Judiciária confere documentos
de todos
os futebolistas estrangeiros
António Arnaldo Mesquita
e Francisco J. Marques
A Polícia Judiciária
(PJ), no âmbito do inquérito pendente no Departamento
de Investigação e Acção Penal
de Lisboa, vai proceder a uma exaustiva análise da
documentação entregue na Federação
Portuguesa de Futebol de todos os jogadores estrangeiros ali
inscritos pelos clubes de futebol, apurou o PÚBLICO.
Este inventário insere-se nas investigações
em curso em cinco países da União Europeia (Alemanha,
Espanha, França, Inglaterra e Itália) relacionados
com passaportes falsos, alguns dos quais terão sido
contrafeitos em Portugal.
Este caso parece uma bola de neve e foi
motivado pela necessidade de contornar o limite de jogadores
extra-comunitários a actuarem nos campeonatos da União
Europeia. Um dos expedientes usados traduziu-se na contrafacção
dos
elementos de identificação para atestar uma
suposta ascendência comunitária dos atletas,
aproveitando os estatutos especiais de que gozam os naturais
de países ibero-americanos, relativamente a Portugal
e à Espanha.
Dentro em breve, a PJ irá receber
cerca de duas dezenas de passaportes portugueses falsificados
já apreendidos pelos investigadores estrangeiros. Os
documentos irão ser analisados de forma a ser apurado
não só o tipo de falsificação
usada, como a autoria material e moral da mesma. Aquele número
pode vir a aumentar, dado que naqueles cinco países
está a ser feito um criterioso levantamento de todos
os futebolistas estrangeiros a actuarem nos
campeonatos dos cinco países da UE.
Em alguns casos, os futebolistas cuja
falsidade dos passaportes já foi determinada nem sequer
estiveram ao serviço de clubes portugueses, havendo
no entanto outros, como é o caso de Alex, que passaram
pelo campeonato nacional - jogou no Boavista.
Tal como sucedeu com o uruguaio Recoba,
do Inter, que abandonou Milão à pressa, Alex
também acabaria por regressar ao Brasil quando as autoridades
francesas detectaram irregularidades na sua documentação.
Uma infracção que ditou também ao Saint
Etiènne a perda de sete pontos.
Nos clubes portugueses ainda não
foi detectado nenhum jogador irregularmente inscrito, o que
terá também a ver com o facto dos jogadores
brasileiros o maior contingente de estrangeiros no
futebol nacional não necessitarem de passaporte
comunitário para contar como nacionais. Só agora,
no entanto, as autoridades portuguesas estão a iniciar
as investigações e os efeitos podem ser devastadores
e virem até a alterar as classificações
de campeonatos já disputados.
Segundo Nuno Albuquerque, da Liga de
Clubes, o Regulamento Disciplinar que rege as competições
profissionais (I e II ligas) pune com derrota, subtracção
de três pontos e multa entre 500 e dois mil contos (entre
2500 euros e dez mil euros) o clube infractor. Ou seja, se,
por exemplo, no FC Porto-Sporting de ontem um dos clubes tivesse
alinhado com um jogador irregularmente inscrito, a esse clube
seriam subtraídos quatro pontos (um pelo empate e três
pela infracção) e ainda seria fixada uma multa
pecuniária. O resultado da partida não sofreria,
no entanto, qualquer alteração e o outro clube
não ficaria com os pontos retirados ao infractor.
Como estas infracções prescrevem
ao fim de três anos (infracção muito grave),
podendo atingir os cinco no caso do ilícito ter implicações
penais, irregularidades praticadas em épocas anteriores
podem até obrigar a alterar classificações
já homologadas, de resto como aconteceu com o caso
de corrupção que envolveu o Leça. E em
caso algum o desconhecimento do clube servirá de atenuante,
pois é à entidade que inscreve o jogador que
cabe cuidar da legalidade da documentação apresentada.
Emerson é "português"
Um dos últimos futebolistas a
ser indiciado pelo alegado uso de passaporte falso foi Emerson,
um jogador brasileiro contratado pelo Belenenses e posteriormente
transferido para o FC do Porto. Actualmente vinculado ao Deportivo
da Corunha, de Espanha, Emerson naturalizou-se português
e como tal exibe um passaporte nacional e legal, apurou o
PÚBLICO de fonte oficial.
Segundo o mesmo informador, outro jogador
que fez parte do plantel do FC Porto, Rubens Júnior,
foi inscrito na FPF ao abrigo do estatuto de igualdade de
direitos de que gozam os naturais do Brasil. É, portanto,
completamente descabido afirmar que tenha sido recentemente
dispensado pelo FC Porto por essa razão, como chegou
a ser noticiado. Um passaporte viciado em Portugal apenas
poderia ser útil a Rubens Júnior, caso fosse
transferido para um clube da União Europeia. Esse parece
ser o caso de um jogador actualmente a jogar fora do espaço
comunitário e que teria obtido um passaporte falso
português na expectativa de um dia ingressar num clube
da
UE. 

|