaportes falsos portugueses um problema antigo. Já em 1977, noticiava-se o caso de oito jogadores brasileiros do Celta da Espanha. Naquela oportunidade, os passaportes falsos dos jogadores brasileiros também foram utilizados para apresentá-los com idade menor do que a verdadeira. Jogadores da Seleção de Camarões, que nunca haviam estado em Portugal, foram identificados portando passaportes portugueses. Jogadores africanos foram também apontados como portadores de passaportes falsos franceses, belgas e portugueses. Informaram que, segundo a imprensa local, o Sr. Hermínio Menendez estaria disposto a prestar esclarecimentos sobre o Caso Edu e sugeriram que fossem contatadas autoridades do Ministério da Administração Interior e da Policia Judiciária. Sobre o assunto, reportagem do Jornal A Bola, de 23 de novembro, e o dossiê "O caso dos passaportes falsos".

O jornalista Hélio Nascimento (Jornal "Record") e o Correspondente do Jornal do Brasil em Lisboa, jornalista Tedesco, relataram o interesse da imprensa portuguesa em pesquisar e noticiar o assunto, e as dificuldades enfrentadas para obter informações junto à Polícia Judiciária. Não detinham dados sobre o nível de aprofundamento das investigações efetuadas pelas autoridades policiais sobre o caso .

Foi efetuada coletiva com profissionais da imprensa local (jornal, rádio e televisão), convocados pela Embaixada brasileira em Portugal. Na oportunidade, foram repassadas as informações até então obtidas junto aos órgãos oficiais portugueses.

Dos fatos relatados pelo Cônsul-Geral do Brasil em Lisboa

O Ministro Pedro Motta, Cônsul-Geral do Brasil em Lisboa, apresentou relato informando sobre o aumento significativo do fluxo migratório de brasileiros para Portugal, especialmente nos últimos 10 meses. Muitos brasileiros encontram-se em situação irregular naquele país, vivendo em condições precárias, alguns inclusive morando em containers de lixo. Em média, 350 brasileiros procuram diariamente o Consulado para obter registro. Apontou para a necessidade do estabelecimento de uma política brasileira de imigração, mostrando-se especialmente preocupado com a situação dos jogadores brasileiros menores de idade. Relatou que atualmente agem no território português diversas quadrilhas organizadas - as máfias portuguesa, africana, russa e a albanesa -, sendo o país utilizado como ponto de entrada de imigrantes ilegais na Europa e como trampolim para os que têm como destino os USA .

Do encontro com autoridades policiais portugueses

Alegando segredo de justiça, o Diretor da Interpol, Dr. Chaves de Almeida, declarou-se impedido, não podendo fornecer informações aprofundadas sobre processo recentemente instaurado com o objetivo de averiguar o caso de passaportes falsos portugueses. Com a interveniência do Diretor da Interpol no Brasil, Dr. Washington, foram obtidos os nomes dos jogadores brasileiros que estariam arrolados no processo, a seguir identificados:

- André Augusto Leoni
- Jedias Capucho Neves
- Nelson de Jesus Neves
- Edmilson Rocha Andrade Mendes
- Jorge Henrique Amaral de Castro
- Marcos Assunção
- José Vitor Roque Junior
- Varley Silva Santos
- Alberto Valentin do Carmo Neto

O Dr. Luis Filipe Ramos Bonina, diretor-geral da Polícia Judiciária, afirmando ser a questão dos passaportes falsos um assunto que tem merecido especial atenção das autoridades policiais portuguesas, informou sobre a alteração a ser introduzida brevemente na formatação dos passaportes portugueses com a finalidade de inibir a atuação dos falsários. Perguntado sobre os processos instaurados contra brasileiros, declarou que estão sendo tratados com prioridade, mas, a exemplo da autoridade policial ligada à Interpol em Portugal, alegou ser uma matéria que tramita em segredo de justiça. Para viabilizar a entrega de cópia do processo, solicitou envio de requerimento do presidente da CPI da CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL/Nike àquele órgão.

O Dr. Antônio de Lencastre Bernardo, Diretor-Geral do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, informou ser da competência do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras emitir passaporte tão-somente para cidadãos estrangeiros residentes em território português, cujos países de origem não tenham representação diplomática em Portugal. Sugeriu que a solicitação de cópia dos processos sobre envolvimento de jogadores brasileiros com passaporte falso (lista do item "e") fosse efetuada por intermédio da Embaixada brasileira. Ressaltou que as medidas a serem adotadas, a partir de 2 de janeiro de 2001, no tocante à formatação dos passaportes portugueses, resultarão em substancial diminuição da possibilidade de fraude. Até o momento, não detém dados que possibilitem estabelecer uma conexão entre brasileiros e as quadrilhas que agem em Portugal, alegando, inclusive, que as autoridades italianas não estariam repassando informações adicionais sobre a ocorrência de furto de passaportes em branco nos consulados portugueses em Genebra/Suíça e Vizeu/Portugal. Informou, ainda, sobre a existência de uma quadrilha de fraudadores (grupo de Governador Valadares) que estaria enviando brasileiros para os USA, via Portugal. Abordou, também, a preocupante questão do forte fluxo migratório de brasileiros que, em Portugal, passam a viver em condições precárias, assumindo postos de trabalho na construção civil, casando-se com prostitutas para obter visto de permanência, principalmente nas regiões de Mafra e de Costa de Taparica. Seriam responsáveis pela migração desses brasileiros intermediários de mão-de-obra e agências de viagem.

Do encontro com o Deputado Octávio Teixeira

O Deputado Octávio Teixeira, do Grupo parlamentar do PCP - Assembléia da República, declarou que, no âmbito do Parlamento Português, registrou-se tão-somente a iniciativa de apresentação de um Requerimento de Informações sobre as denúncias veiculadas na imprensa acerca do surgimento de passaportes falsos, do Deputado Hermínio Loureiro, do PSD (Partido da bancada governista), em anexo. Informou sobre a existência de problemas no futebol português, que age com total independência, financiado por off shores e máfias.

Paralelamente, alertou para a situação degradante e precária em que vivem brasileiros (principalmente nas ilhas de Açores), entregando matéria publicada no jornal "Público", sobre o assunto.

Sobre a eficácia das entidades policiais, ressaltou que existe confiança na qualidade dos trabalhos desenvolvidos.

Do encontro com pessoas envolvidas no processo
de aquisição de passaportes

O Sr. Antônio Carlos de Almeida Castro apresentou-se como advogado do Sr. Juan Figuer, que teria sido enviado a Portugal pelo seu cliente para esclarecer fatos relativos ao Caso Edu, propondo-se, inclusive, a comparecer a uma reunião acompanhado de pessoas que deteriam informações sobre o assunto (advogado João Gonçalves, empresário espanhol Hermínio Menendez e o empresário ioguslavo Miroslav Nestorovic).

Os Srs. Hermínio Menendez e Miroslav Nestorovic, acompanhados do seu advogado de nacionalidade portuguesa, Dr. João Gonçalves, apresentaram-se como sócios em um empreendimento - Centro Desportivo em Marbella, Espanha, denominado Marpafut - local que seria utilizado por grandes times do mundo inteiro para pré-temporadas. O Sr. Menendez informou ter sido Diretor-Geral do Clube Sevilha, Sub-Diretor-Geral do Sporting da Espanha e detentor de 3 medalhas olímpicas.
Perguntado sobre seu relacionamento com o Sr. Juan Figuer, Sr. Nenendez negou manter sociedade com o mesmo, informando ser apenas um colaborador, tendo intermediado a realização de jogos, torneios e cuidado dos interesses de alguns jogadores na Espanha, cujos passes foram negociados pelo Sr. Juan Figuer. Mantém escritório em Madri (Padre Darnian 42-10, Madrid, fone: 913458981).

