O regresso dos cinco partidos
históricos
Por António Sampaio/Lusa
Terça-feira, 28 de Agosto de 2001
Todos os seis partidos timorenses históricos,
formados antes da invasão indonésia de Timor-Leste,
preparam listas de candidatos para as primeiras eleições
livres do território, na quinta-feira.
De todos eles, apenas dois - a Fretilin (Frente Revolucionária
de Timor-Leste Independente) e o Kota (Klibur Oan Timor Asuwain)
apresentam listas completas de 75 candidatos nacionais.
Dos restantes, a Apodeti (Associação Popular
e Democrática de Timor) é o partido com o menor
número de candidatos - apenas 15 a nível nacional
e um a nível distrital - enquanto o Partido Trabalhista
Timorense (PTT) apresenta 33 nacionais e cinco distritais.
A ASDT (Associação Social Democrata Timorense)
tem 73 na lista nacional e 3 distritais e o primeiro partido
a ser criado em Timor-Leste, a UDT (União Democrática
Timorense), apresenta ao eleitorado 72 candidatos nacionais
e 12 distritais.
Apesar de ter sido o segundo partido a surgir em Timor- Leste,
a ASDT - que mais tarde se viria a transformar em Fretilin
-, voltou a ser reavivada este ano por Francisco Xavier do
Amaral que no ano quente de 1975 foi expulso da Fretilin.
Numa altura em que pontualmente se ouvem críticas sobre
o papel dos partidos históricos, em particular no âmbito
do seu envolvimento no período quente de 1974 a 1976,
analisar a direcção das seis forças políticas
mais antigas torna-se particularmente importante.
Agora radicado em Timor-Leste, depois de longos anos na Austrália,
o secretário geral da UDT, Domingos Oliveira, explicou
à Agência Lusa que "como aquando da sua
criação" em Maio de 1974, o partido parte
para 30 de Agosto com os mesmos princípios "que
sempre defendeu".
Sem definir em que lado da balança se coloca, Domingos
Oliveira garante que o partido continua a basear-se "na
liberdade, na justiça e na solidariedade" acreditando
"na justiça e dignidade da pessoa humana".
"Somos um partido que vai fazer todos os possíveis
para a valorização da pessoa timorense porque
é a base de um país", disse, aludindo "ao
valor da contribuição dos cristãos".
Para o eleitorado identificou "cinco problemas fundamentais"
- a pobreza, a ignorância, a injustiça, a corrupção
e a mentira política -, aspectos que considera essencial
e sobre os quais pretende "consciencializar a população
timorense".
"Não vamos prometer nada. Vamos com a população
ouvir o que eles pensam, o que sentem, o que vivem e com eles
procurar encontrar as soluções", explica
o dirigente da UDT.
Também Francisco Xavier do Amaral garantiu em declarações
à Lusa que a ASDT de hoje se mantém fiel aos
princípios com que foi fundada a 20 de Maio 1974, definindo-se
como uma força da social-democracia que integra os
usos e costumes locais.
O programa político da ASDT assenta em "três
pilares" - democracia, direitos humanos e desenvolvimento
económico - apostando ainda na economia agrícola,
na saúde, com ênfase no desenvolvimento da medicina
tradicional, e na alfabetização.
De regresso a Timor-Leste, depois de ter permanecido grande
parte das últimas duas décadas na Indonésia,
Xavier do Amaral registou a ASDT apostando no sucesso eleitoral
em 30 de Agosto.
O partido foi regularmente acusado de tentar apropriar-se
de um dos símbolos da Fretilin - a bandeira nacional
hasteada pelo partido em 28 de Novembro de 1975 - sendo visto
como a frente política do grupo radical CPD-RDTL (Comité
Popular Defesa - República Democrática de Timor-Leste).
Nascendo da ASDT em Setembro de 1974, a Fretilin continua
através dos seus líderes a apostar na vitória
a 30 de Agosto tendo já falado em 85 por cento dos
votos.
O número dois do partido, Mari Alkatiri disse à
Lusa que além de se posicionar "dentro da zona
da internacional socialista e do trabalhismo anglo-saxónico",
a Fretilin vai manter a sua "natureza frentista"
devido em grande parte à vontade expressa pelos militantes
nesse sentido.
