O que vai estar na mesa de negociações
Por
Tiago Tibúrcio
Terça-feira, 29 de Junho de 2001
As negociações que os líderes
cipriotas gregos e turcos se comprometeram realizar nos próximos
meses começou num ambiente de relativo optimismo. Depois
de 28 anos de costas voltadas, Clerides e Denktash lançaram
em Dezembro último a primeira pedra do que poderá
ser a resolução do conflito, que desde 1974
levou à partição da ilha em dois.
Na mesa das negociações vão
estar, no entanto, questões muito complexas de resolver,
a mais difícil dos quais deverá ser a de saber
se haverá um único Chipre, unido, ou consagrar
o que se passa hoje na prática, dois países
diferentes, cada um com o seu Governo.
Federação ou confederação
Os cipriotas turcos querem uma confederação
de dois Estados independentes, cujas estruturas comuns teriam
poderes muito limitados. Este estatuto implicaria naturalmente
o reconhecimento oficial da soberania do Norte do Chipre,
estatuto só reconhecido pela Turquia.
Esta proposta é rejeitada pelos cipriotas
gregos, que defendem um Estado federal - isto é, um
só país -, "bi-comunal e bi-zonal".
Os desaparecidos
Em discussão também vai estar
o tema dos desaparecidos, uma das questões mais simbólicas
entre cipriotas turcos e gregos. Existem cerca de 2400 pessoas
das duas comunidades que desapareceram durante os confrontos
entre as duas comunidades nos anos 60 e 70, e cujo destino
é ainda hoje uma incógnita para a maior parte
dos familiares.
Refugiados e compensações
Particularmente espinhoso promete também
ser a discussão em torno do eventual regresso dos refugiados
cipriotas gregos às casas que deixaram no Norte, na
sequência da invasão turca, em 1974. É
que muitas destas habitações estão actualmente
ocupadas por cipriotas turcos, assim como por imigrantes oriundos
da Turquia.
Embora em menor número, existem também
cipriotas turcos que perderam os seus bens aquando da divisão
da ilha.
Estima-se que cerca de 160 mil cipriotas gregos
terão fugido para o Sul e 50 mil cipriotas turcos para
o Norte aquando da divisão da ilha.
Relativamente às duas comunidades coloca-se
a questão de saber se e como devem ser calculadas eventuais
indemnizações.
Os soldados turcos
Também a presença das tropas
turcas na ilha é causa de celeuma entre as duas partes.
O Exército turco está presente no Norte da ilha
desde 1974. Os cipriotas turcos querem que as tropas turcas
continuem, de forma a garantir a sua segurança.
Por seu lado, os cipriotas gregos dizem que
nenhum entendimento pode ser alcançado enquanto as
tropas turcas continuarem em solo cipriota.
Mea culpa
Em discussões passadas, o Norte do Chipre
tem exigido o reconhecimento das injustiças cometidas
pela comunidade grega contra os cipriotas turcos antes da
divisão da ilha.
Restrições à liberdade de movimento
Menos polémica, a questão
das restrições à livre circulação
do capital, pessoas e bens na ilha também será
objecto de debate. De acordo com analistas económicos
internacionais, as prováveis restrições
deverão ser autorizadas pela UE no caso de se concretizar
a adesão do Chipre, como se espera, em 2004.
|