Passaram a relatar o seguinte:

O avô do Edu seria português. O Sr. Juan Figuer teria comentado com o Sr. Menendez que estaria negociando o passe do jogador brasileiro Edu com o Clube Arsenal da Inglaterra e enfrentando dificuldades com o passaporte do jogador. Na qualidade de amigo, teria tentado ajudá-lo e comentou o caso com seu sócio iugoslavo, o Sr. Nestorovic, que, em Marpafut, conversando sobre o assunto com um português de nome Caldeira (branco, cabelos negros, boa apresentação, de 35 a 40 anos, fone: 00351 918325370), soube que o mesmo tinha uma empresa por meio da qual poderia resolver o problema do passaporte do jogador em Portugal, em duas semanas. Em troca, queria tão-somente vaga nos meses de janeiro e fevereiro de 2001 no Centro Desportivo Marpafut para uma equipe alemã de futebol. O Sr. Caldeira comprometeu-se a entregar o passaporte português do jogador em 2 semanas. Para viabilizar a confecção do passaporte, o Sr. Nestorovic entregou documentos do jogador Edu para o Sr. Caldeira em Marbella, que, após 30 a 45 dias, entregou-lhe o passaporte português do jogador Ed. O Sr. Nestorovic repassou o passaporte para o Sr. Menendez que, em Londres/Inglaterra, entregou ao Sr. David Tean, funcionário do Clube Arsenal, que, após fazer uma cópia do documento devolveu o original. Edu encontrava-se em Londres para fazer exames médicos, oportunidade em que, na presença do Sr. Marcel Figuer, recebeu seu passaporte português, retornando ao Brasil. O Sr. Menendez e o Sr. Nestorovic afirmam que não houve participação do Sr. Juan Figuer neste caso de emissão do passaporte português do jogador Edu.

Em espécie, o Sr. Nestorovic entregou ao Sr. Caldeira mais ou menos 400 dólares para pagamento de taxas e serviços relativos à emissão do passaporte em Lisboa, afirmando não recordar o valor exato que teria repassado (68 ou 86 mil pessetas). Os encontros entre os dois ocorreram em Marbella (duas vezes) e os demais contatos foram telefônicos (três vezes).

O Sr. Nestorovic afirmou, ainda, ter ido a Lisboa apenas quando o caso veio à tona, em julho deste ano, alertado que foi pelo Sr. Hermínio.
Os advogados e empresários presentes ao encontro afirmaram desconhecer se o Sr. Juan Figuer seria empresário dos jogadores Dida, Marcos Assunção, Jorginho e Alberto. Na oportunidade, o Dr. Antônio Carlos ligou para o Sr. Marcel Figuer que afirmou serem (ele e seu pai, Sr. Juan Figuer) empresários apenas do jogador Warley. O passe do jogador foi vendido ao clube italiano Udinese, que se responsabilizara pela sua documentação.

O Sr. Nestorovic informou, também, que o Sr. Caldeira teria afirmado que, no caso do passaporte português do jogador Edu, fora auxiliado por dois portugueses: o Sr. Joaquim Silva residente à Av. Dom Carlos I, nº 2770, Amadora/Portugal, fone 9653.66866) e o Sr. Domingos Djalo (residente à, Av. 25 de Abril nº 7, loja 2750, Cintra/Portugal, fone 9670.35405). Essa informação do Sr. Nestorovic obteve quando o caso do passaporte Edu foi noticiado. Apesar de ter tentado manter contato telefônico com as pessoas nominadas, o Sr. Nestorovic afirmou não ter conseguido contatá-las.

Informou, ainda, o Dr. Gonçalves que o Sr. Caldeira foi recebido em seu escritório por seus auxiliares, acompanhado do Sr. Nestorovic, oportunidade em que devolveu os documentos do avô do Edu, tais como, certidões de nascimento e de casamento. Concluíram, afirmando que iriam registrar queixa na polícia portuguesa contra o Sr. Caldeira .


DAS INVESTIGAÇÕES REALIZADAS EM VICENZA, NA ITÁLIA

Dos contatos com jornalistas em Vicenza

Em Vicenza, foi mantido contato com os jornalistas Pier Paolo Marino, da imprensa italiana, e Paola Roleta, da imprensa portuguesa, com os quais foram trocadas impressões sobre o curso da diligência. Os jornalistas foram incisivos em afirmar o envolvimento do empresário Juan /Figuer com grande número de jogadores portadores de passaporte sob investigação, entre eles Marcos Assunção e Alberto, fato peremptoriamente negado pelo representante do empresário Juan Figuer em Portugal.

Dos relatos feitos pelo Dr. Stefano Sartori

Dr. Stefano Sartori, Responsável do Setor Sindical da "Associazione Calciatori Professionisti Italiani" relatou que, sobre a emissão de passaportes falsos, só dispõe das informações veiculadas pela imprensa. A Associação possui uma relação com os nomes dos jogadores brasileiros e argentinos no futebol italiano, que demonstra ter o número de jogadores dessas nacionalidades crescido nestes últimos cinco anos. Dr. Sartori acredita que esse crescimento decorre da sentença Bosman (jogador do Liege da Bélgica), que, a partir de dezembro de 1995, permitiu ampla liberdade de circulação de jogadores de futebol na União Européia. Isso estimulou o surgimento de passaportes falsos, não apenas de nacionalidade portuguesa, mas também espanhóis e italianos. A Associação, por intermédio de uma greve, conseguiu limitar o número de jogadores estrangeiros (extracomunitários) nas equipes italianas (máximo de cinco jogadores por equipe). Afirmou que os grandes responsáveis pela situações irregulares dos passaportes são os clubes e os procuradores dos jogadores, ressaltando sua preocupação com a presença de menores no futebol italiano. Segundo registro do Setor Juvenil e Escolar da Federação Italiana de Futebol, existem 4.809 menores, na faixa de 6 a 16 anos, extracomunitários, de várias nacionalidades, atuando no futebol italiano. Informou, ainda, não saber se algum procurador de jogador de futebol estaria respondendo processo na Justiça.

Das conversas mantidas com autoridades policiais

Os Drs. Marcello Moracca, Delegado de Vicenza (Questore di Vicenza), e Edoardo Cuozzo, Dirigente do Departamento de Estrangeiros (Ufficio Stranieri), informaram que os jogadores brasileiros entram na Itália com passaporte brasileiro. Posteriormente é que apresentam o passaporte comunitário. Há processos correndo naquela instituição para apurar os crimes de falsidade ideológica e de favorecimento de imigração clandestina contra Careca, Jeda, Dedé e Mario Pavan, em fase de instrução. O juiz encarregado do processo, Dr. Mazza, irá decidir quanto à abertura ou não do processo criminal.

Informou também a autoridade policial que no contrato de venda do passe do jogador Jeda encontram-se estipulados dois valores: US$ 300 mil, na hipótese de passaporte extracomunitário, e US$ 1 milhão, se obtivesse passaporte comunitário. Acusa dificuldade para prestar informações sobre casos ocorridos em outras regiões, haja vista que a Questura di Vicenza tem jurisdição apenas sobre aquela região.

Sobre o contrato do jogador Dedé, informou que o mesmo é de US$ 600 mil e refere-se tão somente à hipótese de porte de passaporte comunitário.

Sobre o processo contra o ex-jogador e empresário Careca, informou a autoridade policial que o mesmo já havia prestado depoimento em 25 de novembro, tendo a inquirição durado 7 horas.

Por sugestão do Dr. Marcello Moracca, foi solicitado ao Consulado Brasileiro em Milão que encaminhasse oficialmente documento requerendo cópia do inteiro teor do referido processo, conforme cópia anexa (Anexo). A solicitação foi atendida pelo juiz e os documentos, dado o grande volume, serão encaminhados, por correio, de Vicenza para Milão e, posteriormente, para esta CPI.

