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"América Proibida", de Tony Kaye
Por VASCO T. MENEZES

Desde que o pai, bombeiro, morreu ao combater um incêndio num bairro degradado, a existência de Derek Vinyard (Edward Norton) passou a ser comandada pelo ódio. A dor da perda foi substituída pela intensidade da raiva e o ex-aluno brilhante do liceu deu lugar ao líder implacável de um movimento neonazi.

Seduzido pelas ideias de Cameron Alexander (Stacy Keach), um conhecido defensor da supremacia branca, Derek dirige a sua fúria contra todos os que lhe são diferentes, das minorias étnicas aos emigrantes. Ao comando do seu grupo de arruaceiros, promove acções de destruição no bairro de Los Angeles onde vive, Venice Beach, ao mesmo tempo que tenta travar a crescente preponderância de "gangs" (na sua maioria negros) vindos de outros pontos da cidade.

Uma noite, o ataque a dois negros que lhe assaltavam o carro termina em homicídio e tem início uma nova viragem na vida de Derek. Condenado à prisão, descobre o logro da ideologia a que se dedicou e, três anos depois, sai em liberdade como um homem novo. Disposto a quebrar todos os laços com o passado, Derek é confrontado com a situação precária da família e encontra o irmão mais novo, Danny (Edward Furlong), que sempre o idolatrou, embrenhado no mundo de violência do qual se quer afastar...

Depois de há algum tempo já ter passado fugazmente pela série Y - como um dos membros do retrato de família traçado por Woody Allen em "Toda a Gente Diz que Te Amo" (1996) -, Norton regressa em força à colecção de DVD do PÚBLICO. Com um filme que ajudou a desfazer dúvidas que pudessem ainda persistir e o impôs em definitivo como uma das presenças mais fascinantes do actual cinema americano.

Longa-metragem de estreia de Tony Kaye, menino-prodígio da publicidade, "América Proibida" (1998) é uma obra envolta em polémica. Não só pelas desavenças ocorridas entre os produtores e o realizador (que culminaram no afastamento de Kaye da fase final de montagem), mas também pelo olhar controverso que é lançado sobre um tema delicado: a propagação do nazismo na América contemporânea.

Não evitando contrapor ao horror do ideário nazi o poder sedutor desse mesmo imaginário, o filme é acima de tudo a história da desagregação de uma família à deriva. E da relação entre dois irmãos, defendidos de forma admirável por dois actores em estado de graça: Norton (que recebeu uma nomeação para o Óscar de melhor actor) e Furlong.