Colecção Privada
O quadro da semana - "Mona Lisa com 12 anos"

"Não pinto mulheres gordas", dizia Botero. A autora do livro explica que em Botero todos os objectos são "gordos", porque o pintor utiliza "a transformação ou deformação para tornar a realidade em arte"

O pintor colombiano Fernando Botero (n. 1932) chegou ao México em 1957 (vindo da Europa onde estudara os pintores antigos, "viajando" pelo Prado e pelo Louvre), no mesmo ano em que morria um dos maiores pintores mexicanos, Diego Rivera. Mera coincidência? A verdade é que Botero marcará a pintura latino-americana na segunda metade do séc. XX, como Rivera o fizera na primeira.

Não seguiam, contudo, a mesma "linha" - Rivera, revolucionário; Botero, clássico. Disse o colombiano: "Uma personalidade como Rivera era sempre da maior importância. Mostrou-nos a nós, jovens pintores centro-americanos, a possibilidade de criar uma arte que não precisava de ser colonizada pela Europa. Sentia-me atraído pelo carácter do mestiço, a mistura das culturas indígenas e espanhola" (in "Botero", de Mariana Hanstein, edição Taschen/PÚBLICO).

Foi essa fusão entre o indígena e o europeu que Botero procurou sempre. Começou a pintar paráfrases "de pinturas famosas expostas em museus europeus", escreve Hanstein. Foi no final dos anos 50 que executou mais de 10 versões de "Criança de Vallecas" de Velázquez, versões do quadro "Quarto dos Noivos", de Mantegna, e a série de "Mona Lisa". E foi com o quadro "Mona Lisa com 12 anos" que, em 1959, representou a Colômbia na Bienal de São Paulo.

Há uma razão para esta obra. "Estes temas são importantes para mim à medida que se tornam populares e mais ou menos pertencentes a todos. Só então posso fazer algo diferente com eles. Por vezes desejo apenas compreender uma pintura de forma mais profunda e completa, a sua técnica e o espírito que a conduz", explicou um dia o pintor. "Mona Lisa com 12 anos" foi exposto em 1963 no MoMA em Nova Iorque, como "paralelo humorístico" da exposição Da Vinci no Metropolitan (Botero já vivia em Nova Iorque). Alfred Barr, director do MoMA, tinha comprado, nesse ano, esta pintura para o seu acervo - a única figurativa, numa época em que o expressionismo abstracto estava no auge e a pop art dava os primeiros passos.

Neste quadro, Mona Lisa aparece gigantesca e disforme, figura, aliás, típica das obras de Botero, que é conhecido pelo pintor das "mulheres gordas". Mas Botero não gostava desse rótulo. "Não pinto mulheres gordas", dizia. "Botero é um pintor figurativo, mas não realista. As suas imagens são dirigidas pela realidade, mas não a transmitem. Tudo nas suas imagens é volumoso; a banana, a lâmpada, a palmeira, os animais e, claro, os homens e as mulheres. Botero não se preocupa em pintar coisas especiais (...), mas sim em utilizar a transformação ou deformação para tornar a realidade em arte", explica Hanstein, no livro.

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