Desconfiança mina
diálogo de paz na Colômbia
Por Fernando Sousa
Quinta-feira, 17 de Janeiro de 2002
ONU pede aos beligerantes que se abstenham
de acções militares
Representantes do Governo e das Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) preparavam-se
ontem, na zona desmilitarizada, para a primeira reunião
pós-crise, de que depende o futuro do processo de paz.
Mas só com cinco dias para apresentar resultados e
num ambiente de desconfiança.
"As duas partes devem abster-se de quaisquer
provocações, nomeadamente no plano militar",
declarou na terça-feira ao fim do dia (noite em Lisboa)
o mediador das Nações Unidas, James LeMoyne,
antes de seguir para San Vicente del Caguan, na área
emprestada pelas autoridades às FARC para palco do
processo de paz e por enquanto sem confrontos.
Segunda-feira à noite, cedendo a um
ultimato do Presidente Andrés Pastrana, os rebeldes
anunciaram o regresso sem condições à
mesa das negociações, travando a marcha de 13
mil soldados contra a zona desmilitarizada e um adivinhado
banho de sangue.
"É preciso ter em conta que a confiança
desapareceu, não só entre o Governo e as FARC,
mas também com o povo colombiano", disse o diplomata,
que desde o fim-de-semana passou por todos os estados de alma
possíveis: desalento na segunda-feira, optimismo na
terça, e cautela ontem, à beira da mesa negocial.
Porém, tudo o que os próximos
cinco dias deverão trazer é uma agenda que satisfaça
as condições impostas pelo Presidente colombiano
para a retoma séria dos trabalhos de pacificação.
De contrário, as FARC terão de sair da área
que ocuparam no dia 7 de Janeiro de 1999 e será a guerra
aberta.
"Temos menos de uma semana para decidir
sobre a continuação ou não da zona; ainda
não atingimos o nosso objectivo", afirmou o Presidente.
"A prioridade é a trégua, quer dizer, um
cessar-fogo e o fim das hostilidades, e ainda o fim dos raptos,
dos ataques contra a população, as extorsões,
as 'pescas milagrosas', as destruições das infra-estruturas
civis, em resumo, a exclusão da população
civil do conflito."
O regresso do diálogo não impediu,
entretanto, novos confrontos. Rebeldes das FARC efectuaram
vários ataques a objectivos governamentais na noite
de segunda para terça, anunciaram em Bogotá
fontes militares.
Do conjunto das operações,
que coincidiram com o anúncio das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia de que retomariam
o diálogo de paz, resultaram quatro mortos, três
deles guerrilheiros, de acordo com as mesmas fontes.
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