Os dezasseis partidos de Timor-Leste
Por Luciano Alvarez
Segunda-feira, 27 de Agosto de 2001

Dezasseis partidos apresentam-se a partir de hoje aos timorenses para as eleições de 30 de Agosto. As atenções centram-se nos históricos Fretilin e UDT e no novo PSD do ex-governador Mário Carrascalão. De resto, há partidos para todos os gostos. Marxistas-leninistas, mais ou menos monárquicos e até um surpreendente partido liderado por um homem que diz ser rei de Portugal e primo do príncipe Carlos de Inglaterra.


Apodeti - Pró-referendo
Ano da fundação: 1974

Foi o primeiro partido a apoiar a invasão de Timor-Leste pela Indonésia e um dos seus mais acérrimos defensores. Beneficiou sempre de apoios financeiros de Jacarta durante a ocupação, mas isso não impediu que se fosse desintegrando. Ressurgiu em Agosto do ano passado, durante o congresso do CNRT com velhos e novos dirigentes dispostos a mudar de política, sob a liderença de Frederico da Costa. Mudou o seu nome para Apodeti-Pró-referendo e declarou-se totalmente favorável à paz, democracia e reconciliação. Continua a ser um partido dividido, com poucos quadros e praticamente sem apoios no território. É o partido concorrente às eleições que apresenta menos candidatos (15 a nível nacional e sete a nível distrital).

 

Frente Revolucionária
de Timor-Leste Independente (Fretilin)
Ano da fundação: 1974

Pouco são os que têm dúvidas de que a Fretilin é o partido mais bem colocado para ganhar as eleições de 30 de Agosto. A questão que se coloca é se vai conseguir ou não a maioria absoluta. É, a par da UDT, um dos grandes partidos históricos e o seu nome está intimamente ligado à luta pela independência desde a guerra civil feita precisamente com o que ainda hoje é o seu grande adversário, a UDT. Pela Fretilin passaram os principais nomes da resistência, desde Ramos-Hora a Xanana Gusmão. Sendo liderado por um velho guerrilheiro Lu-olo, é, porém, Mari Alkatiri, "ministro" da economia da administração transitória da ONU, o seu verdadeiro estratega. Foi Alkatiri que, no congresso do CNRT liderou a ruptura com o Conselho Nacional, levando mesmo o partido a deixar a organização de candeias à avessas com Xanana Gusmão, hoje um dos maiores críticos da Fretilin. Assegurando ter mais de 200 mil militantes, quase um terço da população timorense, a Fretilin apresenta-se também com listas completas às eleições: 75 candidatos a nível nacional e 13 a nível distrital. Muitos em Timor asseguram que Xanana Gusmão está à espera de ver a expressão que a Fretilin obtém nas eleições para decidir em definitivo se avança ou não com a sua candidatura à presidência. Ou seja, se a Fretilin obtiver a maioria Xanana avança, tentando equilibrar o poder político, caso contrário poderá avançar Ramos Horta com o apoio de Xanana.

 

Associação Social-Democrata Timorense (ASDT)
Ano da fundação: 2000

Liderada pelo primeiro presidente da Fretilin, Xavier do Amaral, a ASDT apresentou-se como sendo a terceira via da Fretilin e um polo de união das suas várias facções. Xavier do Amaral, expulso da Fretilin, viveu em Jacarta durante os anos da ocupação, onde defendeu posições pró-integracionistas. Regressou a Timor em 2000 e não terá sido por acaso que fundou a ASDT. Ou melhor, "ressuscitou" a ASDT, já que este era o nome do partido que, em 1974, deu lugar à Fretilin. Xavier do Amaral continua envolvido em polémica, já que o seu movimento é apontado como um dos que apoia o CPD-RDTL (Comité de Popular de Defesa - República Democrática de Timor-Leste), um grupo formado por jovens radicais que têm promovido vários actos de violência no território. É um dos quatro partidos que apresenta uma lista de candidaturas completa: 75 a nível nacional e 13 a nível distrital.

 

Partai Republik Nacional de Timor - Partido da República Nacional de Timor (Parentil)
Ano da fundação: 2001

É um dos partidos mais recentes de Timor-Leste. Não se lhe conhecem até hoje actividades ou projectos políticos. O Parentil, liderado por Flaviano Pereira Lopes, é um dos dois partidos que só apresenta candidatos a nível nacional (apenas 53), optando por ignorar a disputa política a nível distrital.

 

Klibur Oan Timor Asuwain
- Partido dos Heróis Timorenses (Kota)
Ano da fundação: 1974

Formado em 1974 como um partido integracionista, o Kota teve a monarquia na sua génese, sendo formado por vários liurais (reis locais) e adoptando o nome Associação Popular Monárquica de Timor. Ao longo dos anos da ocupação foi-se desintegrando, mas resurgiu em 1988 como um dos partidos que rejeitava a autonomia proposta pela Indonésia e pedia a libertação de Xanana Gusmão, que agora apoia para primeiro presidente da República. Afirmando que hoje as suas raízes monárquicas apenas têm expressão no apoio aos liurais, o Kota tem Clementino dos Reis Amaral como líder, mas é Manuel Tilman (ex-Fretilin e ex-UDT), um polémico advogado que vive em Macau e que é o secretário-geral do partido, o seu principal dinamizador.

