JoaoRelvas/Lusa
 
  A Fretilin precisa de negociar com os outros partidos para aprovar a futura constituição de Timor-Leste
 
   

Fretilin fica aquém dos dois terços
Por Luciano Alvarez, em Díli
Quinta-feira, 06 de Setembro de 2001

A Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin) garantiu a maioria absoluta mas não irá conseguir os dois terços de deputados da Assembleia Constituinte do futuro Estado. Segundo totais oficiosos avançados pela agência Lusa, a Fretilin terá 57,37 por cento dos votos, o que corresponde a 55 lugares na Assembleia Constituinte. No entanto, poderá contar com o apoio da ASDT, de Xavier Ferreira do Amaral, que espera eleger seis deputados. Os resultados oficiais só serão revelados hoje.

Ontem estavam disponíveis os resultados oficiais de 95 por cento dos votos, referentes aos 12 dos 13 distritos já revelados. Faltava anunciar o resultado de uma parte dos votos Díli. Segundo os dados avançados pela Lusa, os números finais ditarão que a Fretilin ficará à beira da maioria de dois terços, que lhe permitiria aprovar a futura Constituição do país de acordo com a sua vontade e sem ter de negociar com ninguém.

No entanto, segundo o PÚBLICO apurou, e embora a grande meta do partido de Lu-Olo e Mari Alkatiri fosse os dois terços de deputados, estes não se manifestam preocupados se não o conseguirem, porque já terão garantido o apoio da Associação Social Democrata Timorense (ASDT) na futura Assembleia. Isto sem terem de fazer uma aliança com o líder desta força política, Xavier do Amaral, que, curiosamente, foi o primeiro presidente da Fretilin, mas foi expulso do partido por no final da década de 70 se ter "passado" para o lado integracionista.

Xavier do Amaral é novamente um defensor da independência, mas continua a não ser muito bem visto em grande parte do Comité Central da Fretilin, até pelas suas ligações a outro dos fundadores da Frente, Abílio do Araújo, hoje líder Partido Nacionalista de Timor que acabou a defender posições pró-Indonésia antes do referendo popular de 1999.

Segundo os dados avançados pela Lusa, a ASDT garantiu a eleição de seis deputados, tal como o PSD. O resultado do PSD é, porém decepcionante, já que o seu líder, Mário Carrascalão, afirmou por diversas vezes que ia ganhar as eleições. Mais decepcionante é no entanto o resultado da União Democrática Timorense (UDT), outro dos grandes partidos históricos, que só garantiu votos para eleger dois deputados, entre os quais o seu líder, João Carrascalão. PPT, PDC, KOTA e PNT elegerão também dois deputados cada. O segundo partido mais votado seria assim, de acordo com a Lusa, o recém-formado Partido Democrático (PD), com sete deputados.

Os resultados oficiais serão anunciados hoje e depois certificados pelo Colégio de Comissários Eleitorais, que no dia 10 divulgará os resultados definitivos e os nomes dos 88 deputados que vão escrever a carta constitucional do futuro Estado independente. Ontem, a Fretilin conseguiu a sua mais estrondosa vitória nos 12 distritos com resultados oficiais, ao obter 81,98 por cento dos 44,583 votos válidos em Baucau, o segundo maior distrito em termos de eleitores.

Para já, todos os partidos têm seguido escrupulosamente os pedidos da UNTAET, da Igreja Católica, de Xanana Gusmão e de Ramos-Horta, e ninguém fez a festa antecipadamente. Os timorenses acompanham o processo eleitoral com emoção, mas até ao momento ainda não se verificou em todo o território um único incidente relacionado com as eleições, ao contrário de que muita gente, mesmo dentro da Administração da ONU, temia. Timor-Leste vive tranquilamente os primeiros dias da sua democracia.



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