Das informações prestadas pelo jogador Jedaias Capucho Neves

O jogador Jeda, Jedais Capucho Neves, informou que chegou à Itália levado pelo ex-jogador Careca. Jogava, à época, no Clube União São João de Araras que o emprestou ao Clube campinas de propriedade dos ex-jogadores Careca e Edmar. Na Itália, participou de um torneio conhecido como Copa Carnevale na toscana, do qual foi vice-artilheiro.

Retornando ao Brasil, voltou a jogar normalmente no União. Em razão de sua atuação destacada na Itália, despertou interesse do Clube de Vicenza, que enviou ao Brasil um de seus diretores de nome Manfredone.

As negociações foram intermediadas pelo Careca que, nesta ocasião, lhe perguntou se tinha alguma ascendência portuguesa. Jeda informou ao Careca ser possível, mas que não teria documentos comprobatórios, nem meios para obtê-los.

Em junho de 2000, o atleta realizou teste no Clube Vicenza, acompanhado do Sr. José Mário Pavan, presidente do União, e do ex-jogador Careca. Nessa oportunidade, o jogador Jeda utilizou passaporte brasileiro, tanto para entrar, quanto para sair da Itália.

Numa reunião preliminar destinada a estabelecer as condições para assinatura do contrato, houve discordância quanto às bases financeiras oferecidas. Acertadas as condições, foi assinado o contrato do atleta com o clube, sem cláusula sobre porte de passaporte comunitário. Posteriormente, afirmou o jogador Jeda, ficou sabendo que o contrato de transferência do Clube União São João para o Vicenza teria dois valores: US$ 300 mil, se o passaporte fosse extracomunitário, e US$ 1 milhão, na hipótese de obter passaporte comunitário.

Lembrou que, em março de 2000, havia entregue documentação para a emissão de novo passaporte, sem indicar, entretanto, que tivesse ascendência portuguesa. Essa documentação foi entregue ao Careca, por intermédio de um funcionário em Campinas.

Soube, posteriormente, por intermédio do Sr. Mário Pavan, que Edmar havia conseguido o passaporte comunitário. O Sr. Paiva foi a Portugal para buscar o documento e fez contato com o Jeda para que este fosse a Milão a fim de assinar o passaporte. Isto feito, foi o passaporte português do jogador entregue ao Sr. Massimo Breash, italiano e procurador do Jeda na Itália, que o entregou ao Clube Vicenza. Nesta oportunidade, Jeda havia retornada a Bari, onde se encontrava em companhia de um amigo, o jogador João Paulo.

O jogador Jeda afirmou que teria questionado o Sr. Edmar, por telefone, quanto à legalidade de seu passaporte português, tendo sempre sido informado de que o documento era legal.

Informou o jogador que seu passaporte e o do Dedé foram confeccionados na mesma época. Em setembro deste ano, Jeda foi informado pelo Clube Vicenza que a Federação Italiana havia comunicado que os passaportes (do Jeda e do Dedé) não tinham registro no Consulado português.

Descoberta a fraude do passaporte. Jeda foi orientado pela diretoria do Vicenza para que o entregasse à questura de Vicenza. O funcionário responsável pelo caso naquela questura, Sr. Cozzo, recomendou ao jogador que retornasse ao Brasil para obter visto, legalizando sua situação na Itália. Assim procedeu, obtendo junto ao Consulado italiano em São Paulo o visto necessário, tendo contado com o apoio do Sr. Eliseu de Oliveira (Tiroga), seu empresário responsável pela venda de seu passe ao União São João.

Retornando à Itália, foi intimado a comparecer à questura de Vicenza, ocasião em que foi indiciado em inquérito.

O atleta declarou, ainda, não saber o real valor da venda de seu passe, afirmando que, ao questionar o Careca sobre os 15% sobre o valor do referido passe a que faria jus, foi informado que para ter direito a recebê-los, deveria ter estado, no mínimo, por um ano no clube União São João. Disse, ainda, não ter recebido qualquer valor a título de luvas. Recebe, tão-somente, seu salário e está inscrito na Federação Italiana como atleta extracomunitário.

Afirmou, também, ter ouvido um diretor do Vicenza, bastante nervoso, afirmar que iria recuperar o dinheiro que havia pago a mais pelo seu passe, de qualquer forma.


DAS INVESTIGAÇÕES FEITAS EM MILÃO, NA ITÁLIA

Das informações prestadas pelo Secretário-Geral da Liga Calcio

A Posição da Liga Calcio frente à Questão da Reserva de Mercado o Dr. Giorgio Marchetti, Secretário Geral da Liga Calcio, declarou que as únicas informações que dispunha sobre a questão dos passaportes falsos eram aquelas veiculadas pela imprensa, afirmando ter conhecimento sobre os processos que estavam aguardando uma posição da magistratura.

Quando perguntado sobre os contratos baseados em passaportes falsos, como o do Jeda e o do Dedé, disse que a Liga não mantinha controle sobre os contratos, afirmando saber que, em várias cidades, tais como Vicenza, Milão, Udine e Perugia, estavam sendo efetuadas investigações sobre brasileiros e argentinos, nesta situação.

A exemplo da Associação de jogadores, declarou-se favorável à manutenção da reserva de mercado, considerando, entretanto, estar cada vez mais difícil a sua manutenção, em decorrência dos tratados da Comunidade Européia.

Sobre a circulação de trabalhadores, declarou considerar discriminatória a qualificação dos jogadores em comunitários e extracomunitários, e que tal prática induz a práticas ilegais.

Sobre o caso do jogador nigeriano Ikonga, de um time da 3ª divisão do futebol italiano, que obteve na Justiça o direito de jogar sem obedecer à regra da reserva de mercado, afirmou ser esta decisão da justiça um marco que poderia alterar o mercado italiano, liberando-o completamente.

Afirmou, ainda, que a União Européia estaria contestando a FIFA sobre as normas para contratação de jogadores e que, qualquer mudança nas regras implicaria repercussão nos demais países do mundo.

Quando perguntado sobre a questão dos menores estrangeiros que atuam no futebol italiano, informou que a justiça italiana trata de várias irregularidades, não apenas as ocorridas no âmbito do futebol, como também as relativas a pedofilia e a prostituição. Informou, também, que a Liga cuida tão-somente das questões da série A., sendo da responsabilidade da Federação Italiana de Futebol os casos dos menores.

Do contato feito com o Delegado de Milão

Acerca da situação irregular de brasileiros na Itália, o Dr. Giovanni Finazzo, Delegado de Milão (Questore di Milano), relatou que o caso Dida, do clube Milan, decorre do caso Warley, amplamente divulgado pela imprensa. O presidente do clube, ao constatar a semelhança entre as assinaturas constantes dos passaportes dos dois atletas, procurou a questura de Milão e denunciou a irregularidade notada no passaporte do Dida. A caderneta e os dados eram absolutamente falsos.

Por causa da irregularidade constatada, o jogador Dida responde à acusação de falsidade ideológica. O processo encontra-se em fase de instrução e foi enviado, em 4 de outubro do corrente ano, para o juiz encarregado do assunto, Dr. Raimundinho.

Questionado sobre outros casos de brasileiros em situação irregular naquele país, apontou, como mais premente a situação de diversos travestis que chegam ao país com contrato de trabalho de operário ou de empregado doméstico ou como turista. Em ambos os casos, não necessitam visto.


DAS INVESTIGAÇÔES REALIZADAS NO BRASIL

Em sequência aos trabalhos de investigação da sub-comissão, no Brasil, no âmbito da CPI, foram realizadas audiências públicas oitiva de pessoas cujas atividades evidenciaram envolvimento direto ou indireto, com a emissão de passaportes falsos para jogador de futebol.

Fruto desse trabalho foram os depoimentos a seguir, que passamos a analisar afim de investigar mais detalhadamente esse esquemas de passaportes e identificar os responsavéis que essas atividades ilegais.

Depoimento do Sr. Luiz Landir Amim Castro - Presidente do Moto Clube. Do Maranhão.

