Entrevista com o deputado brasileiro
Jurandil Juarez
Por José Augusto Moreira
PÚBLICO Os factos apurados neste relatório
foram já oficialmente comunicados às autoridades
portuguesas?
Jurandil Juarez Estivemos em Portugal
no decurso das investigações e tivemos contacto
com todas as autoridades da polícia e da imigração,
a quem demos conta da informação recolhida.
Somos uma comissão de inquérito e só
quando o concluirmos apresentaremos os resultados.
P - Quer dizer, então, que este não
é ainda um relatório final?
J.J. - É um relatório preliminar
sobre Portugal e Itália. Faltam ainda idênticos
relatórios sobre Espanha, Holanda e Bélgica,
e um documento final terá depois que ser aprovado na
comissão, para mais tarde ser submetido à apreciação
do plenário da Câmara dos Deputados.
P- Porque é que foi elaborado este
relatório preliminar?
J.J. - Foi feito de acordo com uma solicitação
da FIFA, que pediu principalmente algumas sugestões
sobre como ultrapassar o problema. As conclusões finais
constarão de quatro relatórios parciais: um
sobre passaportes, outro sobre as federações
brasileiras, um terceiro sobre tráfico de menores e
o último com propostas de medidas legislativas.
P - E este último quando ficará
pronto?
J.J. - O prazo terminava na próxima
semana, mas foi já pedida uma prorrogação.
[Terça-feira] tivemos um depoimento muito importante
do sócio de Pelé [Hélio Vianna] sobre
relações internacionais e isso vai-nos obrigar
a novos contactos. Também vai ser ouvido [quarta-feira]
o representante da Nike, que será muito importante.
P - O relatório preliminar aponta Portugal
como epicentro dos passaportes falsos. Como chegaram a essa
conclusão?
J.J. - A partir do facto de que os passaportes
dos jogadores brasileiros que vão para a Europa são
portugueses e emitidos em Portugal. E alguns são emitidos
usando cadernetas verdadeiras
P- Isso foi já confirmado?
J.J. - Sim, sim. São cadernetas autênticas,
que são depois preenchidas. Outros são passaportes
verdadeiros que foram furtados e alterados, como foi o caso
do Varley [jogador da Udinese, de Itália, que utilizou
um passaporte português falso] e de mais dois jogadores
em Espanha, os quais estamos ainda a averiguar e que tinham
nomes de mulher. Mas há também casos de documentos
completamente falsos.
P- O relatório cita os nomes Caldeira
e Domingos Djalo, que não foram ouvidos
nem completamente identificados.
Isso não foi possível. É que são
cidadãos portugueses e nós não temos
autoridade em Portugal. O Jimmy [o empresário brasileiro
Jimmy Martins] ainda os contactou, mas declinaram a audição.
J.J. - Mas sabem quem são? É
que nos meios futebolísticos portugueses há
um empresário com o nome Caldeira que já disse
nada ter a ver com o caso nem conhecer qualquer das pessoas
que falaram nesse nome.
Essa é a questão. É que enquanto o Nesterovic
e o Menendez [colaboradores do empresário Juan Figer]
falam de Caldeira [Branco, cabelos negros, boa apresentação,
de 35 a 40 anos] como empresário, o Jimmy disse
que seria um funcionário da polícia portuguesa.
O certo é que passámos às autoridades
portuguesas toda a informação, com moradas e
números de telefone das pessoas.
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