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Palavra
de Cidadão
Sexta-feira, 5 de Outubro de 2001
Maria da Conceição Lopes, 38 anos
secretária da associação ambientalista Quercus
São Pedro do Estoril, Cascais
Para Maria da Conceição
Lopes, o problema ambiental que mais afecta o cidadão no
dia-a-dia é o da mobilidade. "No fundo, é um
problema de ordenamento do território", afirma. Residente
em São Pedro do Estoril, Conceição Lopes perde
três horas por dia nos transportes públicos para ir
e vir do trabalho, no parque Monsanto, em Lisboa. Além disso,
o bairro do Calhau, onde está a sede da Quercus, está
praticamente isolado, servido por uma única carreira de autocarros,
que interrompe a circulação durante parte do dia.
"O direito à mobilidade não se garante com a
construção de auto-estradas", diz Conceição
Lopes. Se utilizasse o carro nas suas deslocações,
Conceição Lopes chegaria ao trabalho em 20 minutos.
Mas ela entende que não o deve fazer, por respeito ao ambiente.
"Custa-me imenso vir sozinha no carro, acho que não
está certo", justifica. Perante os problemas ambientais,
o cidadão tem uma atitude muito passiva, segundo Conceição
Lopes. "Em vez de refilarem à frente da televisão,
os cidadãos deveriam exigir aquilo a que têm direito",
afirma.
Manuel Pinheiro, 41 anos
engenheiro do ambiente
Linhó, Sintra
O engenheiro Manuel Pinheiro acredita
que, no dia-a-dia, há muitas coisas que o cidadão
pode fazer para melhorar o ambiente. Reduzir o consumo de água
e de energia, separar materiais recicláveis do lixo, comprar
produtos ecológicos são algumas sugestões que
ele próprio segue. Até na hora de comprar uma casa,
o cidadão pode fazer opções que impliquem economia
na utilização de recursos naturais - por exemplo,
tendo em conta a orientação do imóvel, de modo
a aproveitar melhor a energia do sol. Mas neste capítulo,
a acção individual é mais complicada, pois
o cidadão é ultrapassado pelo avanço incontrolado
de construções sem qualidade e ineficientes. "Temos
grandes desperdícios de energia, por causa da má orientação
e do mau isolamento das construções", afirma.
Neste e em outros domínios ambientais, Manuel Pinheiro reconhece
que a acção do Estado e dos agentes económicos
é importante. Mas em outros, o cidadão pode fazer
a diferença. "Temos a noção de que os
problemas ambientais devem ser resolvidos pelo Estado; as pessoas
acham que não podem fazer nada", lamenta Pinheiro, lembrando
quem muita gente acha que os problemas com o lixo devem ser resolvidos
pelas câmaras municipais, mas poucos se lembram de que são
os próprios cidadãos que enchem os caixotes em casa.
Manuel Pinheiro acha que ainda há muito a fazer para mobilizar
o cidadão a ter atitudes ambientalmente mais positivas, mas
admite, por experiência própria, que não é
fácil. "Nem sempre faço tudo aquilo que queria".
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