À espera dos desaparecidos
Por Tiago Tibúrcio
Terça-feira, 29 de Junho de 2001
Uma das questões mais simbólicas
no contencioso entre cipriotas gregos e turcos é a
incógnita acerca do destino das cerca de 2400 pessoas
que desapareceram durante os confrontos entre as duas comunidades.
Do lado cipriota grego existem cerca de 1600
pessoas que são dadas como desaparecidas, na sequência
da invasão turca do Norte da ilha em 1974, em resposta
a um golpe de Estado patrocinado por Atenas.
Por seu turno, muitos cipriotas turcos continuam
a querer saber o que aconteceu às cerca de 800 pessoas,
na sua maioria civis, que desapareceram durante os confrontos
entre as duas comunidades nos anos 60 e 70. O líder
da República Turca do Norte do Chipre (RTNC), Rauf
Denktash, afirma que existem 803 cipriotas turcos desaparecidos,
muitos dos quais durante os confrontos de 1964.
Familiares dos desaparecidos de ambas as comunidades
acusam frequentemente os partidos de politizar a questão
e de não tratá-la como um assunto humanitário
que é. "Os políticos usam esta questão
como um instrumento para marcar pontos contra a outra parte,
para culpar o outro lado, para demonstrar quão mau
e cruel é o outro lado", dizia recentemente à
BBC online um cipriota turco, cujo pai desapareceu nos confrontos
dos anos 60.
Para muitos destes familiares, sejam cipriotas
turcos ou cipriotas gregos, o seu único desejo é
que sejam devolvidos os restos mortais dos seus parentes.
Em 1997, um acordo quanto a partilha de informação
e criação de um banco de DNA foi alcançado
com o patrocínio da ONU. A iniciativa acabou por não
dar grandes frutos, claudicando, como noutros casos, devido
aos avanços e recuos dos líderes políticos.
Para o Presidente da RTNC, ambos os lados deveriam
encarar que o provável destino dos desaparecidos foi
a morte e, por isso, "este assunto deveria ser encerrado
de uma vez por todas", defende Denktash.
A comunidade cipriota grega queixa-se de que
o lado turco não tem feito o suficiente para determinar
o que aconteceu aos desaparecidos do lado grego.
No Chipre correm rumores de que ainda
existem vários cipriotas gregos detidos em prisões
no solo da Turquia. Ancara rejeitou sempre estas acusações.
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