O depoente informou sobre a venda dos jogadores Kléber e Delson, este vendido para o Monastir da Tunísia. O dinheiro relativo a essa venda foi recebido pelo Sr. Antônio José Cassas Lima, ex-Presidente do Conselho Deliberativo do Moto.

De acordo com o depoente, existem, na Bélgica, cerca de quarenta e oito pessoas que tentaram ser jogadores de futebol. Um dos meninos enviados ao exterior foi o Oliveira, filho do atleta Zé Zico do Moto Clube do Maranhão. As notícias divulgadas sobre essa transação apontavam como responsáveis os Srs. Cassas de Lima e Braid Ribeiro. Braid Ribeiro é um empresário, que se encontra hoje na Tunísia. Outro empresário citado pelo depoente foi Oceonir Barreto, que também atua na transferência de jogadores do Maranhão para outros pontos, no eixo Rio/São Paulo/Paraná.
Confirmou também que, para vir do País, todo atleta tem de passar pela Federação local.
Indagado sobre as carteiras de atletas dos jogadores, o depoente confirmou que para sua confecção é necessária a apresentação da certidão de casamento. Concernente à diferença entre a idade constante da certidão de nascimento e aquela lançado na carteira, explicou que quem participa do registro é a Federação Maranhense. O clube prepara as carteiras e as leva à Federação para sua respectiva homologação. Há um departamento específico de registro de jogadores. Foi apontado o nome do Sr. Raimundo Nonato como o diretor desse departamento.

Depoimento do Sr. Antônio Cassas de Lima

Disse o depoente conhecer o empresário Rubolotta. Segundo o depoente, Rubolotta estava à procura de jogadores no Brasil e ele o fez com que no Estado do Maranhão há vários jogadores bons. Desse modo, Rubolotta foi ao Maranhão e comprou diversos jogadores vendidos por Presidentes dos clubes. Confirmou a venda dos jogadores Delson Pereira da Silva e Domingos Marinho Rosa Júnior para a Tunísia. Segundo o depoente, o responsável pela venda foi o Sr. Henrique de Moraes Rego, Presidente do Moto em 98.

Negou, todavia, que existem jogadores menores entre os que são enviados ao exterior.

Citou o depoente vários outros nomes de jogadores enviados ao exterior. Entre eles: Vamberto, Rubenilson, Clayton, Geraldo, Oliveira, Domingos Júnior.

Vários jogadores levados ao exterior foram indicados pelo depoente.

Disse ter ouvido falar no caso do jogadores Jackson, que tem uma certidão de nascimento sem a data de 1977 e uma ficha na Confederação Brasileira de Futebol com a data de 1973. Afirmou que há casos em que até mesmo o nome foi mudado.

As falsificações são providenciadas pelos empresários que o depoente denominou de "empresários barca-furada" ou "bolso-furado".

O depoente confirmou que chegou a assinar um documento relativo ao jogador Gil, com dados que não eram dele.

Depoimentos dos Srs. Antônio de Oliveira, Edmar Bernardes, André Augusto Leone, Eliseu Oliveira e José Mário Pavan

Os pontos mais importantes destacados nestes depoimentos são os seguintes:

O Sr. Antonio Oliveira reportou-se à transação de transferência dos jogadores Jeda e Dedé para a Vicenza da Itália. Todavia, a existência de um passaporte emitido por um país da Europa era importante, já que eles entrariam não como extra comunitários, mas como comunitários. Daí a indagação sobre a existência de parentes portugueses.

Esses jogadores pertenciam ao Campinas Futebol Clube, conforme afirmação do Sr. Edmar Bernardes.

O Campinas realiza um trabalho com atletas jovens e tem uma escola de futebol para quinhentos alunos, na faixa de cinco a dezesseis anos.
O Sr. Eliseu Oliveira se denominou um olheiro do futebol, e não empresário. Disse que o primeiro jogador seu a ir para a Europa através do Careca e do Edmar, foi o Jeda.

Disse, ainda, que foi ele quem encaminhou a documentação ao escritório do Careca.

Quando ocorreu a negociação o depoente foi convidado a viajar, pelo Vicenza, para acertar o contrato do atleta.

Foi-lhe perguntado, quando da negociação, se o jogador era ou não comunitário. O depoente então informou que essa documentação estava sendo providenciada. Essa negociação foi que resultou na produção do passaporte do jogador Jeda.

Restou claro, dos depoimentos, que havia dois valores, dependendo de ser o jogador comunitário ou não. Daí o interesse dos agenciadores em providenciar passaporte de um país europeu.

De acordo com o depoente Edmar Bernardes quem providenciou o passaporte português para o jogador Jeda foi o Sr. Jimmy Martins, contratado para realizar os trabalhos de despachante. Este mesmo Jimmy Martins providenciou o passaporte português do jogador Dedé.

Recebido o passaporte do Dedé das mãos de Jimmy Martins, o Sr. Edmar Bernardes foi até a Itália entregá-lo ao Vicenza. O passaporte do jogador Jeda foi entregue ao Vicenza pelo Sr. José Mário Pavan, após tê-lo recebido em Portugal das mãos de Jimmy Martins.

Coube ao Sr. Antônio de Oliveira Filho a contratação dos serviços de Jimmy Martins para conseguir os passaportes portugueses dos jogadores Jeda e Dedé.

O depoente Antônio de Oliveira Filho afirmou que Edgar Moura também era parceiro nessas transações com jogadores e agora está movendo um processo contra ele. Todavia, o depoente afirma possuir documentos que comprovam o envolvimento de Edgar Moura nesses negócios.

O preço do passaporte, de acordo com o Sr. Antônio de Oliveira Filho ficava em torno de quarenta mil reais, valor cobrado por Jimmy Martins. O passe do jogador Dedé teria custado algo em torno de 350 mil dólares.
De acordo com o depoente Edmar Bernardes o passe de um jogador comunitário está em torno de um milhão. Não sendo comunitário, o valor fica em 300 mil. Disse, ainda, o Sr. Edmar Bernardes que Edgar Moura foi um parceiro que ajudou a bancar a viagem, pois eles não tinham o dinheiro para fazê-lo. Desse modo Edgar teria um percentual em cima do sucesso obtido com a negociação dos jogadores.

Foi mencionado, pelo depoente Antônio de Oliveira, o nome do Sr. Máximo Briaschi como um procurador que participou das negociações.
O Sr. André Augusto Leone, o Dedé, afirmou que não tinha certeza da sua descendência portuguesa. O caso teria sido entregue ao Edmar, para que a busca fosse feita.

Esse passaporte segundo o depoente encontra-se preso na questura.
O jogador Dedé confirmou que foi à questura para apresentação do seu passaporte, quando a diretoria do Vicenza lhe informou que seu passaporte era falso. O passaporte foi retido e o jogador está sendo processado na Itália por falsidade ideológica.

Foi informado, pelo Sr. Antônio Oliveira, a existência do Careca Sport Center, que tem uma escola de futebol, trabalhando com jovens de cinco, seis, até dezesseis ou dezessete anos. Os jovens que se destacam no Careca Sport Center são levados para o juvenil do Campinas.

Atualmente, de acordo com os depoentes, está sendo providenciada a requisição da cidadania por parte do jogador Dedé. Os mesmos empresários que providenciaram o passaporte português auxiliam o jogador no sentido de conseguir um passaporte italiano, mesmo depois de descoberta a fraude em relação aos passaporte português. O objetivo disto é recolocá-lo num time europeu.

O Sr. José Mário Pavan é Presidente do Clube União São João. Esse clube tem, segundo o depoente, cerca de 150 garotos acima de dezesseis anos praticando futebol em Araras. É exatamente do União São João a origem do jogador Jeda negociado para a Itália, com a intermediação de Edmar e Antônio Oliveira, o Careca.

De acordo com o depoente, foram os Srs. Edmar e Careca que o colocaram em contato com Jimmy Martins.

No entender do Sr. Mário Pavan, os maiores beneficiários com a venda do passe do jogador são os empresários e procuradores, que estão ricos.

