DR
 
  Ariane será a jovem que vai conseguir conduzir a família de "O Quarto do Filho" para a saída do desespero
 
   
  "Under the Moonlight" explora as dúvidas de Seyyed Hassan, um jovem estudante de teologia, quase a tornar-se "mollah"

"Under the Moonlight" arrecada o Galardão da Semana da Crítica
Nanni Moretti conquista Prémio Fipresci
Marta Fernandes
Sábado, 19 de Maio de 2001


Cannes está a um dia do fim e alguns prémios começam já a ser conhecidos. Moretti, um dos mais sérios candidatos a vencer este ano a Palma de Ouro, já conquistou o prémio Fipresci e "Under de moonlight", do iraniano Reza Mir-Karimi, venceu o prémio da 40ª edição da Semana da Crítica do Festival de Cannes, a mais antiga secção paralela do certame francês.

"O Quarto do Filho", de Nanni Moretti, um dos sérios candidatos a levar este ano para casa a Palma de Ouro, conquistou hoje o Prémio Fipresci da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica, no Festival de Cannes. O filme, o último do realizador italiano, tinha já ganho o prémio "David di Donatello", os galardões italianos equivalentes aos Óscares americanos, e tem vindo a conquistar aplausos do público desde que estreou.

Ao contrário dos outros filmes de Moretti ("Querido Diário", "Abril" ou "Ecce Bombo"), "O Quarto do Filho" não decorre em Roma, não fala da esquerda, nem de Itália, nem dos conflitos geracionais. O filme é a história de um pai, Giovanni - interpretado pelo próprio Moretti -; de Paola, a sua mulher; e dos dois filhos, estudantes e adolescentes.

A família vive serenamente numa casa confortável, sem conflitos. Os pais ajudam os filhos nos trabalhos de casa e riem às escondidas, quando escutam sorrateiramente as conversas sobre "os namoros e os charros". Mas toda esta calma existência se altera, quando um dos filhos morre acidentalmente, vítima de embolia.

O pai e a mãe não conseguem expurgar-se desse sofrimento. Até, que um dia, chega uma carta de amor para o filho, de uma namorada que não soube da sua morte. Será Ariane que vai conduzir a família para a saída do desespero. É de notar a carga mitológica do nome da adolescente, como se fosse ela a dar aos pais o novelo de fio que indica a saída do labirinto e do sofrimento.

"É um filme sobre a dor da morte que divide a família, sobre as tragédias que separam as pessoas que se amam, contra a retórica comum dos dramas que unem", explicou Nanni Moretti. "Também eu estou imerso na dor. Passei por histórias pessoais, tive os meus mortos. E esta era uma dor que gostaria de contar, a minha obsessão pelo irreparável, pela impossibilidade de voltar atrás, através da vida de um psicanalista".

Os críticos italianos uniram-se no elogio ao "O Quarto do Filho", quando o filme estreou em Itália. "Eis, mais uma vez, Moretti anticonformista que procura fazer chorar quando os outros procuram fazer rir", escreve o "La Stampa". "Obra-prima de Moretti", considera o "Il Tempo". "Um discurso sobre a fragilidade das relações familiares. A ausência do social esconde, na realidade, um discurso político: fechado em si próprio, não existe possibilidade de erradicar a dor", escreve Natalia Aspesi no "La Reppublica".

Laura Morante, a actriz que desempenhou o papel de mãe, no filme de Moretti, foi também distinguida com o "David" para melhor interpretação feminina.

"Under the Moonlight" ganha o Grande Prémio da Semana da Crítica

O filme "Under the Moonlight", do cineasta iraniano Reza Mir-Karimi obteve ontem em Cannes o Grande Prémio da 40ª edição Semana da Crítica, a mais antiga secção paralela do certame.

"Under the Moonlight" é a segunda longa-metragem do realizador iraniano e explora as dúvidas de Seyyed Hassan, um jovem estudante de teologia, quase a tornar-se "mollah", que vê a sua vida transformar-se no dia em que um rapaz de rua lhe rouba o traje que tinha comprado para a cerimónia. Seyyed lança-se em sua perseguição e vai descobrir todo um mundo que não imaginava que existisse - um mundo de rejeitados, de excluídos, que vivem debaixo de um viaduto que atravessa a cidade.

Os excluídos - um músico, um escritor e uma prostituta - acolhem este jovem "Cândido" e começam a tratá-lo quase como irmão. É aí que o futuro "mollah" começa a questionar-se e decide vender os seus livros de teologia para dar a estes excluídos um pouco de calor, um pouco de sonho.

A Semana da Crítica foi fundada em 1962 pelo Sindicato Francês dos Críticos de Cinema e nela são apresentadas primeiras e segundas obras. Apesar de ser a menos meaditizada do certame, já serviu de trapolim para inúmeros realizadores, tais como o italiano Bernardo Bertolucci, os franceses Leos Carax e Arnaud Desplechin e o português António da Cunha Telles, que aí estreou mundialmente "O Cerco", em 1970.

Copyright 2000 Público S.A. / Publico.pt
Email Publico.pt: Direcção Editorial - Webmaster - Publicidade