Os Estados Unidos usaram, na sexta-feira
à noite, pela primeira vez desde 1998,
uma das suas mais poderosas armas aéreas
- o bombardeiro B-1B - contra posições
iraquianas na zona de exclusão aérea,
no Sul. Do ataque, que ocorreu 370 quilómetros
a Leste de Bagdad, resultaram destruídos
dois radares móveis.
A operação foi a mais recente
de várias do género, 34 desde
Janeiro, mas a primeira em que foi usado um
recurso tão poderoso. Analistas citados
pela BBC "online" têm poucas
dúvidas: os americanos estão
mesmo decididos a ir para a guerra.
O B-1B Lancer, um bombardeiro estratégico
multiusos de longo raio de acção,
já foi usado na guerra do Golfo de
1991. As armas prontas para o conflito que
se anuncia não são em geral
surpresa, entre aviões, tanques e bombas.
Notícia é o grau de sofisticação
introduzido na maior parte delas, tão
grande que um perito militar americano dizia
há duas semanas à "Newsweek"
que acabou a era das guerras "mecânicas".
O mais temido helicóptero do mundo,
o Apache, vai voltar, mais mortífero.
Agora, renomeado AH-64D Apache Longbow, tem
um cilindro sinistro sobre o rotor, um sistema
chamado "Longbow", capaz de descobrir
e "apanhar", um a um, 16 carros
de combate inimigos, cerca de 700, do tipo
T-62 e T-72, portanto relativamente modernos,
e de os destruir de imediato.
Com o terror da cavalaria iraquiana regressam
vários "Efes" - o F-14, mais
conhecido por Tomcat, o F-15E, um avião
de superioridade aérea, o F-16, de
ataque ao solo, o F/A-18 Hornet, tanto de
combate como de bombardeamento, todos com
melhoramentos tecnológicos de ponta
capazes de tornar mais mortífero o
paiol de "rockets" e todo o tipo
de mísseis, ar-ar, ar-terra, que levam
presos às asas.
Para recolher e a processar informações
para as tropas em terra, os americanos vão
ter três tipos de aviões: o Dragon
Eye, o Predator e o Shadow, os dois últimos
do tipo UAV ("Unmanned Aerial Vehicles").
O Shadow é igualmente uma novidade.
Destruição praticamente
infalível
Entre as armas ditas "inteligentes",
mísseis e bombas, os destaques vão
para o "Storm Shadow" e o JASSM,
mísseis respectivamente de cruzeiro
e ar-terra, a JDAM, que é menos uma
bomba do que um "kit" de orientação,
e a WCMD, um cilindro cheio de pequenas bombinhas
- normalmente "cluster bombs" do
tipo BLU-114/B, feitas para inutilizar instalações
eléctricas, ou CBU-97, antitanque,
guiadas por infravermelhos. Um grupinho de
quatro projécteis tão exóticos
como devastadores - a BROACH, que fura um
"bunker" e explode lá dentro,
a E-Bomb, que neutraliza todos os sistemas
inimigos de detecção, e a HTI
J-1000, uma arma termo-corrosiva, incendiária
- fica de fora.
De todas, os especialistas vêm elegendo
a JDAM, um sistema ultramoderno que salvou
da sucata engenhos "burros", quer
dizer incapazes de chegarem sozinhos ao alvo.
A JDAM - "Joint Direct Attack Munition",
ou Munição Comum para Ataque
Directo, não é propriamente
uma bomba mas um "kit" que transforma
projécteis outrora cegos em instrumentos
de destruição praticamente infalíveis.
Desenvolvida a partir de 1993, por encomenda
conjunta da Força Aérea e da
Marinha, foi a primeira arma guiada por GPS
("Global Position System") a entrar
ao serviço em 1997.
Constituído por umas aletas de cauda,
um sistema de orientação e um
computador, mais antenas, mais cabos, tudo
em ponto muito pequeno, o dispositivo torna
bombas convencionais em sofisticados engenhos
que, depois de lançados, são
guiados até ao alvo por satélite.
Os projécteis mais comuns são
os GBUs, a designação que tomaram
velhos artefactos rejuvenescidos.
Outra notícia é o engenho que
os americanos acabam de testar na Florida,
a MOAB, acrónimo de "Massive Ordnance
Air Burst" (Munição de
Explosão Atmosférica Maciça),
a mais poderosa bomba convencional construída
até hoje. É desmesurada, pesa
um elefante e meio, chega num C-130 e tem
um poder de destruição difícil
de descrever (ver caixa).
No alvo
Das bombas que não matam, os especialistas
têm sublinhado a "E-Bomb"
- o "E" quer dizer electrónica.
É uma arma com um alto poder de microondas
que explode no ar e cria um campo electromagnético
que anuvia todos os sistemas eléctricos
inimigos, dos radares às máquinas
de lavar. É das mais cegas e impiedosas
do arsenal americano.
Depois de deflagrar, emite uma força
de 2 mil milhões de watts (um microondas
doméstico não vai em regra a
mais de 800) e envolve frequências entre
os 4 e os 20 GHz. Uma só unidade de
duas toneladas pode desligar tudo numa área
de 130 mil metros quadrados.
Antes da guerra do Golfo de 1991, acreditava-se
que seis bombas "burras", praticamente
a carga total de um caça comum, eram
necessárias para destruir um determinado
alvo. Na Operação Tempestade
no Deserto, os americanos lançavam
entre 20 e 24 caças F-16, aviões
de ataque ao solo, para aniquilar um objectivo,
por exemplo uma base aérea inimiga,
composta por vários hangares, atingindo-o
em várias pontos. Com as ultramodernas
armas de precisão são necessários
apenas dois a quatro jactos.
Só 6 por cento de toda a artilharia
lançada durante a guerra de há
12 anos era dotada de navegação
de precisão, como as bombas guiadas
por "laser", mísseis orientados
por alvos televisionados e mísseis
de cruzeiro com orientação inercial,
o mais sofisticado que havia. O GPS dava então
os seus primeiros passos mas apenas na área
da navegação, sem qualquer papel
da orientação de mísseis.
Finalmente, em terra, o Abrams, o carro de
combate ponta-de-lança da investida
de 1991, vai reaparecer com mais acessórios.
A última versão do modelo M1A2
é uma máquina tão cheia
de recursos tecnológicos como cara
- o seu custo ronda os 4,3 milhões
de dólares a unidade.
O blindado é uma caixa de apetrechos
de última geração, como
o TIS ("Thermal Imaging Sistem"),
um sistema de visão três vezes
maior e dez vezes mais pormenorizado do que
o clássico, que detecta e mostra num
monitor onde e a que distância está
o alvo. Ou o GPS-LOS ("Gunner?s Primary
Sight - Line Sight"), um invento ultracerteiro
que informa o artilheiro para onde deve apontar
o poderoso canhão de 120 milímetros
- que, entre vários tipos de granadas,
dispara uma de urânio empobrecido.
Um especialista norte-americano, o general
Robert Scales, comparava há dias na
"Newsweek" a guerra de 1991 com
a que está aí à frente
afirmando que os meios empregues nesta terão
pouco a ver com aquela. "A guerra do
Golfo I foi a última das guerras da
idade da mecânica", disse.