Palavra de Cidadão
Quinta-feira, 27 de Setembro de 2001


Paula Quaresma, 25 anos
Animadora sócio-cultural
Ribeirinha - Faial - Açores

A relação dos cidadãos com o poder local só pode melhorar com uma aproximação muito directa e autêntica entre ambos os lados. Uma aproximação não só durante a campanha eleitoral, mas durante todo o tempo dos mandatos. Passa também por uma melhor informação sobre as formas de participação activa dos cidadãos e por uma maior informação sobre o próprio trabalho efectuado pelo poder local, desmistificando, assim, algumas ideias preconcebidas, mas nem sempre reais e justas sobre quem detém o poder de decisão.

É preciso criar uma relação de confiança, de disponibilidade, de responsabilidade e de abertura de ambas as partes, fazendo valer os valores, os direitos e os deveres e tendo sempre como objectivo o bem comum. É também preciso mais transparência. Havendo transparência há mais confiança.

Uma das formas de concretização destas ideias pode passar pelo apelo aos cidadãos para que tenham uma participação mais activa, para que participem nas assembleias de freguesia e estas sejam abertas. A criação de jornais do município ou da freguesia também pode ser uma forma de aproximação entre o poder local e os cidadãos.


Nuno Libânio, 26 anos
Licenciado em administração pública e autárquica
Pipa - Alenquer

A relação entre os cidadãos e o poder local tem de ser melhorada a partir dos órgãos de poder local. O cidadão enquanto utilizador dos serviços da administração local deve ser atendido de outra forma, com mais respeito. A imagem do poder local é muitas vezes a do funcionário público que atende num determinado serviço e essa imagem funciona como um espelho do poder local. Há necessidade de uma maior e melhor formação dos funcionários e essa formação deve partir de cima, das chefias, que têm funcionado muitas vezes como entrave.

Depois há outra questão - a da descredibilização. Hoje a descredibilização do poder central já se reflecte nas eleições para os órgãos autárquicos. Geralmente, nas eleições autárquicas, sobretudo nos meios mais pequenos, as pessoas votam num rosto e esquecem um bocado o partido, mas isso está a mudar. Há uma grande necessidade de credibilização política, que, no poder local, passa pela limitação dos mandatos. Os "dinossauros" actuam como se estivessem na própria casa e isso também afasta as pessoas.

Há ainda o factor disponibilidade. No poder local ainda são muito poucos os políticos profissionais e muitos os amadores; nas juntas de freguesia, que são o poder mais próximo dos cidadãos e dos problemas, vive-se ainda da "carolice". Aí os eleitos não têm tempo e muitas vezes também não têm conhecimento das possibilidades e dos programas ao seu dispor. Por isso acabam por fazer o mesmo de sempre, que raramente passa além do arranjo dos caminhos.

Do lado dos cidadãos, a participação é limitada. No fundo só têm voz na altura da eleição, pois a sua participação nos órgãos em que têm voz não tem qualquer carácter deliberativo. Além disso, os referendos locais são um processo demasiado burocrático. Estes dois factores também contribuem para a descredibilização do poder e para o afastamento dos cidadãos. Penso que, por um lado, não há espaço para o cidadão intervir, mas por outro lado o cidadão não procura mais espaço.

 

   

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