Garantindo representatividade nas "mais variadas franjas
da população", a Fretilin quer aprovar
uma constituição que reflicta as preocupações
de todo o povo, que reforce a democracia e que "crie
garantias para o cidadão se defender contra o arbítrio
governamental", evitando "política de exclusão".
A nível económico quer criar um ambiente favorável
ao investimento, responder às necessidade fundamentais
da maioria da população elevando a sua qualidade
de vida, melhorar a educação, saúde e
abastecimento de água e energia.
"Fundamentalmente a Fretilin quer ser capaz de definir
um plano estratégico de desenvolvimento sem contar
com os recursos não renovados", considerou.
Sendo o último partido a registar-se para o voto de
30 de Agosto e ainda visto por muitos como um partido de alicerces
integracionistas, a Apodeti continua, para o seu presidente
Frederico Santos Costa a seguir os "ideais democráticos".
Considerando como prioridade do seu programa político
divulgar os princípios contidos no Pacto de Unidade
Nacional assinado em 08 de Julho, a Apodeti aposta ainda no
levantamento das necessidades reais das populações,
garantindo que os timorenses possam viver em liberdade e sem
conflitos.
A plataforma política da APODETI defende também
a garantia de condições de vida para a população,
dando resposta a problemas práticos de falta de casas
condignas e garantindo a segurança alimentar da população,
através de atenção especial ao desenvolvimento
da agricultura.
A reabilitação de infra-estruturas, a alfabetização
da população e a protecção dos
veteranos e viúvas da resistência são
também prioridades da APODETI.
Outro dos partidos reforçado para o sufrágio
de 30 de Agosto é o Kota (Klibur
Oan Timor Asuwain), que deixou de apostar na monarquia mas
mantém ligações fortes com alguns liurais
timorenses, os chefes tradicionais.
Fundado em Novembro de 1974 por Leão Amaral - o seu
actual presidente - e por José Martins, já falecido,
o Kota nunca foi reconhecido pelas autoridades portuguesas
tendo sido utilizado pelos indonésios como um importante
núcleo de apoio em Timor-Leste.
Hoje, Clementino dos Reis Amaral, que acumula as funções
de presidente interino e porta-voz, disse à Lusa que
o Kota é agora "um partido firmemente do centro".
"Queremos manter as nossas
tradições mas defendemos uma democracia do centro.
Temos algumas políticas da esquerda, do socialismo,
nomeadamente a isenção de pagamentos de luz
e água pelos timorenses nas zonas interiores mas também
algumas da direita, como o recurso ao poder tradicional",
explicou.
Para os responsáveis do partido o grande objectivo
é "combater a pobreza do povo", apostando
no fortalecimento da economia e da educação
para criar "uma geração timorense com elevados
níveis educativos".
O Kota promete a entrada no território de 20 mil milhões
de dólares, durante os próximos oito anos, em
investimento privado internacional podendo Timor-Leste tornar-se
num dos principais mercados exportadores de produtos orgânicos.
Defendendo que o território deverá ser conhecido
por República de Timor, com o português e o tetum
como línguas oficiais e o inglês e indonésio
como "línguas curriculares", o Kota remete
grande parte da sua direcção política
para as estruturas tradicionais timorenses.
Angela Freitas, vice-presidente do Partido Trabalhista de
Timor (PTT) - criado em Outubro de 1974 - explicou que o partido
aposta hoje no socialismo democrático, levando ao eleitorado
uma plataforma com 16 pontos essenciais.
Sob os valores centrais de "segurança e oportunidade",
o PTT aposta no sector laboral e no desenvolvimento económico,
desenvolvendo os recursos de Timor-Leste e garantindo programas
alargados de educação e formação.
Fomentando a construção de uma base de capital
timorense, através de investimento em infra-estruturas,
o PTT quer ainda desenvolver a indústria, paralelamente
ao desenvolvimento regional.
Salários e empregos, segurança social para todos
os timorenses, apoio às famílias, acesso comunitário
à justiça, direitos humanos e oportunidade igual
para todos são outras das plataformas do PTT que aposta
num "governo responsabilizável e de qualidade"


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