 

Partido Democrata Cristão (PDC)
Ano da fundação: 2000

O PDC nasce de uma cisão na União Democrática Cristã (hoje UDC/PDC), até porque grande parte dos seus membros estão ligados à Igreja Protestante de Timor, ao contrário da UDC/PDC, cujos lideres estão claramente ligados à Igreja Católica. Liderado por António Ximenes, mantém laços com o Partido Indonésio Cristão Democrático e com outros partidos moderados de outros paises da região. A maior parte dos seus principais dirigentes estudaram na Indonésia e dirigem também hoje uma ONG timorense que participou activamente no apoio ao regresso de refugiados de Timor Ocidental para Timor-Leste. O PDC concorre com 75 candidatos a nível nacional (o máximo), mas apenas com 8 a nível distrital.

 

Partido Democrático (PD)
Ano da fundação: 2001

É outro dos mais recentes partidos timorenses. Concorre com 74 candidatos a nível nacional e em todos os distritos (13) mas a sua actividade política não revelou ainda qualquer tipo de expressão.

 

Partido Liberal (PL)
Ano da fundação: 2001

Mais um partido novo na política timorense.O Partido Liberal foi um dos últimos a registar-se para as eleições e vai concorrer com apenas 32 candidatos a nível nacional e oito a nível distrital.

 


Partido Social Democrata (PSD)
Ano da fundação: 2000

Liderado por Mário Carrascalão, fundador da UDT e ex-governador Indonésio de Timor-Leste, o PSD foi pensado antes do congresso do CNRT e apresentado logo a seguir. Mário Carrascalão, apontado como um dos possíveis candidatos à presidência da república de Timor, contou com dois nomes de peso no apoio ao lançamento do seu partido. Nada mais nada menos que Xanana Gusmão e Ramos Horta, que viam o PSD como um partido com hipóteses de se impor entre os históricos Fretilin e UDT. Mário Carrascalão lançou o partido na comunicação social sem falar com o seu irmão João, presidente da UDT, com quem tinha abordado a hipóteses de acordos políticos no futuro, e, ainda por cima, foi buscar ao partido de João alguns quadros importantes. Estes factos motivaram uma zanga entre irmãos que ainda dura. O PSD afirma peremptoriamente querer ser uma alternativa à Fretilin e à UDT. O PSD concorre com listas totais a nível nacional (75 candidatos) e distrital (13 candidatos)

 

Partai Demokratik Maubere
- Partido Democrático Maubere (PDM)
Ano da fundação: 2000

Liderado por Paulo Pinto, um segurança que trabalha para a administração transitória da ONU em Timor, o PDM é o único partido que recorre à palavra Maubere (pés descalços ou povo desprotegido) usada como uma das expressões-chave da ala esquerda da resistência durante vários anos, embora sempre com o desagrado dos partidos menos à esquerda como a UDT. Até hoje não teve qualquer tipo de acções políticas no território e a sua expressão é praticamente nula. O PDM apenas apresenta 55 candidatos nacionais e quatro distritais.

 

União Democrática Timorense (UDT)
Ano da fundação: 1974

O que vale hoje a UDT é a pergunta que muitos fazem em Timor-Leste. Um dos partidos históricos que fez a guerra civil contra a Fretilin em 1974 (ou contra o comunismo, como afirmavam na altura), a UDT, depois de uma colagem à Indonésia, acabou por ser um dos partidos charneira na luta contra a ocupação de Jacarta, nomeadamente dentro do CNRT. João Carrascalão, o seu líder histórico e ministro das infraestruturas do governo de transição, é hoje a grande força (muitas vezes polémica) de um partido que perdeu quadros para o PSD e que tem muitos dos seus principais militantes na diáspora, mas que, no entanto, se preparam para regressar ao território em grande força para a campanha eleitoral. O facto de, em 2000, ter conseguido organizar o seu congresso em Timor-Leste com a participação de 400 delegados esfriou o ânimos dos que diziam que a UDT estava morta. Saber qual o peso real deste partido histórico de Timor-Leste é uma das questões que se coloca nas eleições de 30 de Agosto. Para já é público que a UDT está aberta a coligações pós-eleitorais, que podem passar pelo PSD, caso os irmãos desavindos (João e Mário) voltem a entender-se, ou mesmo por um bloco central UDT-Fretilin, caso Ramos-Horta, hoje considerado um "inimigo" por ambos os partidos, avance para a presidência da República. Tudo isto está dependente dos resultados eleitorais da UDT, da Fretilin e do PSD, neste momento os partidos mais poderosos de Timor. A UDT concorre com 72 candidatos a nível nacional e oito a nível distrital.

