Palavra de Cidadão
Sábado, 8 de Setembro de 2001


Filipe Santos, 25 anos
arquitecto
Lisboa
Abordar a questão do alcoolismo actualmente é, sobretudo, denunciar o álcool como a droga de mais fácil acesso e de maior consumo por parte da população mais jovem, entre os 15 e os 25 anos. O facto de ser uma droga dita "socialmente aceite" faz com que poucas vezes estejamos atentos a um flagelo que aumenta de dia para dia, em bares, cafés e discotecas, mas também à porta das escolas, nas áreas de serviço das auto-estradas e demais locais onde a sua venda deveria ser controlada. Parece-me residir aí uma das possíveis soluções para a questão: no controlo da venda de bebidas alcoólicas. Vivemos uma época em que fomentamos a ilusão, até mesmo na diversão. E o álcool é o caminho mais fácil e muitas vezes mais barato para essa diversão ilusória. Olhemos, por exemplo, a moda recente dos bares de "shots" em que o álcool se bebe não por prazer e duma forma moderada, mas sim para que "provoque algo", para que nos altere. A solução não está nuns panfletos bonitos que se possam distribuir nas escolas a tentar prevenir uma coisa que, de certa forma, fomentamos. Está, sim, em dificultar o acesso à referida droga.


Nuno Saraiva, 28 anos
sociólogo
Caldas da Rainha
As bebidas alcoólicas são um produto agro-cultural por excelência. O ritual do consumo desses produtos de fermentações diversas perpetuou-se a pretexto de, por exemplo, chegar à euforia na ocasião de um festejo que rompe a circularidade do tempo social. Sempre para obter prazer, ou minimizar o desprazer. A tendência é da iniciação ao consumo fazer-se em idades baixas, devido às características dos jovens e das suas dinâmicas de grupo. Por isso, deve-se agir cedo para evitar dependências destrutivas do indivíduo e do seu sentido social. Uma acção que forme agentes futuros da desmistificação do rito do álcool. E o local indicado para o fazer é nas escolas, em disciplinas que promovam a construção de personalidades sem preconceitos e sem necessidade de fugir à realidade. Estar-se-ia assim, também, a incentivar-se gerações de pais a saber gerir a adolescência dos filhos, em vez de inopinadamente aceitar o seu adultescimento, em nome da perpetuação do rito. Concretamente, a estratégia ideal de prevenção do alcoolismo assenta numa educação humanizada e menos competitiva, em ambientes onde seja aliciante aprender e viver.


Nuno Canas, 25 anos
arqueólogo
Coimbra
Numa estratégia a longo prazo, penso que a única forma eficaz de combater este fenómeno que arrasta consigo graves problemas familiares e sociais passa pela tomada de medidas que previnam as situações de alcoolismo. Neste sentido, por um lado, considero positivo o facto de toda a publicidade referente a bebidas alcoólicas vir acompanhada de um apelo à responsabilidade do consumidor: demonstra uma real preocupação pelo problema e esse apelo é tão útil como aquele que diz fumar pode matar, impresso nas embalagens de tabaco. Mas isto só não basta. O trabalho de prevenção deve ser feito no sentido de uma mudança de mentalidades, por forma a desmistificar e compreender melhor algumas situações que provavelmente contribuem para o consumo desregrado do álcool. É, contudo, fundamental que se compreenda que não há uma única solução para um problema. Ou então, podemos sempre continuar a remediar.

 

   

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