Xanana diz que não
está satisfeito
com candidatura à Presidência
Terça-feira,
28 de Agosto de 2001
Entrevista com Xanana Gusmão
Xanana Gusmão não
está satisfeito com a sua candidatura à presidência
da República, anunciada no sábado. "Aliviado,
mas não satisfeito", afirma, sem dar grandes explicações,
numa curta entrevista ao PÚBLICO. Dá mesmo a
entender que só avançou porque foi pressionado
e para acalmar os partidos, e insiste que o seu sonho era
ir criar animais.
Xanana Gusmão, com as suas inseparáveis
máquinas fotográficas a tiracolo, voltou ontem
a visitar e a intervir nos comícios partidários
que decorreram em Díli. Foi enquanto esperava que o
chamassem ao palco num comício conjunto de sete pequenos
partidos que aceitou ("só porque é para
Portugal", afirmou) dar uma curta entrevista ao PÚBLICO,
interrompida quando o chamaram. Uma entrevista em que Xanana
deixa mais uma vez claro, pelo menos por agora, que irá
candidatar-se à presidência da futura República
independente de Timor-Leste.
PÚBLICO - Este comício
simultâneo de sete partidos é mais um exemplo
da maturidade política do povo timorenses que tem referido.
Xanana Gusmão - Sem dúvida. Isto é
um exemplo de que os partidos entendem as várias formas
de participar num processo democrático. Estamos a criar
a democracia, e aprecia-se imenso a forma como os partidos
pretendem criar um ambiente de tolerância.
P. - Faz, portanto, um balanço
positivo desta campanha eleitoral.
R. - Sim. Foi uma campanha muito, mas muito pacífica,
e para além das nossas expectativas. Estávamos
a temer alguma violência, não tanto por parte
dos partidos, mas de alguns grupos, e até agora nada
aconteceu.
P. - De que grupos?
R. - De alguns grupos. Quero aproveitar para prestar
homenagem aos jovens da RDTL [grupos de jovens radicais que
causaram vários actos de violência em Timor-Leste;
alguns dos seus membros são alegadamente responsáveis
por um ataque a Xanana Gusmão], para quem as atenções
estavam viradas. Mas todos se portaram bem e tudo está
bem, tudo vai correr bem.
P. - A Fretilin disse mais uma vez hoje
que vai ter 85 por cento dos votos...
R. - Cada partido diz o que quer, mas eu não
sei qual vai ganhar e quantos votos vai ter. Não tenho
nenhum termómetro para medir isso.
P. - Disse ontem [domingo] que estava
aliviado por ter anunciado a sua candidatura à presidência
da República.
R. - Aliviado, mas não satisfeito.
P. - Porquê?
R. - Não estou satisfeito. Ficou claro no comunicado
que li que fui obrigado pelos partidos, que andavam todos
a falar no Xanana sem lhe perguntarem nada. Assim as coisas
ficam mais calmas.
P. - Está arrependido?
R. - Não estou satisfeito. Disse no comunicado
que não estou preparado, que o meu sonho era criar
animais.
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