O herdeiro do trono de Portugal
e dono do Banco Mundial também foi eleito
Por Luciano Alvarez, em Díli
Sábado, 08 de Setembro de 2001

Jura ser o verdadeiro herdeiro do Reino de Portugal e dono do Banco Mundial. Passou por diversas universidades, onde se formou em "História e Bíblia", bem como em "evangelhos sinópticos". É íntimo da família real de Inglaterra, com quem diz falar frequentemente, e no interior da sua cabeça tem "uma barra de urânio da família Kennedy". Promete ainda transformar os timorenses no povo mais rico do mundo. É presidente do Partido do Povo de Timor (PPT), que teve mais de sete mil votos, elegendo dois deputados. Chama-se Jacob Xavier e a partir do dia 15 é um dos 88 eleitos que se irá sentar na Assembleia Constituinte de Timor-Leste.

A vida deste homem, é ele que o assegura, "dava um livro". Quem já falou com ele não duvida. Tem 75 anos, é de uma simpatia extrema, fala um português perfeito e o mais difícil é travar-lhe a conversa. "Cinquenta anos depois de ter nascido, uns familiares portugueses e americanos disseram-me que eu era o verdadeiro herdeiro de Portugal. Ao princípio não acreditei, mas depois investiguei, e hoje não tenho dúvidas", revela.

Só esta parte dava para uma boa "meia dúzia" de capítulos do livro que um dia promete escrever. Porém, a pedido do jornalista, o presidente do PPT não se importa de sintetizar. Tudo começou quando a sua mãe, "por causa das guerras" veio desterrada e em segredo para Timor. "A herança do torno está no testamento de D. Miguel. Diz assim: 'Se o meu irmão Nuno Miguel, baptizado Jacob Xavier, não conseguir restaurar a monarquia em Portugal, caberá então a D. Duarte Nuno Pio fazê-lo.'" Erros históricos? Jacob Xavier assegura ter explicação para tudo, mas isso só no livro. Para já, diz apenas que serão "as cortes que terão de decidir" se o herdeiro verdadeiro é ele ou Duarte Nuno.

Jacob Xavier correu mundo e universidades. Portugal, Oxford, Macau e, claro, Timor. Tirou vários cursos, com destaque para o de "evangelhos sinópticos" e "História e Bíblia".

Em Inglaterra conheceu a família real - a inglesa, claro - de quem ficou íntimo e é, aliás, "parente directo". Foi ela, a família real inglesa, que o preparou "para ser rei". De caminho, instalou-lhe uma "barra de urânio da família Kennedy na cabeça". "Um 'chip'", explica. Objectivo: "Estar sempre contactável e ser orientado pelos melhores princípios." Sendo assim, só não se percebe por que a família real, em vez do "chip" dos Kennedy, não lhe instalou um da própria família. Ou se calhar até se percebe. Claro que o simpático presidente do PPT há-de ter uma explicação para isso. Ficará para o livro.

A tal barra de urânio hoje em dia até nem era necessária, pelo menos para as telecomunicações, como ficou provado durante a campanha eleitoral. Conta quem viu que, por mais que uma vez, nos comícios, quando falava ao povo, o telemóvel de Jacob Xavier tocava - algumas más-línguas, por certo invejosas, dizem que o toque mais parecia o do despertador do telemóvel que o sinal de chamada. O senhor Xavier atendia de pronto e a frase que se ouvia logo a seguir era sempre a mesma. "Rainha? Olá, como vai." Era, claro, a rainha de Inglaterra.

Jacob Xavier é um homem rico. Rico e generoso, já que quer dividir a sua fortuna com o povo de Timor que, promete, "será o mais rico do mundo". O problema é que não o deixam. Foi isso que aconteceu, quando quis dar riqueza ao povo logo no primeiro tempo de antena da campanha eleitoral transmitido pela televisão da UNTAET. "Eu sou o dono do Banco Mundial", revelou aos timorenses. "Amanhã quem quiser dinheiro pode ir pedir ao meu banco", acrescentou.

Claro que, no dia seguinte, uma dúzia de timorenses juntaram-se à porta da sede do Banco Mundial em Díli a reclamar a promessa do líder do PPT. "Só não lhes deram o dinheiro porque eu ainda ando nos tribunais a reclamar a posse do meu banco", explica. "Mas o povo que lá foi veio com um papel do banco a dizer que esteve lá e quando o banco for meu outra vez eu dou-lhes o dinheiro", assegura.

As histórias da vida de Jacob Xavier são aos milhares, cada uma mais rica que a outra, e davam, de facto, um livro. Assim o simpático senhor Jacob Xavier tenha tempo para o escrever. Um livro com todas as histórias, incluindo a que se inicia no dia 15. A história de deputado da Assembleia Constituinte de Timor, onde se sentará em representação do povo que o elegeu.



Há algum assunto que gostasse de ver abordado neste dossier? Envie-nos a sua sugestão.
Quer fazer uma pergunta sobre este tema? Envie-nos a sua questão e leia aqui a resposta. Receberá um aviso quando ela for publicada.

© 2001 PUBLICO.PT, Serviços Digitais Multimédia SA
Email Publico.pt: Direcção Editorial - Webmaster - Publicidade