Só os campeonatos portugueses
escapam
às suspeitas de fraude
Por José Agusto Moreira
O problema dos passaportes falsos parece
bem menos complicado nos campeonatos portugueses do que noutras
ligas europeias: até hoje, não surgiram suspeitas
sobre a utilização de documentos inválidos
por parte de jogadores que actuam no nosso país.
Apenas os benfiquistas Escalona e Uribe
foram solicitados a esclarecer a origem dos seus títulos
de viagem (italianos) junto da Associação Nacional
de Futebol Chileno, mas só como medida de prevenção,
aparentemente devido ao facto de ambos terem sido transaccionados
pelo empresário uruguaio Pablo Tallarico, o mesmo que
negociou Pablo Contreras jogador que utilizou um falso
passaporte italiano para poder actuar como comunitário
no campeonato francês para o Mónaco.
No entanto, há jogadores que passaram
por Portugal e que estão a ser investigados noutros
países europeus, onde jogam actualmente, como são
os casos de Quiroga e Aldair (Itália), Hadji e Paredão
(Inglaterra).
Para Portugal, o problema reside antes
no facto de grande parte das fraudes detectadas em França,
Itália, Inglaterra e Espanha utilizar documentos de
origem portuguesa, uma situação que põe
em causa o bom nome e o prestígio do país
e que pode ter graves consequências para a credibilidade
externa, como afirmava o deputado Hermínio Loureiro
(PSD) num requerimento apresentado na Assembleia da República.
O caso mais mediático terá
sido o do guarda-redes da selecção brasileira,
Dida, que jogava no AC Milan. Os responsáveis do clube
descobriram a situação quando a imprensa italiana
publicou alguns dos passaportes portugueses falsos de outros
jogadores a actuar em Itália. Os primeiros a ser descobertos
foram Warley e Alberto, da Udinese, que foram impedidos de
entrar com a equipa na Polónia e cujas autoridades
lhes apreenderam os passaportes. Seguiram-se os casos de Dedé
e Jedá, do Vicenza, Alejandro (paraguaio) e Jorginho,
também da Udinese, e Marcos Assunção,
na Roma. Em comum, tinham o facto de serem brasileiros e quase
todos terem o empresário Juan Figer como representante
(ver texto principal).
Além dos documentos portugueses,
as autoridades italianas investigaram a origem de muitos outros
passaportes, de que se destacam os casos do uruguaio Recoba
que foi pago pelo Inter de Milão a peso de ouro
e teve que regressar depois a casa como imigrante ilegal
e dos argentinos Veron, Almeyda e Zanetti.
Em França, o Tribunal de Paris
expulsou hoje (quarta-feira) do país Mondragon (colombiano),
Romay (argentino) e Contreras (chileno), num processo que
envolveu grande parte dos 78 futebolistas comunitáros
oriundos de fora da Europa e implicou já sanções
para diversos clubes.
A Premier League inglesa está
também a investigar dezenas de jogadores, depois de
os brasileiros Edu e Cléber (Arsenal) terem sido detectados
com passaportes portugueses falsos. Em Espanha, a federação
suspendeu ontem mais três futebolistas (dois argentinos
e um brasileiro) do Rayo Vallecano, do Málaga
e do Granada , que se juntam a outros seis (um argentino
e cinco brasileiros) já anteriormente suspensos. Todos
os brasileiros actuavam com passaportes portugueses falsos.


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