ONU valida resultados de eleições
"livres e independentes"
Terça-feira,
11 de Setembro de 2001
Por Luciano Alvarez, em Díli
Governo e assembleia
tomam posse dia 15
Sérgio Vieira de Mello confirma que
Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, partido
que obteve maioria absoluta, irá ocupar o lugar de
chefe do Executivo
Todos os critérios para umas eleições
"livres e independentes" foram cumpridos no acto
eleitoral para a Assembleia Constituinte do passado dia 30,
confirmou ontem o Colégio de Comissários Eleitorais
da ONU, oficializando definitivamente os resultados divulgados
há menos de uma semana. Eleito o primeiro parlamento
timorenses, que toma posse no dia 15, a Administração
Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste
(UNTAET) ultima agora a composição do II Governo
de transição, que será revelado também
no dia 15.
Sérgio Vieira de Mello, o administrador
da ONU no território, já ouviu os partidos e
está ainda a elaborar a lista de nomes que vão
formar o Executivo, e por isso só confirma que Mari
Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, partido que
venceu as eleições com maioria absoluta, irá
ocupar o lugar de chefe do Governo. Xanana Gusmão,
confirma ainda o diplomata brasileiro, também já
aceitou o cargo de responsável pela Defesa e Planeamento,
integrando uma estrutura entre o Governo e a administração
da ONU, que é apontada como uma preparação
do líder histórico da resistência para
a sua eventual chegada à Presidência da República
do futuro Estado independente.
Xanana Gusmão responderá apenas
a Vieira de Mello, funcionando como uma espécie de
elo de ligação entre a administração
da ONU, o Governo e a chefia das Forças Armadas de
Timor-Leste, que ainda estão em fase de formação.
No que respeita ao Governo, embora ainda ninguém
o confirme, há já dois nomes inquestionáveis.
O independente Ramos-Horta deverá ficar com a pasta
dos Negócios Estrangeiros que hoje ocupa, o mesmo acontecendo
com o padre Filomeno Jacob na pasta da Educação.
O pároco necessitava de uma autorização
do Vaticano para continuar a ocupar o cargo que, segundo Ramos-Horta,
já está assegurada, pelo que continuará
no Executivo.
Em relação aos restantes membros,
há muitos rumores em Díli, mas nenhumas certezas,
pelo menos públicas. Tudo deverá ficar, porém,
acertado nos próximos três dias, durante uma
visita à Indonésia a convite de Jacarta, que
contempla, entre outros, um encontro com a Presidente Megawati
Sukarnoputri, para discutir questões bilaterais. Na
viagem seguem Vieira de Mello, Xanana Gusmão, Ramos-Horta
e Mari Alkatiri, que devem regressar a Díli com a lista
de governantes já totalmente elaborada.
Em elaboração está ainda
o código de relacionamento entre a UNTAET, o Parlamento
eleito e o Governo que, em grande parte, é formado
com base nos resultados eleitorais. Há neste momento
uma situação completamente nova em Timor-Leste,
que é também nova para as Nações
Unidas, e que, se não estiver perfeitamente regulamentada,
pode vir a revelar-se delicada.
Ou seja, embora o poder no futuro país
continue até à independência nas mãos
da UNTAET, há agora, ainda que nomeado pelas Nações
Unidos, um Governo que tem o poder dos votos da população,
o que poderá criar sérios conflitos caso surjam
divergências.
A questão, até porque, segundo
o PÚBLICO apurou, a ONU teme que venha a haver conflitos
de opiniões no que respeita à governação,
já foi discutida ao mais alto nível nas Nações
Unidas, e, por isso, o código de relacionamento ainda
em elaboração é considerado fundamental.
"A mudança (no relacionamento)
não será significativa. Aprendemos a trabalhar
juntos desde o primeiro dia", afirmou ontem Sérgio
Vieira de Mello. O administrador da ONU reconhece que existe
agora "uma assembleia eleita pelo povo e um Governo formado
com base no resultado nas eleições", "o
que lhes dá mais autoridade e legitimidade", mas
espera ter com o eles "o mesmo bom relacionamento"
que teve com os órgãos anteriores. "Veremos,
vamos definir tudo isso aos poucos", acrescentou.
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