 

Partido do Povo de Timor (PPT)
Ano da fundação: 2000

O PPT fica na história por ser o primeiro partido a inscrever-se para as eleições, mas também por uma entrevista surrealista que o seu líder deu à agência Lusa por altura do registo. Jacob Xavier diz ser rei de Portugal e primo do príncipe Carlos de Inglaterra. Assegura ter-se licenciado em "Bíblia e história" na Universidade de Oxford e em "Evangelhos Sinópticos" pela Universidade Católica portuguesa (tudo pago pela família real inglesa). Garante ainda que a Rainha Isabel II, que diz ser sua tia, o mandou "computorizar para as pessoas poderem ver Deus" através do seu corpo e até revelou como se deu o processo da sua computorização: "Quando eu nasci, enfiaram-me na cabeça um pedacito de urânio da família Keneddy. Começa a faiscar e eles sintonizam isto com o equipamento e meios electrónicos muito sofisticados." O PPT concorre com 71 candidatos a nível nacional e 2 distritais.

 

Partido Nacionalista Timorense (PNT)
Ano da fundação: 1999

Liderado pelo polémico Abílio Araújo, fundador da Fretilin, de onde acabou expulso pelas suas ligações à Indonésia, o PNT tem sido acusado de ter ligações e de financiar os jovens radicais da CPD-RDTL, o que Abílio Araújo nega apenas em parte. Fundado alguns meses antes do referendo de 1999, o PNT começou por defender uma autonomia com a Indonésia, mas acabou por aceitar os resultados do referendo. Residente em Lisboa, o ex-marxista-leninista Abílio Araújo, hoje um economista de sucesso, continua a ter fortes ligações com a Indonésia, nomeadamente ao partido da vice-presidente Megawati Sukarnoputri, que sempre se manifestou contra a independência de Timor. Abílio Araújo promete há vários meses regressar a Timor para investir no território e para liderar o combate político, mas, para já, continua e dirigir os seus negócios e o partido a partir de Lisboa.

 

Partido Democrata Cristão de Timor (UDC/PDC)
Ano da fundação: 1998

Fundada em Portugal em Março de 1998 com base numa cisão da UDT, a União Democrata Cristã, participou no mês seguinte na fundação do CNRT. Membro, como observador, da União Internacional dos Movimentos Democratas Cristãos, o UDC/PDC mantém contactos regulares em Portugal com o CDS/PP. O partido, liderado por Vicente da Silva Guterres, coordena também em Timor organizações de juventude, de mulheres e de trabalhadores cristãos. Concorre às eleições com o máximo de candidatos a nível nacional (75), mas apenas com sete a nível distrital.

 

Partido Socialista de Timor (PST)
Data da fundação: 1990

Ficou conhecido pela empenhada e corajosa luta dos seus jovens militantes nos últimos anos da ocupação, que afrontaram o poder Indonésio em Jacarta, nomeadamente com a ocupação de diversas embaixadas. Liderado por Avelino Coelho da Silva, o PST nasceu de uma cisão na Fretilin e afirmou-se à sua esquerda, nomeadamente com posições radicais. Dizendo-se marxista/leninista, o PST realiza diversas actividades junto da população rural, tem o apoio de muitos jovens no território, mas o seu peso eleitoral adivinha-se fraco. Embora no partido ninguém o confirme, são muito faladas as suas eventuais ligações ao Partido Comunista Português, aos "Verdes" holandeses e ao Partido Socialista Democrático da Austrália. Apresenta 75 candidatos a nível nacional e três a nível distrital.

 

Partido Trabalhista de Timor (PTT)
Ano da fundação: 1974

Fundado por Paulo Freitas da Silva, que é ainda hoje o seu líder, o Partido Trabalhista de Timor nasceu em 1974 como um defensor da independência, mas o facto de um dos seu fundadores ter assinado a declaração de Balibó (que entregava Timor à Indonésia) manchou o nome da organização. Hoje é tido como certo que os Trabalhistas foram usados pela propaganda indonésia, até porque Paulo Freitas sempre lutou contra a ocupação e chegou mesmo a pedir nos anos 70 uma intervenção armada da Austrália no território. Afirmando-se como um partido socialista democrático, idêntico ao Australian Labor Party, o PTT considera fundamental, tal como muitas outras forças políticas, que Xanana Gusmão seja o primeiro presidente da República Timorense. O PTT concorre apenas com 33 candidatos a nível nacional e cinco distritais.

 

Além dos partidos, apresentam-se ao escrutínio
cinco candidatos independentes a nível nacional e onze a nível distrital

Candidatos Nacionais
Daniel Da Silva Ramalho
Domingos Alves
Maria Domingas Fernandes
Olandina Caeiro
Teresa Maria de Carvalho
Candidatos Distritais
Bobonaro - Domingas dos Santos
Díli - Marcolino Ribeiro Afonso
Ermera - Eduardo de Deus Barreto
Lautem - Agapito Ramos - Carolino da Silva - Justino Valentim - Aurélio Freitas Ribeiro
Manatuto - Manuel Cáceres da Costa
Oecusse - Apolónia de Fátima da Costa - António da Costa Lilan - Etelvina da Costa


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