JoaoRelvas/Lusa
 
  Xanana não concorda com uma eventual maioria da Fretilin nestas eleições
 
   

Xanana e a Fretilin: a história de uma ruptura
Quinta-feira, 30 de Agosto de 2001

A ruptura entre o líder histórico da resistência e os principais dirigentes da Fretilin, especialmente Mari Alkatiri, o verdadeiro mentor ideológico e estratégico do partido, já dura há algum tempo e acentuou-se há um ano, no congresso do CNRT, quando Xanana Gusmão e Alkatiri entraram em confronto directo, com a derrota do segundo, o que levou a Fretilin a abandonar a estrutura dirigente do já extinto CNRT.

Nesta campanha eleitoral, Xanana, embora não o afirmasse e até o negasse, foi o maior opositor de uma eventual maioria alargada da Fretilin. Primeiro, ainda no ano passado, não se coibiu de, ao lado de Ramos-Horta, apoiar a criação do Partido Social-Democrata (PSD) do ex-governador Mário Carrascalão, que foi à histórica UDT do seu irmão João buscar alguns dos principais quadros para avançar com a nova força política. Já durante a campanha eleitoral, apareceu por três vezes nos comícios do partido.

Igual número de vezes foi Xanana aos comícios do Partido Democrático (PD), uma força política criada há um ano e que tem por base os jovens da Renintil, os estudantes da resistência, ex-guerrilheiros e combatentes muito queridos pela população, alguns deles vindos da Fretilin, e que é liderado por Fernando Araújo, um combatente pela independência que foi durante dez anos companheiro de prisão de Xanana.

A verdade é que, com ou sem o apoio de Xanana Gusmão, PSD e PD conseguiram uma notoriedade popular significativa nestas eleições, surgindo nas apostas dos observadores mais atentos como os principais adversários da Fretilin. Claro que, excluindo os dirigentes dos sociais-democratas, ninguém arrisca dizer que possam bater a Fretilin.

São, porém, claramente apontados como os potenciais candidatos ao segundo e terceiro lugares na lista de partidos mais votados. PSD e PD relegaram mesmo para segundo plano a histórica UDT, que apostou numa campanha fora da capital e cujo resultado é uma das grandes incógnitas desta eleição. Na lista de partidos que podem recolher um número de votos com algum significado, embora abaixo dos já referidos, surge também o Partido Socialista de Timor, uma força política de inspiração marxista-leninista com algum apoio nos centros urbanos.

Claro que a Fretilin não gostou de ver Xanana passar frequentemente pelas festas dos outros partidos e de só ser visitada pelo líder histórico no seu comício de encerramento e, ao contrário do que aconteceu em todos os outros, sem discurso. Gostou menos ainda de ouvir Xanana Gusmão dizer que "provavelmente não votaria na Fretilin".

Isso aconteceu na sessão em que Xanana anunciou a sua candidatura à presidência. Questionado sobre o optimismo da Fretilin (os tais 85 por cento), o líder histórico respondeu: "Pode até dizer que tem 100 por cento e ter apenas 99, porque eu provavelmente posso não votar na Fretilin." No final da sessão, Alkatiri, embora visivelmente contrariado, foi abraçar Xanana e depois anunciou o apoio do partido à sua candidatura.

A resposta do partido de Lu-Olo e Alkatiri veio mais tarde, e foi que não precisam de Xanana para nada. As palavras usadas foram outras, mas o significado foi exactamente este. Os líderes da Fretilin dizem que Xanana ia aos comícios dos outros partidos e não aos da Fretilin porque os "outros é que precisavam de lições de democracia e de apelos à serenidade".



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