O 1º
número dos "Cahiers du Cinéma"
Uma história verdadeira
Marta Fernandes
Segunda-feira, 14 de Maio de 2001
Foi na manhã de um de Abril de 1951, no
número 146 dos Campos Elíseos, em Paris. O ritmo era frenético,
reinava uma ambiência febril. O primeiro número de uma revista
amarela acabava de sair do prelo. Num dos escritórios, com
vista sobre a avenida, três homens folheiam a nova revista,
com a excitação e o nervosismo de um pai que pega ao colo
o primeiro filho. Acabaram de nascer os "Cahiers du Cinéma",
filhos dos críticos Jacques Doniol-Valcroze, Lo Duca e Léonide
Keigel. Mais dois nomes pairam ainda sobre esta criança: o
crítico-mestre André Bazin e Jean Georges Auriol (o pai da
"Révue du Cinéma) - que, mais do que uma inspiração, foi o
próprio motivo da criação dos cadernos.
A morte de Auriol e o consequente fim
da "Revue du Cinéma" tinham deixado um vazio que era necessário
preencher. Era preciso continuar a tentar responder à pergunta:
"O que é o cinema?" Foi precisamente para responder a esse
desafio que os Cadernos foram criados. O editorial do primeiro
número é um manifesto contra o cinema medíocre e a passividade
do público, que os "Cahiers" querem combater. Falar de cinema,
mas sobretudo falar do Cinema. Elevá-lo a uma arte. Dois artigos,
assinados por Bazin e Doniol-Valcroze, ocupam as primeiras
páginas do primeiro número. A seguir vêm críticas a "Le Jounal
d'un Curé de Campagne", de Robert Bresson; "Give us the Day",
de Edward Dmytry; "Sunset Boulevard", de Billy Wilder; "Milagre
em Milão", de Vittorio de Sica [que é também alvo de uma homenagem
este ano em Cannes]; e "Onze Fioretti de François d'Assise",
de Roberto Rossellini. A revista tem 68 páginas e inclui uma
vintena de fotografias a preto e branco.
Na capa, emoldurada a amarelo, está uma
fotografia do filme "Sunset Boulevard", de Billy Wilder. No
centro, uma antiga estrela do cinema mudo, Gloria Swanson,
de braço no ar. O gesto parece inaugurar o movimento no ecrá,
o movimento na imagem, parece dizer "o espectáculo vai começar".
Até o nome da actriz retratada naquela capa foi um bom aúgurio:
os 50 anos dos cadernos seriam povoados de glórias.
"Cahiers du Cinéma" - Ficha Técnica
Criação: 1
de Abril de 1951
Periodicidade: Mensal
Outras actividades editoriais: Publicação
de livros e números especiais
Editora: Éditions de l'Étoile
Tiragem: 48.000 exemplares
Número médio de páginas: 84
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