Diário da guerra - dia 10

O centro e a periferia de Bagdad voltaram a ser intensamente bombardeados em vagas que se sucederam durante o dia e a noite. Na contabilidade do ataque que na véspera atingiu um mercado da capital, o regime fala em 68 mortos; fontes hospitalares referem 62. O Comando Central americano diz que está a investigar o sucedido. Washington e Londres sugerem que a explosão pode ter sido causada por um míssil iraquiano.

No terreno, fontes militares americanas admitem que se está a proceder a uma “pausa operacional” no avanço em direcção a Bagdad. Oficialmente, trata-se de uma “reorganização do campo de batalha”, onde a linha mais avançada continua situada a cerca de 80 quilómetros da capital.

No Sul mantêm-se os cercos a Bassorá, Nasiriyah, Najaf e Kerbala, com alguns reposicionamentos de tropas. Um táxi que se deteve perto de um “checkpoint” na auto-estrada a norte de Najaf fez-se explodir, matando quatro soldados americanos. O primeiro atentado suicida cometido pelas tropas iraquianas não será o último, prometeu o vice-presidente Taha Yassin Ramadan. “Isto é apenas o começo. Iremos ouvir mais notícias agradáveis.”

Combatentes curdos, aliados dos EUA, consolidaram mais posições a leste de Kirkuk, cidade do Norte, pouco abaixo da linha de demarcação que separa o território controlado por Saddam Hussein do Curdistão. Entre Sulaymaniayh, a principal cidade desta região semiautónoma, e a fronteira iraniana, milhares de curdos já terão tomado grande parte dos bastiões do Ansar al-Islam, grupo de militantes islamistas acusado por Washington de ligações à Al-Qaeda.

Entre sexta-feira e sábado, o Iraque provou que ainda constitui uma ameaça para o emirado que invadiu em 1990. Pela primeira vez na sua história, a capital do Kuwait foi alvo de um ataque com um míssil “Silkworm” que provocou dois feridos ligeiros. O míssil caiu no mar, mas tão perto da costa que o impacto da explosão se sentiu num raio de 300 metros e provocou prejuízos num dos maiores centros comerciais do pequeno país.

Segundo noticiou ontem o “New York Times”, citando membros de agências de segurança americanas, unidades da CIA e das forças especiais estão a operar no interior de várias cidades iraquianas, identificando e assassinando membros do círculo próximo de Saddam.

Centenas de milhares de pessoas em todo o mundo voltaram a sair às ruas para se manifestaram contra a “Operação Liberdade Iraquiana”. Importantes mobilizações registaram-se na Europa, no Médio Oriente e na Ásia.

“Enfrentamos agora as unidades mais determinadas do exército do ditador. A luta é feroz e não conhecemos a duração da batalha, mesmo que conheçamos o seu objectivo. O regime iraquiano será desarmado e expulso do poder, o Iraque será livre”, prometeu no seu discurso radiofónico semanal o Presidente norte-americano, George W. Bush.