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  A igreja Católica timorense está preocupada com a probreza no território
 

"Pobreza está a levar mães a oferecer fihas à prostituição"
Por Luciano Alvarez, em Díli
Segunda-feira, 27 de Agosto de 2001

No dia em que Igreja de Timor apelou ao voto em todas as missas, outra preocupação marcou a homília de alguns párocos: "O mal da prostituição". Ainda que pouco visível em Díli, a Igreja Católica levanta mais uma vez a sua voz para denunciar que, "devido à pobreza", "algumas mães timorenses oferecem as suas filhas à prostituição".

A última missa dominical antes da eleição em Timor-Leste da próxima quinta-feira foi aproveitada pelo bispo Ximenes Belo, de Díli, e Basílio Araújo, de Baucau, para fazer um apelo ao voto, através de uma mensagem lida nas centenas de igrejas do país. Um "voto em consciência" não é, porém, a única preocupação da igreja católica de Timor nos dias que correm. Na homília de muitos padres, o tema foi a prostituição. Até porque, como revelou ao PÚBLICO o pároco Áureo Gusmão, que celebrou a missa no jardim da casa do Bispo Belo, que se encontra em viagem pelo interior, "há mães timorenses que, devido à pobreza, estão a dar as suas filhas à prostituição".

Hoje, como nos tempos da ocupação indonésia, a profunda fé dos timorenses faz do domingo um dia diferente de todos os outros. Homens e mulheres um pouco por todo Timor-Leste vestem as suas melhores roupas e, logo que o sol nasce, fazem-se aos caminhos que os levam às centenas de igrejas de todo o país.

No jardim da residência do bispo Belo, a primeira missa de domingo reza-se às sete da manhã. Ali, como em todas as igrejas, D. Ximenes, como todos os padres, aconselha, alerta e, se for caso disso, repreende os seus fiéis todos os domingos. Ontem, como antes do referendo de 1999, o bispo de Díli deslocou-se ao interior, mas deixou para ser lido em todas as igrejas um apelo aos timorenses, em conjunto com Basílio do Araújo, para que votem em consciência.

Outro apelo à consciência foi porém feito em algumas das homílias das igrejas. Um apelo para que evitem os "perigos" de um "mal" que está a "crescer em Timor", como disse o padre Áureo Gusmão: "O mal da prostituição."

"Há pessoas que falam muito dos direitos das mulheres e que defendem que a prostituição é um direito dessa pessoa que vai prostituir-se. Ninguém tem o direito de escolher o mal", disse o padre aos seus fiéis. Já depois da missa, Áureo Gusmão afirmou ao PÚBLICO não poder dizer quem são essas pessoas, mas sempre adiantou "que alguns deles são timorenses".

O pároco diz que "os timorenses estão preocupados com o rumo que as coisas estão a tomar" e que a Igreja está a reflectir "para ver como pode enfrentar este problema". "Já há aí casas que são muito frequentadas, fala-se de três casas. A prostituição já está aí."

O padre repete vezes sem conta a palavra "preocupação", até porque segundo ele, "atrás disso vêm muitas coisas". Que coisas? Áureo Gusmão responde de pronto: "Coisas como acusarem a Igreja de não permitir os preservativos." O que é verdade, mas de acordo com o padre, o mal não está aí. "O mal das doenças e outras coisas está na prostituição."

A "preocupação" com a questão da prostituição, que o Áureo Gusmão diz que já foi abordada em várias homílias, volta à boca do padre de Díli pela dimensão que diz que o "mal" está a ter: " Já não são só as (prostitutas) internacionais. Agora também já há meninas timorenses. Porque as mães timorenses oferecem as suas filhas para a prostituição por causa da pobreza. Mas a coisa começou de fora."

Tudo "coisas" que, de acordo com Áureo Gusmão, os fiéis vão "contando todos os dias" aos padres, mas que "a Igreja também vê". Por isso, ontem, o padre disse aos seus paroquianos que devem seguir a máxima de Cristo e "procurar sempre a porta estreita para entrar no Céu". "A porta do sacrifício e da penitência."


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