Weda/AFP
 
  Para além das eleições que decidiram o seu futuro, o povo timorense comemora o segundo aniversário do fim da invasão indonésia
 
   

A grande festa dos timorenses
Por Luciano Alvarez, em Díli
Quinta-feira, 30 de Agosto de 2001

"Parabéns, Timor-Leste". Esta é a mensagem que muitos países estão a enviar ao povo timorense, no dia em que este comemora o segundo aniversário do referendo que o libertou da invasão indonésia e em que vai participar na sua primeira eleição em liberdade. É um dia de festa, mas também de expectativa pelos resultados eleitorais. Não sobre quem ganha, mas por quantos ganha aquela em que todos apostam como a grande favorita: a Fretilin. Ninguém acredita em surpresas e uma "supermaioria", como a que os dirigentes do partido asseguram que vão ter, preocupa muita gente. Xanana Gusmão foi dos que mais se empenhou em a combater. Os resultados deverão começar a ser conhecidos na próxima semana. Para já, o povo timorenses sorri de alegria neste seu primeiro encontro em liberdade com a democracia.

Os timorenses têm hoje o seu primeiro grande encontro com a democracia. Nas primeiras eleições livres realizadas no país, vão escolher a sua Assembleia Constituinte. Mais um passo gigante para a meta da independência, que estão talvez a menos de um ano de declarar.

O mundo não se cansa de dar os parabéns ao povo de Timor-Leste que, até agora, assegurou um processo eleitoral tranquilo e sem incidentes significativos, indiferente a pessimismos e receios, alguns vindos mesmo da administração das Nações Unidas no território. Por isso, hoje, o mundo não se cansa de elogiar a maturidade desta gente que lutou com todas as suas forças pela liberdade.

E os timorenses, em véspera da sua primeira eleição, respondem sorrindo. São os sorrisos da liberdade. Sorrisos que nem o medo motivado pelas recordações da violência que se seguiu ao referendo de 1999, alimentadas por boatos e rumores recentes, consegue apagar.

"Parabéns, Timor-Leste", pode ler-se nas mensagens que um pouco de todo o lado vão chegando ao território. Parabéns pelo segundo aniversário do referendo de 1999. Parabéns pela primeira eleição em liberdade. E os timorenses sorriem sem parar, festejando a liberdade. E será com um sorriso nos lábios que, hoje, às primeiras horas da manhã, vão formar longas filas para votar.

"Por quantos vai ganhar a Fretilin?"
Estas eleições são, acima de tudo, uma grande festa para os timorenses. "A festa de Timor e da democracia", como não se cansaram de dizer ao longo da campanha eleitoral. Uma campanha de seis semanas, muitas vezes discreta, mas que ajudou a esclarecer muita coisa. A primeira é que a Fretilin, o partido histórico que desde 1975 se bate de uma forma inequívoca pela autodeterminação e que esteve na génese da guerrilha contra o invasor indonésio (factos que não se cansou de lembrar), reúne o grande favoritismo.

Favoritismo dos timorenses, que encheram os seus comícios de uma forma como não se viu noutro partido, e lhe devotaram uma paixão e lealdade também incomparáveis. Favoritismo de grande parte dos dirigentes de outras forças políticas que, ainda que de uma forma discreta, foram admitindo a vitória do adversário político. De independentes como Ramos-Horta que, numa entrevista ao PÚBLICO, disse ter poucas dúvidas de que o partido comandando por Lu-Olo e Mari Alkatiri vai ter uma maioria tranquila. Ou também de observadores internacionais, alguns mesmo com poucos dias passados em Timor-Leste, convencidos pela força da Fretilin.

"Por quantos vai ganhar a Fretilin?" é por isso a pergunta que se ouviu um pouco por toda a capital nos últimos dias. Os dirigentes do partido há muito deram a resposta: "Pelo menos 85 por cento." Asseguram que têm 250 mil militantes e que, se metade deles levar um amigo a votar no partido, essa maioria facilmente será assegurada.

Assim, as eleições de hoje são uma espécie de todos contra a Fretilin. Não contra o partido, os seus dirigentes ou as suas propostas políticas, mas contra este optimismo que, temem muitos, pode não ser exagerado.

A arrogância que alguns dos seus dirigentes mostraram, nomeadamente em algumas frases polémicas que a Fretilin se apressou a corrigir (como aquela em que asseguravam que após as eleições iriam "varrer as ruas de Timor-Leste"), levanta a possibilidade de, nas suas primeiras eleições, o país ficar quase numa situação de partido único. Os perigos que daí podem advir deixaram muita gente preocupada e empenhada em combater tal maioria. A começar por Xanana Gusmão.

Face a tudo isto, é perfeitamente normal que todos os olhos e expectativas se virem para a Fretilin e para o resultado que esta vai conseguir nas eleições para a Assembleia Legislativa. Os resultados só vão começar a ser anunciados a conta-gotas nos próximos dias e só lá para o dia 6, no mínimo, haverá resposta. Hoje, a festa é toda do povo, a quem o mundo não se cansa de dar os parabéns.



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