A liberdade, em nome dos sentidos
Por Augusto Santos Silva
Quarta-feira, 8 de Junho de 2001


O livro de Jorge Amado que mais me marcou foi "Capitães da Areia". Li-o na adolescência, disse-me muito, sobretudo o jogo entre aquelas duas figuras, o Professor, o tipo frágil fisicamente, que era o estratega, e o Pedro Bala, que sai dali para aderir ao Partido Comunista. Do ponto de vista da qualidade literária, não leio Jorge Amado há alguns anos, não o sujeitei aquela prova, que às vezes é um bocadinho cruel, de revisitar os livros que lemos, vinte anos depois.

Na obra de Jorge Amado há três coisas que me seduzem. Primeiro, não conheço na literatura brasileira obra que, no seu conjunto, melhor ilustre a miscigenação da cultura brasileira, essa espécie de casamento tumultuoso entre a Europa, Portugal, e a Mãe África. O segundo traço é que, mesmo na obra inicial, muito marcada por preocupações políticas, o combate à opressão faz-se em nome do poder da vida dos sentidos, é uma coisa muito sensorial. Em terceiro, a Bahia de todos os santos, a religiosidade, a cosmogonia, a sabedoria popular são elevadas a uma dignidade literária muito interessante na obra de Jorge Amado, que depois é dobrada por aquela feliz combinação entre um texto do Amado e uma produção televisiva, que é "Grabriela Cravo e Canela", um dos monumentos da televisão do século XX.

*ministro da Cultura

 


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