Ramos-Horta congratula-se
com fusão ASDT-Fretilin
Por Luciano Alvarez,
em Díli
Domingo, 09 de Setembro de 2001
José Ramos Horta
está satisfeito com a possibilidade da ASDT se fundir
na Fretilin, como desejam os lideres dos dois partidos. E
assegura que não vai abandonar a vida política
activa embora não queira cargos no futuro Governo de
Timor-Leste independente.
José Ramos-Horta, fundador da ASDT e
da Fretilin, congratulou-se ontem com a possibilidade de fusão
destas duas forças políticas timorenses, que
vai permitir ao partido que ganhou as eleições
de 30 Agosto dispor da maioria qualificada de dois terços
na Assembleia Constituinte. O prémio Nobel da Paz assegurou
ainda ao PÚBLICO que não vai abandonar a vida
política activa depois de declarada a independência,
embora garanta que não pretende ocupar nenhum cargo
no Governo que nessa altura administrar o território.
"Serei sempre um cidadão politicamente independente,
mas activo, atento e vigilante à actividade do futuro
Governo."
Ramos-Horta esteve na base da fundação
da ASDT em Maio de 1974 e na liderança do processo
que, em Setembro desse mesmo ano, transformou esta força
política na actual Frente Revolucionária de
Timor-Leste Independente. Numa altura em que os dois partidos
admitem e desejam a fusão da ASDT na Fretilin, o Nobel
da Paz, hoje politicamente independente, diz que esse facto
não o surpreende e até se congratula com a união.
"Eu próprio desencorajei o Xavier
[do Amaral, presidente da ASDT] a criar novamente o partido.
Se o Xavier agora se quer juntar à Fretilin, congratulo-me",
diz Ramos-Horta.
Actual responsável pela pasta dos Negócios
Estrangeiros na administração da ONU em Timor-Leste,
cargo que também deverá ocupar no segundo Governo
de transição das Nações Unidas,
Ramos-Horta volta a reafirmar, como já fez noutras
ocasiões, que não deseja ocupar qualquer cargo
no Governo da futura república independente. "Há
muito tempo que não desejo qualquer cargo, mas, como
sempre que me têm chamado, não viro as costas
a Timor e ao povo. Porém, o meu compromisso é
até à independência e nessa altura tenho
muitos outros projectos, sempre ligados a Timor."
O Nobel da Paz diz, no entanto, que não
faz disso "um dogma" e que o desejo de não
ocupar um cargo no futuro Governo não significa "um
afastamento da vida política activa". Garante
mesmo que será sempre "um cidadão atento
e vigilante" à actividade do Executivo, "especialmente
nas suas políticas económicas e fiscais".
O nome de Ramos-Horta tem também surgido
com frequência na boca de muitos dirigentes políticos
timorenses, como um eventual candidato à presidência
da República, caso, por alguma razão, Xanana
Gusmão desistisse da sua já anunciada candidatura.
O facto de o líder histórico
da resistência continuar a afirmar que essa não
era a sua vontade, mostrando-se até frequentemente
insatisfeito com o facto, e os desentendimentos que tem tido
com a Fretilin, partido com quem Ramos-Horta mantém
hoje boas relações, levam a que o nome deste
seja cada vez mais referido nos meandros partidários
como uma possibilidade a ter em conta como eventual candidato
à presidência.
Ramos-Horta assegura, porém, "que
neste momento essa questão nem se coloca": "Estou
sempre disposto a servir o país e o povo, mas neste
momento o país e o povo estão muito mais bem
servidos com Xanana Gusmão. Xanana, para agrado de
todos, já disse que era candidato e a mim nem passa
pela cabeça outra situação."
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