O depoente confirmou também a existência de dois valores, um para o jogador com passaporte comunitário e outro quando o jogador é extracomunitário.

Nas negociações com o jogador Jeda, teria ficado claro que o valor de um milhão só seria pago, se o passaporte estivesse em ordem.

Afirmou, todavia, que jamais tirou passaporte para qualquer jogador. O passaporte do Jeda teria ficado em suas mãos por apenas uma hora e meia ou duas, que é o tempo de vôo de Lisboa a Milão.

Quanto ao seu contato com Jimmy Martins, disse ter ficado máximo seis minutos, no hotel, e três, no aeroporto, em sua companhia. Ainda no seu entender, o culpado por todo esse problema dos passaportes falsos é o Sr. Jimmy Martins, que, de acordo com investigações do depoente, chama-se César.

Indagado sobre negociações com jogadores para o exterior, afirmou que o União São João vendeu cerca de dez jogadores. Quanto ao Sr. Eliseu Oliveira, o Tiroga, trata-se, segundo o depoente, de uma pessoa de confiança do União São João, que opina sobre a qualidade técnica do jogador.

Disse ainda que só vendeu o jogador porque os Srs. Careca e Edmar lhe garantiram que a mãe de Jeda era Portuguesa e que o jogador era português, após terem colhido a documentação respectiva.

Relatou que, na primeira reunião como Vicenza, na qual estavam presentes os Srs. Careca, Edmar e Máximo Briaschi, foi informado de que a quantia pretendida pelo clube só seria paga se o jogador tivesse um passaporte comunitário.

Todavia, entra em contradição o depoente, ao dizer que tinha exigido quinhentos mil dólares pelo jogador, mas acabou aceitando trezentos mil, mesmo sabendo da existência do passaporte comunitário, que segundo Edmar e Careca era "quente".

Este fato também se contrapõe ao depoimento do Sr. Edmar, segundo o qual o próprio Sr. José Martins Pavan é quem teria proposto valores diferenciados em face do passaporte comunitário.

Negou o depoente José Mário Pavan que esteja sendo processado pela justiça italiana por facilitação de imigração clandestina. Informou, ainda, o depoente que para uma transferência internacional, não é a Federação local que a autoriza, mas a CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL.


DO DEPOIMENTO DO SR. GEORLAN GOMES BASTOS

Relatou o depoente que foi procurado na sua cidade, Matinha, no Maranhão, por um senhor de nome Araújo, que lhe fez uma proposta para jogar fora do Brasil no time espanhol Lorca. Essa transferência se deu através de documentação forjada a partir de documentos de outra pessoa.

Um amigo seu, de nome Ronaldo, o apresentou a esse senhor Araújo, que se identificou como sendo Vice-Presidente do Americano de Bacabal. Assim, se pronunciou o depoente sobre a proposta feita:

"Ele disse que ele tinha um documento, não é ? Em sua posse, me mostrou o documento, mas eu não cheguei a olhar na hora. Aí ele disse: "Só que tu vai ter que tirar tuas fotos urgentes, umas foto, e vem aqui." Aí eu fui, tirei as fotos, ele me deu 10 reais, eu tirei as fotos, voltei á casa dele, aí foi que ele foi me explicar que era um documento que, tipo um documento de uma pessoa que já não existia mais, que tinha, não tinha tido o atestado de óbito, e que não era para mim me preocupar com isso, que era lá do interiorzão, que ninguém ia, ninguém ia perceber nada, que apenas que tudo ia dar certo, que para não me preocupar com tudo. (...) Na hora, eu não cheguei a olhar. Depois, que eu voltei com as fotos, que ele foi me explicar tudinho direitinho o que é que eu tinha que fazer. Aí ele mandou que eu, que eu tinha que tirar os documentos, não é? Para poder tirar o passaporte. Eu falei que eu não sabia onde é que tirava os documentos. Ele disse que não era para eu me preocupar, no outro dia alguém ia me procurar. Aí eu fui para casa do meu tio, e, no outro dia, uma pessoa me ligou, era para mim encontrar ele num local, pegar um ônibus, me explicou tudinho direitinho. Eu fui, me encontrei com ele. Aí chegou no Shopping do Cidadão, eu já com a documentação, com a certidão que o Araújo tinha me entregue, aí eu tirei os documentos, tive que colocar o dedo lá."

O depoente conta que tirou todos os documentos na ocasião. Com essa documentação ele foi até o Araújo novamente, que providenciou toda a documentação e a levou para a Federação Maranhense de Futebol.

Feito o registro, Araújo teria dito ao depoente:

"Ô, Gil, eu já conversei com o Clóvis que eu tenho um jogador muito bom na minha mão e tal."

Foi então que o depoente conheceu o Sr. Clóvis Dias, tendo-se encontrado com ele no Aeroporto de Fortaleza. Alguns dias depois o depoente viajou para a Espanha, com a documentação nova. Desse modo, ele passou a ter dois passaportes: um verdadeiro e outro falso.

Chegando à Espanha, Gil fez teste num time chamado Hércules. O técnico não o aprovou, porém uma pessoa do Lorca que observava o treinamento o convocou para jogar nesse time.

Nada tinha acertado até então sobre pagamento ou contrato com o jogador. No Lorca o jogador assinou contrato com salário em torno de quase quatro mil reais.

Posteriormente, o próprio Araújo veio a denunciar a ilegalidade que havia cometido, num momento em que se encontrava bêbado.

O passaporte utilizado pelo jogador era em nome de Jurcilan Rodrigues. No Lorca, o jogador recebeu outro passaporte dado pelo clube. Tratava-se de um passaporte português. Assim, Gil passou a ter três passaportes. Segundo me disseram, esse documento só serviria para jogar, porque havia muitos estrangeiros no clube.

Nessa ocasião, o Clóvis Dias ligou para o depoente e lhe avisou que o Araújo havia denunciado os fatos relativos ao passaporte falso. Então o depoente voltou ao Brasil, tendo ficado parado durante todo o ano de 2000.

Na época da falsificação dos documentos, o depoente tinha vinte anos, mas nos novos documentos, constava a idade de dezoito anos.

Quando retornou ao Brasil, o depoente descobriu que Jurcilan era uma pessoa viva.

A diminuição da idade nos documentos valoriza o passe do jogador lá fora, conforme explicou o depoente.

Para não ser identificado, o Sr. Araújo sugeriu ao depoente que, em vez de Gil, utilizasse o nome de Rodrigues.


DO DEPOIMENTO DO SR. CLÓVIS DIAS - Dirigente do Americano em Bacabal

Afirmou que conheceu o jogador Gil através de Francisco Alves Araújo.

Disse que não tinha como concluir pela falsidade dos documentos do jogador, uma vez que órgãos públicos responsáveis haviam emitido tais documentos como se fossem verdadeiros.

Relatou que quando soube das denúncias de Araújo ligou imediatamente para o jogador que confirmou a falsidade dos documentos e, neste momento, lhe disse para voltar imediatamente.

Disse também que tomaria todas as providências legais cabíveis para punir o Sr. Araújo.

Como era de se esperar, o depoente não assumiu qualquer culpa pelo episódio ocorrido com o jogador Gil.

Não negou, entretanto, que seu clube realiza venda de jogadores para outros países.


DEPOIMENTO DO SR. ALEX DIAS DE ALMEIDA - Jogador de Futebol do Saint- Etienne

O depoente foi para fora do País com um passaporte brasileiro, regular. Somente após disputar o campeonato francês e ser vice artilheiro pelo Saint-Etienne, fizeram-lhe a proposta de adquirir uma nacionalidade extracomunitária, o que poderia ajudar o clube. Assim foi-lhe proposto tirar um passaporte europeu.

O depoente então entregou os documentos ao clube, a mando do Presidente para o R. Edinho, empresário do Aloísio, amigo e companheiro do jogador Alex.

