Diário da guerra - dia 16

A agência de notícias iraquiana disse que duas mulheres tinham levado a cabo uma “operação de martírio”, ou seja um atentado suicida, contra as forces dos Estados Unidos a noroeste de Bagdad, referindo-se aparentemente a uma explosão que tinha causado a morte de três soldados norte-americanos, de uma mulher grávida e do condutor do veículo.

Imagens do Presidente Saddam Hussein numa área bombardeada na capital do Iraque, Bagdad, foram ontem divulgadas pela televisão iraquiana. Saddam quebrou o seu hábito de evitar multidões e apareceu, de uniforme militar, rodeado de iraquianos, que o aclamavam e lhe beijavam a mão.

O ministro iraquiano da Informação prometeu “ataques não convencionais” para a noite de ontem. O ministro disse, além disso, que as forças dos EUA no aeroporto estavam “completamente encurraladas”.

O exército dos Estados Unidos anunciou a rendição de cerca de 2500 membros da força de elite iraquiana Guarda Republicana na noite de quinta para sexta-feira.

A estação de televisão Al-Jazira, do Qatar, recomeçou ontem a cobertura da guerra no Iraque.

Morreu o jornalista norte-americano Michael Kelly, enviado especial do “Athlantic Monthly” e colunista do “Washington Post”. Foi a primeira jornalista. Mas os poucos civis que foram encontrando no caminho acenavam-lhes e não mostravam sinais de hostilidade.

Continua, entretanto, a não haver sinais das divisões da Guarda Republicana que, supostamente, estariam a defender Bagdad. Os marines anunciaram ontem que 2500 soldados desta força de elite de Saddam Hussein se renderam, entre as cidades de Kut e de Bagdad, na sequência de confrontos com as tropas americanas.

Estratégia semelhante à de Bassorá
O controlo do aeroporto de Bagdad é uma vitória estratégica de grande importância para os aliados, concordavam ontem todos os analistas militares. Não é, provável, no entanto, que as tropas americanas lancem agora um assalto à cidade. Deverão antes garantir o controlo das entradas da capital, enquanto tentam desgastar a resistência no seu interior – numa estratégia semelhante à que os britânicos estão a usar na cidade xiita de Bassorá, no Sul.

Paul Adams, o especialista da BBC em questões de Defesa, explica que, em primeiro lugar, as forças americanas vão tentar garantir que todo o edifício do aeroporto está seguro, que não há armadilhas nem bolsas de resistência iraquianas. “Controlamos o aeroporto”, confirmou ontem o coronel John Peabody da 3ª Divisão de Infantaria. “É uma área grande, com muitos edifícios, que precisa de ser ‘limpa’, mas é nossa”.

O aeroporto fica a 20 quilómetros para sudoeste da cidade, à qual está ligado por uma autoestrada com seis faixas de rodagem. A pista principal é, ainda segundo a BBC, suficientemente grande para permitir a aterragem de grandes aviões militares e civis – o que resolverá os problemas de abastecimento das tropas americanas na linha da frente.

Analistas militares consideram que o aeroporto é ideal para os EUA estabelecerem o seu centro de comando. Fontes americanas disseram também que tinha sido descoberto um sistema de túneis debaixo do aeroporto, que se estendia até ao rio Tigre. Toby Dodge, um especialista em questões iraquianas, admite que se trate de “uma espécie de complexo de ‘bunkers’” construído debaixo do aeroporto, que data de 1985 – uma altura em que os líderes iraquianos viajavam para o estrangeiro com regularidade.