Nunca conheci ninguém
como ele
Por José Carlos
Vasconcelos
Quarta-feira, 8 de Junho de 2001
Ao longo de tantos anos que levo de "existência"
e de jornalismo, nunca conheci um escritor que tão
intimamente se identificasse com o povo, a gente da sua terra
e do seu país, dando-lhe voz e dimensão universal,
como Jorge Amado. Nunca conheci escritor que em simultâneo
levasse tão a sério o seu ofício e a
sua singularíssima arte literária (tão
singular que às vezes nem "parece" arte)
e a exercitasse de forma tão glosada, tão cheia
de sensualidade e do prazer que punha em tudo na vida.
Nunca conheci um homem que fosse de seu natural
tão bondoso, tão generoso - inclusive para os
demais escritores, o que é raro - , tão capaz
de fazer tudo pelos outros sem pedir nada em troca.
Nunca conheci um cidadão que se batesse
com tanta firmeza e convicção pelos seus ideais
e pelas grandes causas da liberdade e da justiça social,
e que ao mesmo tempo fosse assim capaz de reconhecer erros
e desvios sem transformar os camaradas de ontem em inimigos
de hoje; nunca conheci ninguém tão discretamente
corajoso e tão profundamente tolerante.
Nunca conheci "velho marinheiro"
com percurso de vida mais rico, com tanta modéstia
e tão grande sabedoria.
E nunca conheci amigo tão amigo
de seu amigo. Por tudo isto, ter sido seu amigo, ter tido
oportunidade de o acompanhar tantas vezes e em tão
variadas circunstâncias, foi das coisas boas que a vida
me deu. Independentemente do grande escritor que ele é
e das imperecíveis personagens que criou e que para
sempre ficarão connosco.
*jornalista, director
do "Jornal de Letras"
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