O depoente desconhece qualquer relacionamento de parentesco com portugueses. Todavia, assinou o passaporte, porque o clube tinha providenciado uma consulta junto à polícia francesa.

Esse passaporte, segundo o jogador, ficou com o clube e nunca foi por ele utilizado.

Posteriormente, houve uma denúncia quanto à falsidade do passaporte, o que acabou sendo confirmado pela polícia. O depoente desconfia de que a denúncia partiu de seu ex-treinador, que foi treinar o Toulouse. A denúncia foi feita um dia antes do jogo contra o Toulouse, do qual o jogador Alex não pôde participar.


DO DEPOIMENTO DO SR. JUAN FIGER SVIRSKI - Empresário e agente FIFA

Com relação ao caso do jogador Edu, relatou o seguinte:

"Edu estava sendo vendido ao Arsenal da Inglaterra e tinha direito ao passaporte comunitário. Seu avô é natural de Portugal, e que, pelas leis daquele país, dava-lhe o direito à nacionalidade portuguesa. Um empresário espanhol de minha relação, o Sr. Hermínio Menendez, atleta reconhecido na Espanha, único espanhol a ganhar três medalhas olímpicas, ligou-me e afirmou poder tirar o passaporte de Edu em um tempo não muito longo, porque o seu sócio em um centro de treinamento em Marbella afirmava conhecer pessoas que trabalhavam em Portugal. Os documentos foram encaminhados ao Sr. Hermínio, que, segundo ele próprio afirmou aos dois nobres Deputados que foram a Portugal, os entregou a um sócio que contratou o serviço de um despachante em Lisboa, com o intuito de agilizar a documentação. É como se se pagasse o serviço de uma agência de turismo para conseguir um visto com rapidez. Ocorre que, comprovou-se depois, que o tal despachante era uma pessoa desonesta e entregou um passaporte falso. Vejam bem, Srs. Deputados, eu próprio não acompanhei a contratação, não me envolvi com a retirada do passaporte e não poderia sequer sonhar ser este cidadão, que não conheci e que não conheço, um membro de uma quadrilha de falsificadores de passaportes. Quadrilha, sim, pois, ao que tudo indica, segundo os dignos Deputados desta Comissão levantaram em Portugal, a falsificação de passaportes de jogadores na Europa é apenas a ponta de um iceberg, pelo que se viu do excelente trabalho desta CPI na Europa. Há uma evidência de falsificação muito mais ampla, que mostram os desdobramentos da missão cumprida pelos nobres Deputados Pedro Celso e Jurandil Juarez, que alertaram a comunidade européia para estes fatos. Tão logo soube dos fatos, comuniquei-me com o Sr. Hermínio, que, de pronto, se manifestou, isentando-me de qualquer responsabilidade. Fiz mais: pedi a meu advogado que fosse a Portugal a fim de contribuir para o êxito das investigações, fornecendo o nome de Hermínio e solicitando a este que estivesse à disposição dos Srs. Deputados brasileiros e da Polícia portuguesa. Mais ainda, Srs. Deputados, procurei, junto ao jogador, um dos escritórios mais conceituados de Portugal, a fim de solucionar este problema, que estava se tornando enorme, a ponto de prejudicar seriamente a carreira de um jovem jogador. Felizmente, hoje, Edu já está com seu passaporte português, ao qual já tinha direito, estando em plena atividade no Arsenal. Mas o que é grave, Srs. Deputados, é que eu fui vítima, tanto como o jogador, neste episódio grave e sério."

Afirmou o depoente que atua como agente de jogadores, representando os mesmos no Brasil e em qualquer país em onde um jogador poderia ser contratado. Na Europa, na América do Sul, em qualquer continente tem licença outorgada pela FIFA para atuar.

Disse representar a parte dos jogadores brasileiros, um jogador colombiano, que está prestando serviços ao Clube San Lorenzo de Almagro, de nome Pedro Portocarrero, que joga em San Lorenzo de Almagro.

Afirmou não ser proprietário de nenhum clube de futebol, nem mesmo dirigente.

Disse à Comissão que nenhum jogador por ele agenciado tem problema de adulteração de partidas de nascimento, de idade, de certidões de nascimento.

Indagado sobre a transformação do mercado de jogadores numa bolsa de mercadorias, respondeu que não existe bolsa de jogadores. O que existe é a necessidade dos clubes de tentar vender jogadores.

Afirmou que o jogador Zé Roberto foi transferido para o Central Español, de Uruguai e que ele intermediou a operação entre Real Madrid, Central Español e Associação Portuguesa de Desportos.

Indagado sobre notícias da imprensa de que teria conseguido os passaportes portugueses falsos para os atletas Warley, Jorginho Paulista e Alberto, respondeu que, desses três jogadores, é agente do atleta Warley. Dos outros atletas não é agente. Nem de Jorginho Paulista, nem de Alberto. No caso específico de Warley, este foi transferido também para o Udinese e se integrou a jogar como jogador brasileiro. Disse ter uma informação de que a senhora de Warley teria a possibilidade de obter algum passaporte italiano, até que foi informado pelo Sr. Warley de que ele havia obtido um passaporte português.

Afirmou que nunca transacionou um jogador com cláusula onde os preços variavam segundo a nacionalidade do jogador e que não é de seu conhecimento contratos que se realizam dessa maneira.

Explicou o seguinte sobre a supervalorização dos passes de alguns jogadores:

"Existem realmente certas diferenças entre o que é preço bruto e preço líquido. Quando um jogador é vendido por determinada quantia, e essa é uma quantia total, podem incluir diversos custos, como participação do próprio jogador, comissões e valor de passes. Também pode influir a parte de financiamentos, os times europeus, faz muito tempo, não estão comprando jogadores para pagamento a vista, compram jogadores com prazos que variam de acordo com o contrato do próprio jogador com o clube comprador. Como os clubes que vendem necessitam dos recursos financeiros, terminam obtendo dinheiro mediante despesas que pagam por financiamentos, e o preço que entra ao final que o clube recebe deve ser um preço inferior ao expressado no contrato, por quê? Porque estão estabelecidos todos esses custos, financiamentos, comissões, participação do próprio jogador na venda do passe. Completando sua pergunta referente à subvalorização de jogador, não conheço nenhum caso, não é do meu conhecimento."

Sobre a prisão do jogador no aeroporto, na Inglaterra, porque portava um passaporte português falso, o depoente respondeu o seguinte:

"Não foi preso; não se lhe permitiu a entrada na Inglaterra e o jogador teve que voltar para o Brasil. Posteriormente a todas essas coisas que ocorreram, ao que sucedeu com o Edu, eu tomei a intervenção para estabelecer, porque isso, para mim, foi uma grande surpresa, devido a que Edu, para obter seu passaporte, apresentou um sua primeira oportunidade toda sua documentação e acreditando que o avô dele, português e vivo, o pai, porém, tem todos os direitos de português e o filho também. Se entregou ao jogador Edu um passaporte falso. Aí quando Edu retornou ao Brasil, eu fiquei muito preocupado, comecei a fazer todas as averiguações necessárias e contratamos os serviços de um escritório de advocacia de Portugal e Inglaterra. Se ele entregou exatamente a mesma documentação, se seguiu toda a tramitação com o apoio do cônsul de Portugal em São Paulo, e o jogador Edu optou por seu passaporte português e com esse passaporte português foi jogar e prestar seus serviços profissionais ao Arsenal. Não poderia entrar na Inglaterra um jogador sem ser comunitário ou poderia entrar como estrangeiro, por uma regulamentação específica da Inglaterra, que não haja participado de no mínimo de 75% dos jogos de suas respectivas seleções. Edu não poderia ir como estrangeiro, porque não tinha esses 75% de jogos e foi jogar ao Arsenal com seu novo passaporte português que eu pedi aqui a fotocópia dos documentos e entregar à Presidência. (...) Nós estamos encaminhando toda a documentação de Warley, do Sr. Warley e da Senhora Warley, que está totalmente feita para poder obter a cidadania italiana, a mulher do Warley, não o Warley. Posteriormente quando sua senhora conseguir sua efetiva cidadania, o jogador pode optar pela cidadania da esposa."

