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  A divisão da ilha, com uma localização estratégica, na encruzilhada de três continentes, começou em 1974
 

Chipre prepara negociações históricas
Por Tiago Tibúrcio
Terça-feira, 29 de Junho de 2001

O mês de Janeiro marca o início de negociações históricas no Chipre, a ilha do Mediterrâneo dividida há 28 anos. De um lado, está a parte cipriota grega, reconhecida internacionalmente como um país legítimo. Do outro, a cipriota turca, que auto-proclamou a independência em 1983, sob o nome de República Turca do Norte do Chipre (RTNC), unicamente reconhecida pelo regime de Ancara. A adesão - prevista para breve -, do Chipre à União Europeia pode obrigar os líderes das duas comunidades a um entendimento.

A divisão da ilha, com uma localização estratégica, na encruzilhada de três continentes, começou em 1974. Neste ano, houve um golpe militar no Chipre, patrocinado por Atenas. Cinco dias depois, o Exército da Turquia interveio na ilha, ocupando a parte norte território (cerca de 38 por cento). Ancara justificou a medida dizendo que visava a protecção dos cipriotas turcos, que corriam o risco de um "genocídio". Para os cipriotas gregos, tratou-se de uma invasão do território do Chipre.

O período que se seguiu foi marcado pela ocupação do território, baixas humanas, deslocação de populações (cipriotas gregos para o Sul; cipriotas turcos para Norte) e pela destruição do património cultural.

Para a comunidade internacional (excepto a Turquia), a pequena ilha mediterrânica (com menos de 800 mil habitantes) é representada apenas pelas autoridades da República de Chipre. No entanto, o que acontece na prática é que a RTNC é governada pelos seus próprios órgãos, eleitos pelos cipriotas turcos.

Desde 1974 que a República do Chipre e a RTNC estão separadas por uma "linha verde", uma zona-tampão patrulhada por tropas da ONU.

De costas voltadas desde então, a perspectiva de adesão da República do Chipre à União Europeia (UE) veio agitar as relativamente calmas águas do "problema cipriota". Com a excepção do ano de 1996, em que dois manifestantes morreram na sequência de violentos confrontos, a crise cipriota não tem sido marcada pela violência. Na verdade, não há praticamente contacto entre as duas comunidades. O movimento de pessoas, bens e serviços entre as duas partes da ilha é quase inexistente.

Depois de anos de tentativas diplomáticas por parte das Nações Unidas, as negociações com a UE - que fará os possíveis para evitar ter um país dividido no seu seio - surgem como um precioso incentivo para resolver este longo contencioso.

Em Dezembro passado, foi anunciado o relançamento de negociações directas entre as duas comunidades, interrompidas desde 1997. A partir do dia 21 de Janeiro, Glafcos Clerides e Rauf Denktash vão encontrar-se três vezes por semana (segundas, quartas e sextas-feiras) para procurarem pôr termo à partição da ilha. Pela primeira vez, nenhum dos líderes impôs quaisquer condições para se sentar à mesa de negociações, segundo anunciou o enviado especial da ONU para Chipre, Alvaro de Soto.

Mas os líderes da comunidade cipriota grega e turca terão muito trabalho pela frente. Na mesa de negociações vão estar complexas questões como a da escolha entre um Estado federal (proposta cipriota grega e da ONU) ou uma confederação de dois Estados independentes. E o sucesso das negociações vai depender das cedências que os dois veteranos líderes estiverem dispostos a fazer.

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