Fretilin confirma supremacia
e está a ganhar em todas as frentes
Por Luciano Alvarez, em Díli
Terça-feira, 04 de Setembro de 2001
Com seis distritos divulgados,
seis deputados distritais eleitos e quatro vitórias
em cinco no círculo nacional, no primeiro dia da divulgação
dos resultados das eleições de Timor-Leste,
a Fretilin confirmou a sua supremacia e está a ganhar
em todas as frentes. Mas, com 20 por cento dos votos escrutinados,
o partido histórico tem 48 por cento - ainda longe
da crucial meta dos dois terços.
Quase só deu Fretilin. No primeiro dia
de divulgação dos resultados das eleições
de Timor-Leste, o partido histórico elegeu seis deputados
no círculo distrital e ganhou em quatro dos cinco distritos
conhecidos a nível nacional. A Associação
Social-Democrata Timorense (ASDT) está a ser a grande
surpresa; a grande decepção é a União
Democrática Timorense (UDT).
Embora tenham já sido revelados quase
na totalidade seis dos 13 distritos do território,
os homens da Fretilin mantêm-se em silêncio. Os
distritos até agora revelados valem pouco mais de 20
por cento dos 425 mil votos em disputa, e a Fretilin obteve
48 por cento destes votos, longe ainda da sua meta anunciada
de 80 por cento. Por isso, os dirigentes do partido histórico
estão a resguardar-se até começarem a
ser conhecidos resultados de distritos mais significativos,
o que deverá acontecer hoje.
A supremacia da Fretilin é, porém,
já evidente e a grande dúvida que se coloca
agora é saber se vai ou não conseguir eleger
os dois terços da assembleia que lhe permitam não
ter de negociar com ninguém a aprovação
da futura Constituição de Timor-Leste.
Para já, a grande notícia é
que a Fretilin já assegurou seis dos 88 deputados que
vão formar a Assembleia Constituinte. Nesta primeira
votação em liberdade, os eleitores escolhem
75 deputados num círculo nacional e 13 representantes
distritais (um por cada um dos 13 distritos).
A nível nacional foram conhecidos os
resultados de cinco distritos, com a Fretilin a só
deixar escapar Aileu (o mais pequeno em número de eleitores,
15 mil), para a ASDT. Um partido liderado por Xavier Ferreira
do Amaral, o primeiro presidente da Fretilin, que acabou por
ser expulso do partido por se ter "passado" para
o lado integracionista.
A vitória em Aileu do partido de Xavier
Ferreira do Amaral - que hoje defende a independência
de Timor e até anunciou que se pretende candidatar
à presidência - não surpreende, já
que naquele distrito vive a maior parte da sua família.
A surpresa é que a ASDT apareça em lugar de
destaque na votação dos outros quatro distritos
a nível nacional ontem divulgados, batendo mesmo em
número de votos o Partido Democrático (PD) e
o Partido Social-Democrata (PSD), os outros dois partidos
que surgem mais bem colocados, embora com percentagens ainda
muito pequenas e longe, muito longe, da Fretilin.
A grande decepção está
a ser outro dos partidos históricos, a UDT. O partido
de João Carrascalão, cuja melhor votação
ronda os cinco por cento, está a apresentar resultados
ao nível das mais pequenas forças partidárias.
Números que de alguma forma explicam
a forte contestação que Carrascalão está
a fazer às eleições e que o levaram também
a relembrar acontecimentos da guerra civil de 1975, pedindo
mesmo o julgamento de alguns dos actuais dirigentes da Fretilin
"por crimes contra a humanidade". João Carrascalão
está a ser, entretanto, cercado por críticas
que surgem de todos os sectores, nomeadamente do seu irmão
Mário (PSD). O ataque mais violento veio, porém,
de José Ramos-Horta que, numa entrevista à RTP,
o comparou a Jonas Savimbi.
Onde chega a Fretilin?
No momento em que a supremacia da Fretilin se começa
a revelar, a grande expectativa vira-se agora para o facto
de saber se vai conseguir uma maioria de dois terços
dos deputados na Assembleia Constituinte. E esta não
é, de maneira nenhuma, uma questão menor.
O primeiro parlamento timorense tem como missão
principal aprovar a Constituição do país,
que só pode ser ratificada com uma maioria de dois
terços dos votos. Embora a carta constitucional do
país já esteja mais ou menos escrita, há
aspectos fundamentais, como o sistema político que
o país vai adoptar e que é "só"
a questão que divide de forma mais significativa os
partidos.
Surgiram ontem notícias da possibilidade
de o PD e o PSD estarem a preparar uma aliança pós-eleitoral.
No PD, que há um mês admitiu esta possibilidade,
ninguém quis abordar a questão. Já no
PSD, o presidente do partido, Mário Carrascalão,
embora assegurando que não existe "nada a nível
oficial", admitiu ao PÚBLICO essa possibilidade,
lembrando que os dois partidos "têm, nas questões
fundamentais, pontos de vista políticos muito idênticos".
"Vamos esperar pelos resultados gerais e depois logo
se vê", afirmou.
Hoje, com a divulgação
de mais resultados e de distritos mais significativos em número
de votos, as coisas devem ficar mais claras. Para já,
quase só deu Fretilin.
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