Sobre o valor do passaporte falso de Edu, disse ter a informação de que custou o equivalente a 500 dólares.

Confirmou que conhece o Sr. Hermínio Menendez, que é colaborador seu e de outros agentes e que se trata de uma espécie de consultor que utiliza, quando necessita de alguma informação referente à Espanha.
Negou que tenha feito qualquer tipo de negociação com o Clube Betis, referentemente ao jogador Denilson.


DEPOIMENTO DO SR. AFONSO MARTINS COSTA FILHO (Jimmy Martins)

Acerca da venda de brasileiros menores para o exterior, o depoente disse o seguinte: "Bem, sobre os jogadores menores, em absoluto, em nenhum momento na minha vida, sozinho ou em companhia de outros empresários, eu levei garotos para o exterior. Essa é a número um. Sobre os passaportes falsos: por meios que pensava na época serem normais e legais, eu realmente ajudei alguns empresários brasileiros na obtenção de três ou quatro passaportes de jogadores, entre eles Jeda, que estava em processo de venda para o exterior. Não havia na época, pelo menos na nossa visão, na visão empresarial, nenhuma ilegalidade nessa obtenção. Eu tratava com os despachantes que eu vou passar pra vocês, o Sr. Domingos Djalo e J. Caldeira, que vinham ao nosso encontro, meu e de outros vários empresários de futebol no Hotel Altis, de Lisboa, de propriedade de um ex-Presidente do Benfica, se não me engano é Dom Fernando o proprietário do hotel. A gente tinha que preencher requerimentos, como eu vou passar pra V.Sas., os senhores, os anexos com custas de documentos que provam que esses documentos saíam de dentro da polícia portuguesa. Isso é interessante para vocês. Eu sou culpado de ter sido enganado num procedimento que parecia legal. Os passaportes eram falsos? Pelo que se sabe hoje os passaportes..., na época... Desculpe, pelo que se sabe hoje, os passaportes não eram falsos. Eram feitos por gente interna da polícia de Portugal etc., etc. Houve jogadores que entraram, inclusive com esses documentos, e saíram de vários países com esses passaportes sem nunca terem sido barrados. E outra coisa: quando o jogador, ele recebia esse passaporte, inclusive na Itália, no caso o jogador Jeda, na Itália existe o que se chama de permesso de soggiorno. Isto é, o jogador tem que pegar o passaporte, levar para a questura, que é a Polícia Federal deles, e fica lá um dia, não sei quanto tempo que ficam, e eles devolvem ao clube. E isso não aconteceu em nenhum caso. Quer dizer, quando as coisas aconteceram, depois que houve aquele segundo check-in, que realmente descobriram todas essas ilegalidades. Essa investigação, por incrível que pareça, começou em abril do ano passado, sobre o jogador Veron, Juan Sebastião Veron, da Lazio. Que eu tenho aqui os recortes dos jornais, foi de abril de 2000. Eu acho o seguinte: se a Magistratura italiana tivesse agido com a firmeza que vocês estão agindo agora, o Senado italiano, nada disso teria acontecido depois. Porque teria tempo. A gente teria descoberto em tempo. Essas pessoas estão no futebol e teríamos..., seria um alerta pra gente, a gente não teria se metido nessa confusão toda. Então, vocês estão de parabéns, porque às vezes, muitas vezes, eu falo isso do coração, falam que nossa Justiça é lenta, que o nosso é isso, é aquilo. Mas, pelo que..., meus trinta anos que eu morei no exterior, eu sinto do coração que vocês estão adiantados em relação a eles. E vocês estão de parabéns por ter feito isso. Porque se tivesse acontecido isso... Por exemplo, o caso do jogador Veron em abril. Óbvio, se saiu em abril no jornal, é de dois a três meses antes, a Magistratura italiana sabia, e ninguém foi comunicado. Então, o que acontece? Inclusive o jogador Veron, já sabe que faz 14 meses que está com esse processo na Justiça italiana. Ontem foi reenviado por mais dois meses, porque não havia um "translador" em italiano para espanhol dentro da Magistratura italiana. Eu acho que é estranho, e eu gostaria de dizer isso, porque eu acho que vocês, V.Sas., desculpe, estão fazendo um trabalho e estão de parabéns pelo que estão fazendo. Inclusive há centenas de jogadores envolvidos, não só de países sul-americanos, como do leste europeu. Eu tenho aqui todas as reportagens que falam todo esse histórico que eu falei pra vocês, agora. Eu acho que talvez isso aconteça, porque eu acho que há gente dentro do Governo envolvida nessa história, principalmente de Portugal. Inclusive, eu sinto isso também nos próprios contatos que eu tive lá."

Disse conhecer o Presidente do time União São João de Araras e que teve a oportunidade de conhecê-lo uma vez em Lisboa, em Portugal, uma vez, quando houve o episódio do Antônio Oliveira da documentação que foi feita em Portugal.

Disse conhecer o Sr. Edmar.

Confirmou que teve contato com o Careca e algumas conversas com o Edmar.

Confirmou que o Careca o procurou, a fim de resolver problemas de documentos de jogadores, conseguindo passaportes portugueses para eles, e que recebeu a quantia de 40 mil reais pelos serviços prestados.

Disse que o levantamento dos dados dos brasileiros foram feitos por outros despachantes em Portugal.

Mencionou o nome do Sr. Caldeira, como um despachante relacionado à polícia de Portugal, atuando na área de imigração portuguesa.


DEPOIMENTO DO SR. ALOIZIO JOSÉ DA SILVA

Afirmou que foi para o Saint-Etienne com passaporte brasileiro.

Posteriormente o clube lhe ofereceu um passaporte europeu. Esse passaporte foi providenciado pelo clube que lhe trouxe o documento pronto para ser assinado.

Esse passaporte foi apreendido posteriormente pela polícia francesa.

O procedimento é sempre o mesmo. O clube iria averiguar qualquer parentesco do jogador com portugueses. O jogador sequer precisou ir a Portugal. Tudo foi providenciado pelo clube.

Disse o depoente que alguém denunciou a existência do passaporte falso, mas não soube dizer quem foi.


CONCLUSÃO DAS INVESTIGAÇÕES PRELIMINARES

É relevante considerar o resultado da missão em Portugal e na Itália, que se revestiu de êxito total. A agenda, ainda que muito extensa para o tempo disponível, foi cumprida na íntegra. Foram efetuados contatos com todas as principais autoridades de Lisboa, Milão e Vicenza, que estão tratando da questão dos passaportes falsos dos jogadores brasileiros, além de representantes da imprensa italiana e portuguesa e do setor do futebol italiano. Conclusivamente, pode-se afirmar que o epicentro da emissão desses documentos é Portugal, mas, das investigações policiais e judiciais, tanto de Portugal quanto da Itália, pode-se inferir que esta é uma praga que se alastra por toda Europa, em razão das vantagens que tem um jogador de futebol com passaporte comunitário, em relação ao portador de passaporte extracomunitário, com repercussão direta no Brasil. É uma extensa rede que envolve empresários, clubes e jogadores.

Levantada a ponta do tapete dos passaportes falsos, aparece também uma realidade maior e muito preocupante, relativa ao imigração ilegal de brasileiros. A rigor, pode-se afirmar que os jogadores são uma vertente de um problema muito mais complexo que envolve trabalhadores de todas as matizes, travestis, prostituição, tráfico de menores, entre outros. O pano de fundo são as oportunidades de trabalho que existiriam tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Assim, os brasileiros estão sendo iludidos por verdadeiras quadrilhas e aliciadores, com articulações no Brasil e na Europa, que vendem a ilusão de bons empregos e bons salários. Na Europa, essas pessoas ficam entregues à sua própria sorte, vivendo em condições subumanas. Em Portugal, existem verdadeiros guetos de brasileiros vivendo em situações deploráveis, dormindo em containers de lixo. A imprensa portuguesa denuncia fartamente a ocorrência de trabalho escravo nos Açores.

