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Palavra
de Cidadãos
Segunda-feira, 1 de Outubro de 2001
Patrícia Ferreira, 23 anos
enfermeira
Lisboa
Há uma atitude a ter em relação aos toxicodependentes:
não marginalizar. Não podem ser marginalizados por
serem vistos como o mal, mas também não têm
que ser totalmente desresponsabilizados por serem doentes. Ao mesmo
tempo, não podemos esquecer que os toxicodependentes não
são só as pessoas que se injectam. Há tanta
gente que é dependente de calmantes, por exemplo.
O cidadão que é pai ou mãe
deve conversar com os seus filhos, alertando-os para as questões
ligadas com a toxicodependência, a educação
sexual. Mas como as crianças passam quase o dia inteiro em
instituições de ensino, penso que devia haver acções
de formação periódicas sobre este tema, adaptadas
aos vários graus de ensino. No ensino secundário,
devem ser os próprios pais a exigir da escola a criação
de uma disciplina que trate especificamente destas matérias.
É complicado falar de soluções
na área da droga, mas alguma coisa tem que ser feita. Concordo,
por exemplo, com a criação das salas de chuto. Por
um lado, protege-se a sociedade, por outro trata-se o toxicodependente.
Apesar da distribuição dos "kits", continua
a haver partilha de seringas e todos os riscos de saúde que
isso traz. Funcionando as salas de chuto com pessoal de saúde,
podem-se evitar e tratar os seus problemas de saúde, que
são normalmente muitos. Muitas vezes atingem estados de desnutrição
graves, com processos infecciosos que, por vezes, até conduzem
a amputações.
Miguel Pais, 27 anos
professor de Filosofia e Psicologia
Lisboa
Como professor de jovens com idades entre os 15 e 20 anos, idade
onde muitas vezes iniciam uma relação com a toxicodependência,
não tenho nem a função nem a possibilidade
de definir o caminho desses jovens. De qualquer modo, parece-me
que um razoável número de jovens vive a liberdade
de modo pouco suportado e alienado ao imediato, ao momentâneo
e ao gratuito. A liberdade de escolha não se encontra suportada
por princípios veiculados outrora pela família, pela
escola e pela sociedade em geral.
O professor não pode substituir-se a
nada nem a ninguém, mas pode ajudar o aluno a construir a
sua autonomia, no sentido de edificar valores e princípios
suportados, de modo a situar-se conscientemente perante o drama
da droga, a identificar realidades que o envolvem, que o influenciam
e que os transformam O professor pode ajudar o aluno a assumir uma
posição crítica, válida, construtiva
e necessária para a criação de novos espaços
de vivência, de reflexão e de escolha.
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