De todas as investigações realizadas dentro e fora do Brasil, resultantes de audiências públicas, entrevistas ou compulsão de documentos, não ficou dúvidas do envolvimento de clubes e seus dirigentes, empresários ou agenciadores e dos próprios jogadores na produção de passaportes falsos. Com esses documentos todos lucrariam. Os clubes, porque poderiam fugir da reserva de mercado imposta para jogadores extra-comunitários, no futebol europeu. Os intermediários (empresários, procuradores e agenciadores) pela valorização das transações. Em alguns casos o valor do passe do jogador mais que triplicava se ele tivesse um passaporte comunitário. E o jogador, pelas vantagens financeiros decorrentes e pela facilidade que teria para se transferir a um outro clube.

As investigações realizadas no Estado do Maranhão não deixam dúvidas quanto ao envolvimento de dirigentes da Federação Maranhense de Futebol e de dois clubes maranhenses, o Americano de Bacabal e o Moto Clube de São Luis, na adulteração da documentação pessoal de atletas para facilitar a falsificação de passaportes. E isso não é de agora. O atleta Raimundinho ( José Raimundo Rodrigues Lopes ), hoje aposentado, um dos melhores jogadores da história do futebol maranhense, inclusive com passagem pelo futebol do exterior, apesar de sua grande notoriedade no Estado, pôde fazer um novo registro na Federação, com o nome e idade adulterados. Com a nova documentação, adquiriu um passaporte português falso e foi jogar na Bélgica.

Mais recentemente, em 1999, aconteceu um caso escabroso, com um atleta assumido a identidade de uma outra pessoa. Foi o caso do jogador Gil (Georlan Gomes de Bastos) que passou a usar a documentação de Jucirlan Araújo, dois anos mais novo que ele. Com a nova identidade, adquiriu um passaporte português falso e foi atuar no futebol espanhol, no clube Lorca. A documentação falsificada foi conseguida com o concurso dos dirigentes do Clube Americano, de Bacabal, e o passaporte fornecido pelo próprio clube espanhol. Este caso está sendo investigado pela Polícia Civil do Maranhão.

Outro caso é do jogador Canhoto, também conhecido como Esquerdinha. Seu nome verdadeiro é Rozenilton Torres Araújo. Com um novo registro de nascimento, reduziu em 7 anos sua idade e estaria jogando na Bélgica.

O jogador Kleber , quando atuava no Moto Clube, também teve sua identidade adulterada quando esteve para ser transferido para o futebol francês . Descoberto, respondeu inquérito instaurado pela Polícia Federal. Hoje joga no Clube Atlético Paranaense.

Os casos dos jogadores Varley, Jeda e Dedé , que foram negociados com o futebol italiano, mostra também o envolvimento de agenciadores e dirigentes de clubes na falsificação de passaportes.

O jogador Varley ganhou notoriedade porque foi quem desencadeou a descoberta de passaportes falsos de jogadores brasileiros e de outras nacionalidades, na Itália. Quando o seu clube, a UDINESE foi jogar na Polônia constatou-se a falsidade do documento, que o atleta alega ter sido fornecido pela Diretoria do Clube.

Varley foi negociado para a UDINESE, através de seu empresário Juan Figer. Tanto o clube quanto o empresário sabiam que ele não tinha ascendência portuguesa.

Os jogadores Jeda e Dedé, foram negociados com o Clube Vicenza com a intermediação dos ex-jogadores e empresários Careca e Edmar Bernardes, tendo também participado das negociações o presidente do Clube S.João de Araras JOSÉ MÁRIO PAVAN. Todos sabiam que os atletas não tinha ascendência européia. Os passaportes falsos foram conseguidos através do empresário JIMMY MARTINS, que se dizia agente FIFA.

O caso do jogador EDU, negociado pelo Corinthians Paulista com o Clube Arsenal, da Inglaterra, guarda semelhança com os outros casos no que se refere ao envolvimento de dirigentes e empresários na falsificação de passaportes. Tem, no entanto, uma diferença básica: o atleta possui ascendência portuguesa, poderia, portanto, pleitear legalmente um passaporte português.

Aí parece que funcionou o costume do cachimbo. Talvez levado pelo hábito das facilidades, seu empresário JUAN FIGER, o mesmo de Varley, contratou os serviços de intermediários para conseguir o passaporte em Portugal. Uma história pouco verossímil, que passa por dois empresários, um espanhol e outro iugoslavo, e despachantes portugueses, resultou num passaporte falso que levou à detenção do jogador no aeroporto de Londres. Hoje a situação de EDU está regularizada, ostentando a dupla nacionalidade brasileira e portuguesa, mas o exemplo é ilustrativo do método utilizado para produzir documentação falsa.

Mais recentemente, surgiram os casos dos jogadores Alex e Aloísio, que foram negociados do Clube Goiás, do Estado do mesmo nome, para o Clube Saint - Etienne, da França. Em suas declarações, os dois afirmaram saber que não tinham ascendência portuguesa e que foram induzidos a assinar os passaportes falsos pela própria diretoria do Saint Etienne, na pessoa de seu presidente, Gérard Soler. Segundo eles os passaportes teriam sidos providenciados pelo empresário de ambos, o ex-jogador Edinho, que jogou no Clube Fluminense e na Seleção Brasileira.

O objetivo é, na verdade obter lucro com o passe do jogador. Nos casos de times europeus, se o jogador for comunitário, seu passe valerá muitas vezes mais que os dos jogadores extracomunitários. Chegou-se a falar aqui em valores como um milhão de dólares para o passe do jogador em passaporte europeu e trezentos mil para o jogador sem esse passaporte.

Daí o interesse de empresários e dirigentes de clubes na aquisição de passaportes falsos, especialmente portugueses, pelas facilidades, inclusive da língua, a fim de obter lucro bem maior na transação com o jogador para outros países.

Com estas investigações, a CPI dá um passo importante no sentido de extirpar esta prática criminosa que depõe contra as glórias do futebol brasileiro.


Deputado JURANDIL JUAREZ, Sub-Relator da CPI da NIKE, para assuntos de passaportes falsos

SUGESTÕES

FIFA

1. Instituição obrigatória de um cadastro de jogadores extra-comunitários, por clube. Esse cadastro seria encaminhado à UEFA e à FIFA, anualmente, que assim acompanhariam as mutações ocorridas. O objetivo seria evitar que um jogador inicialmente contratado como extra-comunitário fosse posteriormente inscrito como comunitário através da falsificação do seu passaporte.

2. Divulgação periódica e atualizada da lista dos Agentes FIFA, que estivessem regulamente autorizados pela Entidade para atividade de intermediação de negócios no futebol.

3. Descredenciamento do Agente FIFA envolvido em questão de falsificação de passaportes.

4. Comunicação obrigatória, pelos clubes, aos órgãos nacionais de controle de migração, da contratação de jogadores estrangeiros. Essa comunicação seria acompanhada de documentação do atleta, inclusive cópia do passaporte.

5. Uniformização dos procedimentos quanto às cotas estabelecida para os clubes na contratação de jogadores extra-comunitários.

CBF

1. Instituição de um cadastro de jogadores brasileiros negociados com o clubes estrangeiros. Esse cadastro, atualizado anualmente, seria encaminhado à CBF e à FIFA para efeito de acompanhamento das mutações ocorridas.

2. Divulgação periódica e atualizada da lista das pessoas credenciadas junto à ENTIDADE para intermediação de negócios no futebol.
3. Intervenção em clubes e federação nos quais comprovadamente existirem procedimentos de falsificação de documentos de atletas.

4. Descredenciar ou desautorizar agentes intermediadores que, comprovadamente, se envolvam na prática de facilitação de documentação falsa para atletas.

 

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